Highline tem diferentes cenários traçados para a base de clientes da Oi

Da manutenção da operadora com marca Oi, à oferta de MVNOs que unem serviço e base de clientes, modelo será inédito no país. Mas ainda depende do aval dos credores da Oi à proposta de venda da unidade celular da companhia.

A empresa de infraestrutura móvel Highline, que há duas semanas obteve exclusividade para negociar a compra preferencial da Oi Móvel, tem planos abrangentes e ousados para o país.

Apoiada pelo fundo norte-americano Digital Colony, a empresa, que deu também lance de R$ 1,07 bilhão por 657 torres e 225 sites indoor da Oi, já demonstrou interesse pela Infraco, a unidade de fibra óptica da Oi e, se todas as peças se encaixarem, irá ao próximo leilão de espectro para adquirir não apenas fatia dos 3,5 GHz, como também os 700 MHz. E dessa forma, criar uma operadora neutra de rede fixa e móvel.

Pessoas ouvidas pelo Tele.Síntese afirmam que a empresa está municiada financeiramente para fechar os negócios no país e leva em consideração inclusive aportes necessários para melhoria da rede adquirida.

No caso da Oi Móvel, há quem acredite que a empresa pode ter de fazer desembolso mais alto que o lance atual, mas a possibilidade menor de bloqueio da operação no Cade será levada em conta pela Oi.

A tele, é bom lembrar, não é obrigada a aceitar a oferta mais elevada, e pode ficar com aquela que lhe pareça mais provável de ser autorizada pelo xerife do mercado, desde que o valor seja no máximo 5% inferior. Na Anatel, até o momento, considera-se possível liberar a compra da Oi Móvel tanto pela Highline, como pelo consórcio que reúne Claro, TIM e Vivo.

Cenários

A questão que muitos se perguntam é se uma empresa de infraestrutura como a Highline teria condições de administrar os 36,7 milhões de clientes de varejo e corporativos que a Oi Móvel possui. A empresa traçou diferentes cenários – desde a venda da carteira de clientes, até sua exploração comercial pagando-se royalties à Oi para manter uso da marca.

Vale lembrar que o comprador da Oi Móvel leva usuários, espectro, estações radiobase, elementos de rede, núcleo de rede, sistemas de suporte ao atendimento e cobrança, e recursos humanos. Enfim, compra-se uma operadora móvel que “para de pé” sozinha, sem as obrigações com credores que oneram hoje a concessionária. A rede de transmissão não virá no pacote, mas poderá ser usada por contrato, conforme a proposta de aditamento do plano de recuperação judicial da Oi.

A Highline ainda entraria no leilão 5G, uma vez que a Oi Móvel tem menos espectro que as rivais, e seria fundamental ter mais frequências para competir com Claro, TIM e Vivo. Pelas regras do edital que foi a consulta pública, a Oi tem preferência em dar o lance pelos 700 MHz sobressalentes, além de ser considerada uma das quatro compradoras de uma banda de 100 MHz na faixa de 3,5 GHz.

Cessão da carteira

Outra possibilidade seria negociar a exploração da carteira de clientes com as grandes rivais. Aí poderia haver a venda definitiva – ou contratos de direito de exploração dessa base por períodos pré-definidos, o que parece combinar mais com quem pretende ser operador de rede neutro em todos os âmbitos.

Mais uma alternativa seria olhar para os ISPs. Neste caso, não haveria impedimentos para uma divisão regional da base entre os provedores de internet ávidos por serviços móveis e por um quinhão de espectro para explorar a 5G.

Por fim, ainda daria para incentivar a explosão do mercado de MVNOs no país, com uma oferta capaz de casar rede e base a empresas de todo tipo, como varejistas e fintechs em busca de grandes volumes de clientes.

Convém lembrar que a maioria das frequências da Oi vence em 2031 e 2032. Ou seja, o comprador tem 10 anos para rentabilizar o ativo antes de meter a mão no bolso novamente para renovação dessas outorgas.

Rede neutra

Mesmo prestando serviço ao usuário final, a intenção é fazer da Highline um grande operadora de rede neutra. A seus ativos, qualquer competidor teria acesso. Uma fonte diz que seria possível negociar o uso do espectro, via mercado secundário – que ainda precisa ser regulamentado – com as três grandes, assim como buscar interessados em entrar no Brasil, ou com os ISPs.

Para as rivais, caberá sopesar se vale à pena disputar os ativos da Oi e garantir uma barreira de entrada no mercado local, ainda que apareçam remédios e condicionantes no Cade e na Anatel; ou se o melhor é deixar surgir um operador neutro de rede móvel e negociar com ele a construção e manutenção de redes sem duplicação de investimentos.

Mas tudo são hipóteses, uma vez que a Oi ainda precisa aprovar junto a credores o aditamento de seu plano de recuperação judicial. Apenas depois de aditado o plano, o grupo poderá vender a Oi Móvel. Na hipótese, ainda que considerada baixa, de os credores vetarem a revisão do PRJ, “toda essa engenharia se desmancha no ar”, lembrou um executivo.

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Rafael Bucco

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