Indústria eletroeletrônica fecha 2019 sem crescimento real

Apesar disso, representantes do setor se dizem otimistas para 2020. Segmento de infraestrutura de telecomunicações surpreendeu, com crescimento acima do previsto.

A indústria eletroeletrônica fechará o ano com aumento de receitas menor que o esperado, conforme dados divulgados hoje, 5, pela Abinee. No final de 2018, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica projetava crescimento de 8% neste ano. O resultado nominal, no entanto, não deve passar de 5%, atingindo-se receita total de R$ 154 bilhões. Descontada a inflação do setor medida pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP), significa que não haverá evolução real do faturamento do setor.

Houve, no entanto, surpresas. O segmento de telecomunicações apresentou desempenho acima do previsto nas vendas de equipamentos para infraestrutura, enquanto o mercado de celulares cresceu abaixo do projetado.

A receita das empresas de infraestrutura de telecom cresceram 7% (ante previsão de 5%), puxada pela exportação de equipamentos de comutação privada e pelo aumento do Capex das operadoras neste ano. Até o terceiro trimestre, as teles tinham investido R$ 23 bilhões – ante R$ 21 bilhões no mesmo período de 2018.

Já o segmento de celulares sofreu com o achatamento do poder aquisitivo do brasileiro, uma vez que segue o alto índice de desemprego. Também houve impacto do contrabando, com aumento de 500% da venda de smartphones vindos do Paraguai e que entraram no país sem pagar impostos, o chamado mercado cinza. Com isso, a indústria de celulares teve crescimento nominal de 5% em receitas neste ano, embora no final de 2018 a previsão fosse de alta de 8%. Os dados se baseiam em cálculos da consultoria IDC Brasil.

“Ano desafiador”

Humberto Barbato, presidente executivo da Abinee, definiu 2019 como um “ano desafiador”. Para ele, a indústria vive um momento delicado, mas a perspectiva é positiva. “Acreditamos que no próximo ano teremos a retomada do setor industrial em função de privatizações, e se melhorar o nível de emprego, haverá mais confiança do consumidor e todas as áreas da indústria serão beneficiadas”, resumiu.

Entre os grandes desafios elencados pelo executivo no ano estiveram os debates em torno de mudanças no imposto de importação de produtos que pudessem concorrer com equivalentes nacionais, bem como a criação de uma nova Lei de Informática que atenda a exigências da Organização Mundial do Comércio – na qual o Brasil sofreu sanções.

“Em relação à Lei de Informática, o ano tem sido de apreensão. Existem investimentos represados em função dessa indefinição”, ressaltou. Um projeto de lei que modifica a Lei de Informática, e que recebeu apoio da Abinee durante sua redação, foi aprovado na Câmara no final de novembro. Agora, tramita no Senado onde, espera-se, seja aprovado com mudanças na próxima semana, retorne para aprovação rápida na Câmara, e seja finalmente enviado à sanção presidencial, que deve acontecer até 31 de dezembro.

2020 um pouco melhor

As projeções da Abinee apontam para uma ligeira melhora da economia em 2020. A associação estima crescimento de 8% nas receitas nominais, e de 4% no faturamento real (descontada a inflação dos preços ao produtor – IPP), atingindo-se R$ 165,9 bilhões.

A área de equipamentos e aparelhos de telecomunicações deverá crescer 9%. As fabricantes de equipamentos para infraestrutura de telecomunicações projetam ampliação de 5% em seus mercados, enquanto as de celulares acreditam quem com aumento da confiança do consumidor, puxada por melhora do índice de desemprego, haverá expansão de 10% nas vendas.

Segundo a Abinee, o segmento de infraestrutura em telecomunicações só não é mais otimista pois há previsão de que as operadoras incorram em muitos gastos em 2020. Ano que vem deve acontecer o leilão de frequências 5G, que obrigará as participantes a realizar um desembolso bilionário. Também deve haver a definição de regras e montantes que serão pagos pelas concessionárias de telefonia fixa para migrar do regime público para o privado de exploração do serviço telefônico. Tais dispêndios devem reduzir a capacidade de investimento em equipamentos por parte das operadoras.

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Rafael Bucco

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