Inovação aberta é incorporada nas máquinas agrícolas

Para um mercado que tradicionalmente operava com sistemas proprietários, a necessidade de alimentar o ecossistema do agro ganha adesões

Os fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas sabe que são peças importantes na evolução da agricultura digital e investem em novas tecnologias conectadas e inteligentes. A questão da inovação aberta – um conceito que durante um tempo foi evitado pelos fornecedores desse mercado que sempre trabalharam com sistemas proprietários – passou a ser defendida com ênfase por executivos da área que participaram hoje do painel que discutiu o tema durante o AGROtic 2021. E também já sinalizam com a chegada da tecnologia de tratores e equipamentos autônomos e conectados, mesmo sabendo que a própria atividade agrícola tem questões complexas a serem resolvidas antes disso.

Com sensores, modems e software embutidos em suas máquinas, os fabricantes de máquinas e equipamentos rurais já são grandes contribuintes de captura ou mesmo recepção de dados relativos ao que acontece nas lavouras. “A cada cinco segundos uma máquina minha envia cerca de 300 informações para a nuvem”, comentou Fernando Neto, presidente da Jacto.

“Há um ecossistema de negócios na área rural que trabalha de forma aberta com quem temos que conversar para que o produtor rural possa atingir todos os benefícios da agricultura digital”, afirmou. Uma das ferramentas da empresa para garantir a interoperabilidade de suas máquinas a outras plataformas operadas pelo fazendeiro é a o Jacto Connecct, um aplicativo que procura facilitar o acesso do cliente a todos os dados dos produtos da empresa que estão no campo.

Dener Oliveira Jaime, coordenador de Marketing de Produtos Fuse da AGCO América do Sul, segue a mesma tendência de procurar operar em algumas camadas com protocolos conhecidos do mercado também para proporcionar o acesso a dados da máquinas e sistemas instalados na fazenda. “O produtor precisa cada vez mais extrair o máximo de benefícios do maquinário e é nosso papel levar para ele o maior entendimento”, ressaltou. A AGCO reúne várias marcas como Massey Ferguson, Valtra e Fendt.

Na avaliação de Sergio Soares diretor de Desenvolvimento de Produto e Enegenharia Agrícola para a América do Sul da CNH Industrial, as máquinas agrícolas se tornaram centrais de potência que podem ser usadas como condutor da informação, agregar dados sobre o que acontece no campo e gerar informações que podem ser direcionadas até outra máquina de fabricante diferente, o que exige ainda mais a integração.

Mas nem todas essas etapas podem ser fáceis. “Há níveis de compartilhamento mais complexos que precisarão ser resolvidos caso a caso”, completou Neto. Como exemplo, cita uma situação com dois pulverizadores, de fabricantes diferentes, operando no campo. É preciso saber o nível de pulverização de cada área do talhão e para isso as máquinas precisarão conversar entre elas.

Soares acredita que as três empresas que participaram do debate de hoje têm visões semelhantes sobre a necessidade de os fabricantes se inserirem de alguma forma no universo da inovação aberta. “O problema é se um fabricante se recusar a atuar dessa forma, isso pode comprometer todo o trabalho”, disse. Jame, por sua vez, espera o mesmo posicionamento aberto de seus fornecedores e Neto acredita que em breve essa questão poderá ser regulamentada de alguma forma.

Autônomos

Para uma indústria que há anos trabalha com equipamentos com pilotos automáticos, falar em tratores autônomos e conectados não é uma tarefa muito difícil. Tanto que as três empresas já realizam testes pilotos desse tipo de tecnologia. Até já há no mercado protótipos mas que continuam em fase de desenvolvimento. “Acredito que em breve veremos muito mais tratores autônomos no campo do que veículos autônomos nas estradas”, salienta Neto. Ele aposta que em cinco anos haverá um bom volume de vendas nessa área.

Mas todos têm consciência de que há uma grande complexidade envolvida, principalmente nos níveis de automação nas lavouras, para essas máquinas ganharem espaço. “Tecnologia para as máquinas autônomas há de sobra e sob a marca Fendt já testamos elétricos e autônomos. A chave está na inteligência artificial embarcada que precisará sinalizar para a máquina, por exemplo, que há condições climáticas favoráveis, as condições do solo e outras informações sempre de forma sincronizada”, esclareceu.

Para Soares há outras questões que ainda precisam de respostas, como por exemplo de quem é a responsabilidade se acontecer algum problema durante a execução da tarefa pela máquina. “Nós temos o exemplo recente da Tesla que nos mostra a necessidade de ter bem claro qual a responsabilidade de cada área envolvida”, avaliou.

Os três executivos participaram do segundo dia do AGROtic, que será realizado até quinta-feira, dia 6 de maio. Ele é promovido pelo Telesíntese em parceria com a ESALQtec.

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Wanise Ferreira

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