Indústria apoia regionalização das licenças 5G, mas pede cautela da Anatel

Cisco vê cinco players na disputa por espectro no próximo leilão. Para Nokia e Ericsson, regionalização pode se dar também liberando-se a banda de guarda acima de 3,7 GHz para o serviço privado. Para a Intel, custo para os pequenos pode inviabilizar investimentos.

Um dos temas que vem suscitando debates acalorados sobre a futura licitação de espectro para 5G diz respeito à granularidade das licenças. Ou seja, qual a área de abrangência que cada outorga da Anatel terá. A questão é sensível para provedores regionais, que desejam participar da disputa, mas não têm interesse em arrematar lotes nacionais, ou dinheiro.

No âmbito técnico, há temores de que o grau de regionalização afete a eficiência das redes. Esse foi o teor dos comentários da indústria na consulta pública sobre a minuta do edital do leilão da 5G. Hoje, porém, na live Tudo Sobre 5G Indústria, as fabricantes afirmaram que são favoráveis à existência de lotes regionais. A condição é o tamanho do lote. O evento virtual é organizado pelo Tele.Síntese.

“Não acredito em municipalização da banda larga. Eu gosto do conceito de regionalização. Tem grupos econômicos capazes de sozinhos, ou em atos federativos, levar esse complemento da 5G para onde as grandes operadoras não tinham interesse ou não foram bem sucedidas em levar banda larga par ao interior do Brasil”, afirmou Luiz Tonisi, diretor geral da Nokia no Brasil. A seu ver, a regionalização proposta atualmente pela Anatel, que divide o país em oito grandes regiões, é suficiente.

Tonisi diz que é preciso levar em conta que os ISPs massificaram a banda larga fixa no país e, por isso, devem estar incluídos na licitação. “A defesa da Nokia é que tenha uma universalização, assim como teve na banda larga fixa, dos serviços 5G. Que os grandes tenham blocos de pelo menos 100 MHz. E que tenha uma quantidade de espectro, no mínimo 40MHz, mas idealmente de 60 MHz, para os PPPs”, afirmou.

Banda de guarda

Para Eduardo Ricotta, há espaço para reservar 60 MHz, 50 MHz ou 40 MHz para operadoras regionais. Mas é fundamental que os lotes nacionais sejam de 100 MHz para que as operadoras de fato tirem maior proveito da tecnologia.

Além disso, ele explicou que está em discussão liberar o uso da banda de guarda que existirá entre 3,7 GHz e 3,8 GHz para o serviço limitado privado (SLP). “Podemos usar principalmente para redes privadas. Tem ali 1,2 mil v-sats nessa faixa. Mas se for usar para o B2B, operadores pequenos e grandes podem fazer uma solução 5G numa fábrica, numa cidade”, lembrou.

“Temos que usar o espectro de 3,7 GHz a 3,8 GHz para o serviço privado”, concordou Tonisi, da Nokia. Essa fabricante já aposta no mercado SLP. Tem, inclusive, contratos em 4G na modalidade com empresa do agronegócio e de mineração.

A Intel ressaltou que menos espectro, como seria reservado aos lotes regionais, resulta em redes mais complexas e cara. Segundo Emílio Loures, diretor de políticas públicas da empresa no país, o tamanho ideal do lote está na ponta do lápis. “O número de estações radiobase está diretamente relacionado à largura que se tem de canal. Sair de 100 MHz para 40 MHz, por exemplo, números de pico de tráfego diminui em 3x. Tem de colocar mais antenas, a rede fica mais cara”, explicou.

Cinco na disputa

É possível, portanto, fazer uma licitação com outorgas regionalizadas, mas o tamanho dos lotes pode ser determinante para o sucesso do leilão e da política pública de disseminar a 5G. “Tem que pensar se estes números garantem que o serviço seja acessível de fato para o consumidor final. Lógico, tem algumas áreas que precisam ser trabalhadas. E aí as PPPs foram a solução buscada pela Anatel apresentou no edital”, disse Loures.

Giuseppe Marrara, diretor de políticas públicas da Cisco, afirmou que o leilão 5G é um caso pouco comum, em que há disponibilidade de espectro para a quantidade de concorrentes. “Realisticamente, temos três grandes grupos nacionais fortes, que o ideal é que tenham 100 MHz nos 3,5 GHz. E no regional, o leilão deve atender o apetite econômico do setor. Vemos dois grupos regionais que poderiam participar, vai depender das circunstâncias econômicas dos players”, completou.

Vale lembrar que no momento o país tem Claro, Oi, Vivo e TIM como operadoras móveis nacionais, que poderiam abocanhar o espectro. Mas as negociações entre Oi, Vivo e TIM avançam, e podem resultar na venda da operação móvel da Oi. O que resultaria, então, em três grandes concorrentes nacionais.

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Rafael Bucco

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