IoT no Brasil: debate cobra regulação leve, educação e incentivo governamental
A internet das coisas decola no mundo. Deve movimentar até US$ 11 trilhões ao ano, em 2025, de acordo com a projeção mais otimista da consultoria McKinsey. Com a expectativa de não perder o bonde, o governo brasileiro (BNDES e MCTIC) decidiu elaborar um plano para incentivar o desenvolvimento e a adoção da tecnologia no país. Realizou uma consulta pública em janeiro, fará mais cinco, e encomendou ao McKinsey e ao CPqD um estudo sobre quais a possibilidades do país no contexto mundial. O estudo, a ser concluído em setembro, vai traçar as diretrizes para o segmento.
Mas especialistas já têm uma posição do que devemos ou não fazer. Para expor essas posições e traça o plano de ação do estudo, a McKinsey fez hoje, 07, um workshop com empresários, executivos, pesquisadores e representantes de governo sobre o tema. O evento permitiu identificar o que devem ser alguns dos pontos chave das políticas brasileiras para IoT.
Sócio do McKinsey Global Institute, Michael Chui ressaltou que há diferentes modelos de ação governamental, e que o Brasil precisa escolher qual seguir. Nos Estados Unidos, lembrou, o governo se eximiu. Até realiza alguns investimentos, mas a maior parte do capital aplicado vem das empresas. Diferentemente da China, onde o governo atuou para definir uma prioridade, ou da Alemanha, que traçou como meta abastecer o segmento de IoT industrial.
“Há um conjunto de habilitadores de que o governo pode lançar mão: trabalhar com institutos de P&D, formar pessoal capacitado através de uma educação que garanta a compreensão da tecnologia, ou até atuar como consumidor âncora, aquele que define boa parte da demanda pelos serviços inteligentes”, resumiu o analista.
Para Philipe Moura, gerente de políticas regulatórias para a América Latina da GSMA, antes de agir o Brasil precisa ter claras as regras que afetarão o setor. Para ele, a prioridade à tecnologia precisa ser clara, e vir embasada em uma legislação isonômica, que trate todos os players de forma igual.
“As leis vão precisar estar a favor da inovação, incentivar a demanda, e não ser focadas em apenas um ou outro segmento, mas em toda a cadeia. E precisam ser redigidas de maneira que possam ser adaptadas conforme a realidade desse mercado se altera, precisam se manter relevantes daqui a cinco anos”, falou.
Alberto Paradisi, vice-presidente de P&D do CPqD defendeu que o país defina três eixos de atuação, áreas em que demonstra o maior potencial competitivo. “Nossas maiores oportunidades estão no agronegócio, que responde por cerca de 25% do nosso PIB, o desenvolvimento de software especializado, e cidades inteligentes”, enumerou.
Segundo ele, a IoT brasileira poderia ser empregada para o aumento da produção e da qualidade dos produtos agrícolas, enquanto a base de desenvolvedores de software é extremamente capacitada para desenvolvimento de sistemas em nuvem, aplicações móveis e machine learning. Já as cidades inteligentes são um potencial devido à gama de problemas enfrentados atualmente, dos congestionamentos à falta de conectividade de qualidade em todo o perímetro urbano.