Google é a esperança das operadoras para reaver mercado de mensageria

Companhia lidera esforços para popularizar o RCS, padrão de mensagens que representa evolução do SMS, mas que enfrenta a concorrência feroz das OTTs.

tela-viva-movel-zenvia-gsma-facebook-take-googleA presença do Google no projeto de disseminação do padrão RCS de mensagens instantâneas traz uma ponta de esperança às operadoras que lutam para reaver a receita perdida após a queda no uso do SMS. Conforme Fábio Moraes, diretor de estratégia para a América Latina da GSMA, associação mundial das operadoras móveis, ter um “player agregador” pode fazer com que finalmente o padrão se torne um sucesso.

O RCS é uma espécie de evolução do SMS. O padrão começou a ser desenvolvido em 2008 para permitir a troca de mensagens que contenham não apenas texto, mas também imagens, vídeos e interações. Não é, ainda, compatível com 100% da base de dispositivos móveis do mundo, no entanto, para os celulares mais antigos, a mensagem é convertida automaticamente no SMS clássico. Mas a tecnologia nunca decolou.

“Por uma série de questões de como operadoras funcionam, não deu certo. Houve fragmentação. Isso faz três ou quatro anos. Agora é diferente porque as operadoras aprenderam com essa experiência. Existe uma realidade de mensagem como plataforma. Ou se dá atenção a isso, ou se fica de fora”, ressaltou o executivo durante o evento Tela Viva Móvel, que acontece hoje, 15, e amanhã, em São Paulo.

Para dar atenção e mobilizar as diferentes empresas em torno do mesmo tema, aparece o Google. “É um player importante que é capaz de centralizar isso. Pode ser que algumas operadoras procurem o Facebook, ou decidam não fazer nada. Mas acho que agora pode ser diferente por causa da experiência acumulada e por ter este player agregador”, completou Moraes.

De fato, o Google está em turnê pelas operadoras mundo afora a fim de angariar apoio e traçar um roadmap para colocar o RCS em uso. O padrão tem apoio de 58 operadoras no mundo, que somam 4,7 bilhões de assinantes. Declararam apoio à liderança do Google 27 operadoras, que têm 1 bilhão de clientes. Ou seja, há um longo caminho a se percorrer.

Silvio Pegado, líder de desenvolvimento de negócios RCS do Google, enfatiza que a preocupação imediata das operadoras tem sido como rentabilizar a ferramenta. A resposta recai sobre serviços de mensagens para empresas. “O SMS tem benefício imbatíveis: é universal, é uma plataforma nativa, com autenticação transparente e alcance global. Com RCS há diferenciação, pode haver a entrega de muito mais informação por parte das empresas conforme a necessidade do cliente”, ressaltou.

Como exemplos, o executivo citou a possibilidade do envio de cartões de embarque aos clientes de companhias aéreas (hoje o SMS entrega um link), ou de autoatendimento por chatbot para as operadoras, que seriam capazes de vender novos ou reprogramar os planos para o usuário a partir de uma troca de mensagens com opções de interatividade e visualização de dados de consumo e tendências de uso.

Superapps
Enquanto as operadoras debatem como fazer o SMS ir além da troca de texto, os desenvolvedores procuram a receita para transformar seus apps em plataformas capazes de fazer muito mais, se transformando no que o mercado chama de “superapps”. Estes são os aplicativos de mensagens com API aberta, feitas para rodar programas e serviços de terceiros sem que seja preciso sair do app.

O próprio Facebook trabalhar para fazer o Messenger um superapp. “Vamos liberar mais APIs para atender os desejos do desenvolvedor”, prometeu Pérola Cussiano, responsável pelo marketing das plataformas Messenger e Instagram no Brasil.

Além das APIs, a companhia investe no desenvolvimento interno. Recentemente, anunciou ferramentas de realidade aumentada. Nos Estados Unidos, já há clientes usando ferramenta de transferência monetária. No Brasil, onde o Messenger tem 83 milhões de usuários, a executiva afirma haver uma equipe dedicada a criar soluções conforme as especificidades locais.

“A gente tem uma estratégia de divisão das pessoas por região com foco dentro das soluções de mensageria devolver para engenharia o que faz sentido para o Brasil. [Para se tornar a principal plataforma de mensagens] um dos pontos fundamentais é entender as pequenas empresas, e isso só é possível com um time local”, diz.

Para os integradores, seja o RCS, sejam os apps, a plataforma vencedora será aquela que se movimentar mais rápido rumo às demandas do consumidor. Roberto Oliveira, CEO da Take, confia no potencial do RCS no Brasil. “Acredito no sucesso da parceria Google e operadoras. Se conseguirem criar um negócio focado nas empresas locais, terão sucesso. Mas as operadoras precisam decidir se vão ser pipe ou plataforma. Para ser plataforma, precisam de uma cultura de API, mais aberta”, opinou.

Cássio Bobsin, CEO da Zenvia, acredita que a disputa não se resume à plataforma, mas o modelo de negócio escolhido. “Por um lado, o investidor brasileiro não tem estômago para financiar a construção e o crescimento de um app, e só depois monetizar. O modelo para criar uma solução sustentável assim não é possível aqui. Por outro lado, o custo da mensagem nas operadoras é cara. Para o integrador, é importante saber se o RCS terá cobrança por mensagem, por interação, ou por dados”, cobrou.

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Rafael Bucco

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