Instituto Atlântico lança laboratório de IA em Fortaleza

Espaço antecipa, na prática, ações alinhadas aos objetivos da estratégia nacional de inteligência artificial e reflete resultado de políticas de fomento.
Instituto Atlântico reúne representantes da indústria e academia em evento na sede da organização, em Fortaleza (CE) | Foto: Tele.Síntese

No momento em que o país se prepara para implementar o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), organizações de ciência e tecnologia já antecipam, na ponta, os objetivos traçados ali. Nesta semana, o Instituto Atlântico, em Fortaleza (CE), lançou um laboratório de IA, alinhado à estratégia de inovação aberta, visando colaborar com a indústria e universidades no suprimento de lacunas como a formação de profissionais e infraestrutura.

O laboratório fica instalado na sede do instituto, na capital do Ceará, local estratégico em termos de conectividade, privilegiado por concentrar rotas de cabos submarinos. O espaço conta com a infraestrutura que já estava instalada na unidade, recentemente reforçada com a chegada de unidades de processamento (GPUs) mais robustas (com capacidade de 906 GB) no início deste mês.

O coordenador de Inovação do Atlântico, Alex Monteiro (foto acima), conta que, a princípio, a estrutura passa por experimentos de capacidade por pesquisadores do próprio instituto. Em novembro, está previsto o uso para projetos a serem implementados em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (UECE), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), voltados para demandas do mercado e da sociedade, alcançando parcerias com startups.

Papel dos ICTs

O reforço na infraestrutura que proporciona o lançamento do laboratório de IA do Atlântico movimentou cerca de R$ 380 mil, em recursos próprios, e reflete, na prática, o ciclo de diversas políticas públicas que buscam valorizar os Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs). Isto porque a instituição é fruto de projeto do CPQD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) e acumula 20 anos de atuação, incluindo projetos com grandes teles e produtores de diversos estados do país, financiada em parte por impulsionamento gerado pelos incentivos concedidos à indústria pela Lei de Informática e ainda linhas de fomento, como a mediada pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

No ano passado, o Instituto Atlântico foi credenciado como uma nova Unidade Embrapii, na área de Manufatura Inteligente, que envolve soluções de big data.

De acordo com os gestores, o primeiro contrato com a Embrapii envolveu um impulsionamento de R$ 2 milhões, com a obrigação de transformar esse recurso em R$ 4 milhões em três anos, mas essa meta foi atingida antes desse prazo, em um ano.

O superintendente do Atlântico, Francisco Moreto, afirma que o laboratório de IA está alinhado ao papel que a organização assumiu perante a Embrapii, observando o conceito de colaboração.

Queremos envolver principalmente quem vai utilizar os resultados, que são as empresas. Produzimos o desenvolvimento de projetos ágeis, onde a gente sempre tem a participação de quem vai utilizar o resultado. Porque ao fazer a participação, a gente tem a nutrição continuada de que a solução tem adequação com o propósito”, explicou, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira, 17, na sede do instituto.

Moreto destaca que a intenção é de que o espaço seja um ganho coletivo. “Começa obviamente devagar e pequeno, mas a gente quer que se torne grande, representativo, e que tenha um significado enorme para a região do Nordeste, com repercussão nacional”.

O diretor de Inovação do Atlântico, Luiz Alves, complementa que “a grande expectativa desse laboratório é ampliar a capacidade de aprender com desafios complexos, de maior densidade tecnológica”. “Inteligência Artificial requer investimento financeiro. É uma corrida que quem tem realmente mais recurso passa na frente. A gente precisa de infraestrutura computacional para resolver esses desafios mais complexos“, afirma.

Estratégia brasileira

Alves complementa que a iniciativa vem em momento estratégico. “Nos posicionamos em um momento muito bom. Acabamos de ter o lançamento de uma política chamada Nova Indústria Brasil (NIB), querendo melhorar a competitividade da indústria nacional. [Ao mesmo tempo] acabamos de ter o lançamento da PBIA, com um compromisso de investimento até 2030 de R$ 23 bilhões. Então, quando você cruza essas duas políticas, você vê ali uma clara lacuna de competência tecnológica, é onde o Atlântico está se posicionando, por isso o investimento proativo nessa infraestrutura”, diz o diretor.

A tese de investimento em startups também foi alterada com foco em IA. A única exceção ao tema tem sido apenas projetos de impacto social, que para a organização independe da tecnologia.

Ainda de acordo com Alves, o olhar está sob o que acontece também após a formação de especialistas em IA no Brasil. “Todo pesquisador procura a melhor ambiência para pesquisar. Essa fuga de cérebros que já acontecia antes, vai ser potencializada se a pessoa ao terminar um doutorado olhar e dizer ‘eu não consigo fazer minha pesquisa aqui’. Ele não vai ficar perdendo tempo aqui no Brasil. Ele vai ser rapidamente contratado por uma empresa de fora, e ele [pesquisador] vai porque a infraestrutura para ele desenvolver a pesquisa dele está lá fora”, acrescenta.

*A repórter viajou a convite do Instituto Atlântico

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura de telecom nos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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