“Nível de crescimento das operadoras hoje não é sustentável”, alerta GSMA

Para Bharti Mittal, chairman da organização, é preciso cada vez mais investimento para atender às novas demandas do consumidor, mas a receita gerada não segue pari passu. Por isso, cobrou permissão dos governos para consolidações em nível global.

bharti-mittal-gsma-mwc-2017Barcelona – O congresso da indústria móvel Mobile World Congress 2017 começou nesta segunda feira, 27, prometendo um debate quente sobre os rumos do setor. A organizadora do evento, a GSMA, associação mundial de operadoras móveis e fabricantes, assumiu posições que ela mesma sabe terem potencial para gerar discórdia entre seus associados. E também prometeu pressionar governos para que revejam as normas sobre licenciamento de espectro e impostos.

A primeira posição sensível vem do compartilhamento de infraestrutura de comunicações. “Temos problemas em encarar essa situação porque há operadoras que têm liderança significativa de mercado e não querem pensar em debater o compartilhamento. É um desafio, mas temos de ver quão longe podemos ir. Precisamos pensar que haverá menos custo por empresa por infraestrutura, e mais valor na mão do consumidor”, disse o chairman da entidade, Sunil Bharti Mittal, também dono da indiana Airtel.

Bharti elencou o movimento recente de operadoras que separaram sua infraestrutura de rede em empresas separadas do negócio de serviços, como fizeram Telefónica e Telecom Italia nos últimos anos. Segundo ele, este movimento tem forte relação com a viabilidade do setor, atualmente em uma encruzilhada.

“O retorno sobre o investimento (ROCE) está caindo rápido. A indústria precisa chegar a uma forma saudável para conseguir habilitar o sonho de sociedade conectada”, falou, após ressaltar que a indústria de telecomunicações precisa de capital intensivo para se sustentar.

Pelos cálculos do executivo, a base de usuários de serviços de telecomunicações cresce 7% ano ano, o consumo de dados, 18%, enquanto a receita evolui 3% ao ano – insuficiente para atender à necessidade de investimento em capacidade de rede. “O nível de crescimento [de receita] não é sustentável para uma indústria de capital intensivo”, frisou.

A solução, a seu ver, passa por mudança regulatória, especialmente no que diz respeito ao licenciamento de espectro e à consolidação. “O modelo de licenciamento deve mudar. Hoje significa dar mais dinheiro para os governos, e pouco valor para as operadoras. Poucas operadoras têm o dinheiro suficiente para investir como se deve. Impostos e leilões tiram entre 20% e 35% dos investimentos”, afirmou.

Consolidação
Com esses custos altos, a solução seria unicamente a consolidação, criando poucos grupos transnacionais, capazes de investir tanto. “Aos governos, por favor, permitam a consolidação de mercado. Vejam o caso agora dos Estados Unidos, que estudam a aprovação da fusão da AT&T com a Time Warner. Faz sentido. Se o país tiver apenas três operadoras, será suficiente. O mesmo vale no Reino Unido, na Itália, países que têm colocado empecilhos às consolidação. Deveríamos ter poucas e sólidas operadoras”, afirmou.

Autoanálise
Por fim, Bharti pediu uma reflexão do setor sobre os motivos que fazem as operadoras serem empresas malvistas pelos usuários. “Só lembram de nós quando cai a ligação ou a conexão falha”, lembrou. Para melhorar a imagem da indústria, pediu que todos os stakeholders se juntem para combater o roaming internacional.

“Já temos uma rede mundial. Temos que declarar guerra ao roaming para que o usuário possa usar os serviços que deseja em qualquer lugar. Temos que acabar com o roaming, com todos os encargos sobre isso”, defendeu.

Importante ressaltar que o pedido faz completo sentido dentro do contexto de crescimento da internet das coisas, que já tem modelos de negócio comprovados em logística. O roaming aparece como um custo adicional às empresas que fazem o rastreamento internacional, por exemplo. Para o usuário comum, as iniciativas existentes ainda são tímidas.

Na América do Norte, a AT&T tem pacotes em que chamadas para México têm preço de chamada nacional, enquanto a União Europeia planeja acabar progressivamente com o roaming. Por trás do debate, também há o interesse das maiores operadoras do mundo em garantir a abertura de mercados em que não atuam, mas onde podem entrar indiretamente devido à aprovação do roaming permanente pelos governos de cada país.

 

*O repórter viaja a convite da FS

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Rafael Bucco

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