ISPs e metaverso: dos obstáculos ao modelo de negócios

Provedores de internet estão entre o usuário e as experiências no mundo virtual. Neste contexto, especialistas discutiram os obstáculos e os modelos de negócios na relação entre ISPs e metaverso em painel do INOVAtic Sudeste, na nesta terça-feira, 5.
O evento, promovido pelo Tele.Síntese, reúne representantes do setor de tecnologia e comunicação em um debate sobre o panorama de inovação. A participação é gratuita e a exibição online. A programação segue até quinta-feira, 7.
Luis Leão, desenvolvedor Evangelista na Twilio, destaca a relevância dos ISPs para o que é considerada a nova geração da internet. “O papel do ISP é ser o canal de comunicação, é ser a via que vai fazer com que os dados cheguem mais rápido”.
O profissional explica que o metaverso é o encontro de usuários de diferentes locais. E o objetivo dos provedores é “garantir que existem canais de comunicação ou meios em que os dados são sincronizados com a menor latência possível”, independente da tecnologia utilizada para acessar o ambiente.
“Então é importante, por exemplo, trazer uma discussão de ponto de troca de tráfego, de dados do metaverso, para trazer um melhor controle de segurança dessa informação”, ressalta Luis.
Acesso restrito

Ainda de acordo com o profissional, um dos maiores obstáculos atualmente é que os equipamentos de qualidade são inacessíveis para a maioria da população, a exemplo dos óculos de realidade virtual.
“Deve ser discutida a democratização do acesso ao metaverso. De como vai ser o feedback do acesso. O que é o acesso mínimo para o metaverso e até onde podemos chegar em questões de experimentação”, afirmou Luis.
Os equipamentos são um impasse maior que a própria velocidade de rede, pois, segundo Luis, a demanda de conectividade pode variar a depender do uso. Por isso, a maioria das oportunidades estão, atualmente, no modelo B2B.
“A informação que eu tenho é que se você está usando um óculos de realidade virtual, em 20 minutos você pode captar 20 milhões de dados de reações. Então, o que define qual informação que vamos mandar é a capacidade da transmissão, a necessidade do provedor que está oferecendo esse acesso ao metaverso e quanto quer captar de informação”, disse o desenvolvedor.
Experiências fora do Brasil
Atuando no treinamento corporativo para o metaverso, Tatiany Melecchi, CEO da Transforma People & Performance Consultoria, afirma que uma das tendências possíveis para driblar a restrição no acesso aos equipamentos é o fornecimento de produtos pelas empresas aos funcionários.
“A área de treinamento já está sendo impactada. As empresas estão fazendo toda a parte de onboarding [imersão por meio de avatar], que antes se precisava ir até a empresa, ou receber mini vídeos para aprender os produtos, hoje ele [o colaborador] já entra no mundo que a empresa criou”, disse a especialista.

De acordo com Melecchi, pesquisas indicam que a área da educação é a mais impactada pelo metaverso atualmente. “A Universidade de San Diego [na Califórnia], por exemplo, já tem um ambiente de metaverso onde você assiste aula. Em algumas indústrias farmacêuticas também já criaram áreas de aprendizagem contínua onde os profissionais recebem o óculos ao invés de viajarem”, afirmou.
Regulamentação para ISP e metaverso
Antonielle Freitas, DPO (Data Protection Officer) do escritório Viseu Advogados, destacou a responsabilidade da ISP no cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
“Vai ter a passagem desse dado, então ele [ISP] tem essa responsabilidade de tratamento do dado. Tem a questão da segurança da disponibilidade dos dados, de garantir que isso não seja acessado ou alterado e que esteja disponível para quando o usuário precisar utilizá-lo”, disse Freitas.

Para a advogada, a regulamentação a seguir tem questões abertas. “Acredito que todas as leis precisam de atualização, porque [o metaverso] é uma plataforma universal. Se nós formos pensar em, até mesmo, qual é a lei que vai ser aplicada, é a nossa lei brasileira ou é uma lei universal do metaverso?”, questiona.
O debate sobre a regulamentação divide opiniões no setor. Na semana passada, o conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Emmanoel Campelo, defendeu no Painel Telebrasil que existam normas que impõem limites no metaverso. Representantes do setor discordaram.
A discussão sobre proteção de dados também tramita no Congresso Nacional com extenso debate. O marco legal sobre o uso da inteligência artificial (IA) no Brasil está sendo discutido por comissão de juristas no Senado Federal. A proteção de dados é um dos temas abordados na análise do tema, que já completou três anos sem conclusão no Legislativo.