ISPs precisam ir além da expansão da fibra e inovar

Há consenso de que os provedores não podem se contentar apenas com a oferta de conectividade. Para o consumidor final, mercado de games desponta como oportunidade. ISP que ainda não está no B2B precisa correr para garantir este cliente e enfrentar reação das grandes operadoras.
Joselito Bergamaschine | CSO da Um Telecom – INOVAtic 2021

No segundo dia do Inovatic 2021, ontem, 10, o chief strategy officer (CSO) da Um Telecom, Joselito Bergamaschine, emitiu um alerta sobre os limites da expansão das redes de fibra. Estratégia comum aos ISPs que mais crescem, ampliar a cobertura com rede própria de cabos ópticos é uma oportunidade com os dias contados, alertou o executivo. Ele participou de painel que debateu modelos de monetização da rede.

Para Bergamaschine, os ISPs precisam começar a focar esforços na capacidade de inovação, a fim de ocupar a fibra instalada com novos serviços e manter a fidelidade dos clientes. Para garantir a inovação, a empresa estuda a criação de um centro de pesquisa e desenvolvimento atrelado a sua divisão de produto.

“Os ISPs estamos viciados em bits e capacidade. Por isso queremos enxergar como oferecer uma plataforma para o usuário. Como verticalizar soluções e monetizar o que já temos. O preço do megabit vem caindo, o preço da fibra vai continuar caindo, o custo de manutenção só aumenta, impostos só aumentam, e o 5G pode ser oportunidade, mas também uma ameaça”, ressaltou.

A seu ver, o 5G representa grande ameaça aos ISPs na medida em que as grandes operadoras podem usar a tecnologia FWA para chegar em território dos provedores regionais. “5G vai entrar além da banda larga, principalmente se não tiver franquia de dados”, afirmou.

Além disso, elas já estão se mobilizando para compartilhar esforços, acelerando a implantação de infraestrutura, lembrou. Tanto Vivo, como TIM, assinaram recentemente contratos para criação de joint ventures voltadas à implantação de redes de fibra, por exemplo. Além disso, elas recorrem a acordos de compartilhamento do acesso móvel, como recentemente anunciado por Claro e Vivo.

Fibra desenfreada

A observação do estrategista da Um Telecom tem fundamento. Conforme Ari Lopes, gerente de pesquisa sênior para os mercados das Américas da consultoria OMDIA, as redes de fibra no Brasil são as que mais crescem no mundo, depois da China.

“O Brasil, de 2019 a 2020, adicionou mais conexões de fibra do que qualquer país, exceto China. Lá foram 30 milhões de conexões, e aqui foram 6 milhões”, ressaltou.

As parcerias que os grandes operadores estão firmando com fundos para acelerar a implantação de rede óptica de acesso vai pressionar mais os ISPs, que precisam, mesmo, pensar em segmentos prioritários para combater o avanço das competidoras de peso. Ele também vê riscos para os ISPs com o 5G, uma vez que as móveis devem buscar no FWA uma forma de avançar onde não existe fibra.

Por isso, ele recomenda que os provedores busquem se especializar e formas de ir além do atendimento ao consumidor final, elaborando ofertas para o setor corporativo (B2B) de grandes empresas, pequenas, médias, e agronegócio.

Videogame em alta

Quem aposta no consumidor final, então é preciso trazer novos produtos além do vídeo, que já está “internalizado por todos”, lembrou Lopes.

“Temos visto acordos para oferta de cloud gaming mundo afora, por exemplo. Muitos são ligados ao 5G, mas vejo oportunidade dessa oferta para quem tem fibra. Serviços de segurança também. Alguns prestadores vêm agregando hardware, como vender o console de games junto com a conectividade, mas neste caso o preço é proibitivo no Brasil. Melhor ofertas como acesso a Xbox Pass. E tem oportunidade em vender acesso com equipamentos para redes WiFi Mesh incluídos”, resumiu.

Para Carlos Alberto Roseiro, diretor de soluções integradas da Huawei Brasil, é fato que o ISP precisa inovar. Mas o primeiro passo é atualizar os equipamentos e garantir o aumento da velocidade para o cliente. Depois, sobre a rede mais rápida, é a vez de entregar novas aplicações.

“O mercado dos ISPs está em crescimento, os clientes estão vindo. Mas este mercado está entrando em uma fase de maior maturidade, que vai demandar maior complexidade para se aumentar ticket médio. Aumentar velocidade é um jeito, e reduzir a latência para ofertar novos produtos, como roteamentos específicos para o público gamer”, observou.

Profissionalização

Para Wellington Santos, diretor administrativo da piauiense Ora Telecom, os ISPs chegaram a um momento decisivo, em que a profissionalização da gestão vai definir o futuro diante do aumento da competição. Há um ano, a empresa foi criada com a fusão de cinco provedores do estado do Piauí, o que garantiu escalar e uma gestão racional da rede e das ofertas.

“A Ora Telecom teve dois desafios na sua formação: eram cinco players, transformamos em um único, e começamos junto com a pandemia. Tivemos um aumento de demanda dos clientes e de novos que chegaram a nossa base. Precisamos transformar o nosso negócio em um só e atender à demanda que saltou. Crescemos em 2020 cerca de 45% nossa quantidade de clientes. Tivemos que entregar e nos organizarmos. Vimos como o negócio tem se diversificado e tem sido muito dinâmico. Nós precisamos nos profissionalizar mais. Alguns players de médio porte têm se profissionalizado cada vez mais. Então o pequeno que não se profissionaliza, talvez não dure muito tempo”, avisou.

Ele concorda que o ISP deve diversificar seus negócios e ir além da conectividade para garantir seu lugar ao sol. Uma forma é assinar acordos de compartilhamento de backhaul. Outra é ir atrás dos clientes corporativos, como citado por Lopes, da Omdia. Outro cuidado é não buscar o cliente final a qualquer preço, mas enriquecer os planos de conectividade de alta velocidade com ofertas de valor agregado a fim de elevar a receita por usuário, como serviços em nuvem.

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Rafael Bucco

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