Mais da metade da população brasileira tem baixa conectividade significativa, mostra CGI.br
A maior parte da população brasileira com acesso à internet utiliza a rede em condições insatisfatórias de conectividade, mostra um estudo lançado nesta terça-feira, 16, pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), braço executivo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Com base em indicadores de conectividade significativa, o relatório aponta que 57% dos usuários de internet com 10 anos ou mais têm um acesso de baixa qualidade à rede.
O estudo “Conectividade Significativa: propostas para medição e o retrato da população no Brasil” trabalha com nove variáveis (custo da conexão domiciliar; plano de celular; dispositivos per capita; computador no domicílio; uso diversificado de dispositivos; tipo de conexão domiciliar; velocidade da conexão domiciliar; frequência de uso da internet; e locais de uso diversificado). A partir desses indicadores, os usuários recebem notas (score) de 0 (ausência de todas as características aferidas) a 9 (presença de todas).
Segundo o levantamento, um terço dos usuários de internet no País (33%) tem uma nota de até 2 pontos, o que índica níveis baixíssimos de conectividade significativa. O grupo com score 3 e 4 representa 24% da amostra. Desse modo, somando os dois grupos, mais da metade dos brasileiros (57%) estão em situação de baixa conectividade.
O estudo ainda aponta que apenas 22% das pessoas com acesso à rede têm condições de fazer uso da internet com qualidade (notas de 7 a 9). Outros 20% ficam em uma zona intermediária (scores 5 e 6).
Os indicadores analisados foram agrupados em quatro dimensões (acessibilidade financeira, acesso a equipamentos, qualidade da conexão e ambiente de uso). Os que apresentaram pior desempenho foram as variáveis relacionadas às condições financeiras da população.
“Considerar o nível de conectividade de um país pela quantidade de usuários de internet entre seus habitantes não é mais suficiente”, afirma Alexandre Barbosa, gerente do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br|NIC.br).
Grupos populacionais
Em linhas gerais, o relatório indica que as piores condições de conectividade significativa estão concentradas nos grupos populacionais historicamente excluídos. Por exemplo, as regiões Norte e Nordeste têm as piores notas, com apenas 11% e 10% dos habitantes, respectivamente, na faixa de 7 a 9 pontos. Além disso, quase a metade das populações dessas regiões (44% no Norte e 48% no Nordeste) fica na parte mais baixa da escala (até 2 pontos).
O Sul (27%) e o Sudeste (31%), por outro lado, são os destaques positivos, sendo as únicas regiões em que a proporção de habitantes com melhores condições de conectividade supera o grupo com notas inferiores.
O estudo também mostra que a pior faixa da escala é mais presente em municípios com até 50 mil habitantes (44%), com a proporção caindo para 24% em cidades com mais de 500 mil pessoas. As piores condições de conectividade significativa (até 2 pontos) também são mais frequentes na zona rural (54%) do que nas áreas urbanas (30%).
Por faixa etária, os idosos formam o grupo que mais apresenta (61%) scores baixos de conectividade significativa – quase o dobro da população geral (33%).
Em geral, na faixa mais alta da escala (7 a 9 pontos), a proporção de homens (28%) supera a de mulheres (17%). Além disso, no recorte por autodeclaração de cor ou raça, 32% das pessoas brancas aparecem com notas elevadas de conectividade significativa, fatia que cai para 18% entre pretos e pardos.
A pesquisa ainda mostra que o grau de escolaridade tem relação com o nível de qualidade do acesso à internet. Entre os brasileiros com Ensino Superior, 59% ficam com os maiores scores do levantamento, enquanto apenas 7% aparecem com pontuação mais baixa. No caso das pessoas que possuem até o Ensino Fundamental I, a maioria (68%) está na pior faixa de classificação, com apenas 3% na zona mais elevada.
No que diz respeito aos estratos sociais, nota-se, também, que a ampla maioria dos brasileiros na classe A (83%) está na melhor faixa de pontuação. Na classe DE, o cenário se inverte, com 64% ocupando a faixa mais baixa da escala.
Tendência positiva
Apesar dos desafios de conectividade significativa no País, o estudo aponta que houve uma melhora gradativa ao longo dos anos. Em retrospectiva, o relatório sugere que, em 2017, 48% da população tinham score entre 0 e 2 e apenas 10% estavam na faixa de 7 a 9 pontos. A distância, então de 38 pontos percentuais (p.p.), vem caindo com o passar dos anos.
Em 2019, a diferença entre a pior (até 2 pontos) e a melhor faixa (7 a 9 pontos) diminuiu para 29 p.p., reduziu para 22 p.p. em 2021 e caiu novamente para 11 p.p. em 2023.
“Esse quadro sugere uma tendência positiva, mas, ainda que tenha sido detectada uma melhora progressiva, é preciso celeridade para reduzir as disparidades de conectividade no Brasil, que são reflexo direto das desigualdades que marcam a estrutura social do País”, pontua Graziela Castello, coordenadora de estudos setoriais no Cetic.br e responsável pela pesquisa.