Patrícia Vello: Fatiando as redes para as cidades inteligentes

a próxima geração de redes móveis 5G traz com ela uma nova capacidade para evitar a interrupção e garante que os diversos requisitos de latência, largura de banda e confiabilidade para diferentes serviços possam ser atendidos em toda a rede física atual. Isso é chamado de fatiamento de rede.
Presidente da Ciena Brasil
Presidente da Ciena Brasil

Cidades grandes e pequenas em todo o mundo estão ficando mais inteligentes. Isso quer dizer que elas planejam evoluir para se tornarem uma das chamadas smart cities. Quando falamos disso, nos referimos a esforços coordenados do governo, de empresas e de outras organizações para aproveitar as tecnologias de rede que melhoram as condições de habitar, trabalhar e de sustentabilidade para as pessoas que vivem ali. No Brasil, alguns exemplos estão começando a surgir nos Estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

Aqui ou em qualquer outro país do mundo, a grande pergunta é se essas cidades terão a infraestrutura de rede instalada necessária para implantar novas e inovadoras tecnologias e realmente aproveitá-las. À medida que as populações metropolitanas (e, portanto, o número de pessoas que precisam ser atendidas por essas implantações) continuam crescendo – será que as redes conseguirão acompanhar esse ritmo?

 Como é uma cidade inteligente?

Existem milhões de dispositivos já implantados nas cidades – e outros bilhões estão chegando – que podem tornar a cidade mais inteligente, coletando dados do trânsito, do tempo, do consumo de energia e de água e de muitas outras fontes, comumente em tempo real. Esses dados podem ser analisados e o conhecimento resultante ser usado na prática para se entender o que está acontecendo agora e prever o que acontecerá no futuro.

 O 5G vai ser o propulsor da cidade inteligente

A cidade inteligente do futuro próximo e, em alguns casos, do presente, é sustentada pelo fluxo ininterrupto e confiável de dados de redes com e sem fio interconectados. Quando os dados precisam ser analisados em tempo real, eles não podem ser de maneira alguma interrompidos ou ter seu fluxo prejudicado por problemas de latência. Há grande expectativa de podermos contar com uma série de melhorias intrínsecas à tecnologia 5G: aumento da largura de banda (até 1.000 vezes por unidade de área), até 100 vezes mais dispositivos conectados e redução de até 90% na utilização de energia na rede, juntamente com taxas de conexão de até 10 Gb/s para dispositivos móveis no campo – um número impressionante.

Felizmente, a próxima geração de redes móveis 5G traz com ela uma nova capacidade para evitar a interrupção e garante que os diversos requisitos de latência, largura de banda e confiabilidade para diferentes serviços possam ser atendidos em toda a rede física atual. Isso é chamado de fatiamento de rede (network slicing).

 Por que o fatiamento de rede é tão importante?

Ao privilegiar a conectividade móvel para cada tipo de uso com múltiplas redes virtuais em uma infraestrutura única de rede física, as operadoras podem disponibilizar rapidamente serviços especificamente adaptados para a necessidade de uso de cada fatia. Essa capacidade é especialmente importante nas implantações de cidades inteligentes, já que os dispositivos envolvidos nestes casos podem, direta ou indiretamente, afetar a vida das pessoas.

Pense, por exemplo, em uma rede de atendimento de urgência que tenha sido equipada com ferramentas avançadas de comunicação para ajudar os atendentes a coordenarem resgates rápidos e efetivos em emergências. Se ocorrer um desastre e os habitantes da cidade acessarem rapidamente as redes sociais ao mesmo tempo para enviar textos, imagens e vídeos, as operadoras de redes móveis ainda poderão garantir a conectividade para os socorristas, atribuindo-lhes um acesso de maior prioridade à rede móvel 5G – a fatia deles é prioridade indiscutível.

Preparando a rede: SDN e NFV

À medida que as cidades se tornem mais inteligentes e mais conectadas, as operadoras de rede precisarão garantir que suas redes sejam flexíveis e capazes de ser fatiadas para atender às crescentes e cada vez mais variadas necessidades da cidade inteligente e de sua população. A chave para isso é a virtualização na forma de rede definida por software (SDN) e de virtualização de funções de rede (NFV). As redes 5G precisarão ser adaptáveis, dinâmicas e programáveis de ponta a ponta, valendo-se, para isso, de construções virtualizadas. Portanto, à medida que as fatias individuais da rede sejam implementadas, seu desempenho será adaptado de forma autônoma e programática.

Oportunidades de receitas e ameaças à segurança

As redes preparadas para SDN e NFV abrirão as portas para novos tipos de uso, o que contribuirá para fluxos de receita inovadores e contínuos que vão além da simples conectividade e capacidade.

Qualquer coisa que aumente a diferenciação dos serviços de rede móvel certamente será analisada de perto pelas operadoras de redes já que a largura de banda móvel está rapidamente se transformando em uma commodity – na maioria das regiões, a verdadeira diferenciação é o preço. E a capacidade de assegurar as melhores fatias de rede para serviços essenciais que necessitem de métricas garantidas (como carros sem motorista e serviços públicos fornecidos pela própria administração municipal – atendimentos de emergência, segurança, visibilidade de dados etc.) – ajudarão não só a gerar receita para as operadoras, mas também a garantir a eficácia das tecnologias de ponta das cidades inteligentes na melhoria da vida dos cidadãos.

Patrícia Vello, presidente da Ciena no Brasil

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