Faixa de 6GHz sem licença pode trazer ganhos de US$ 112 bi para PIB brasileiro, diz economista

Segundo o professor Raúl Katz, se não for alocado mais espectro não licenciado no Brasil, em 10 anos pelo menos metade dos acessos banda larga acima de 150 Mbps ficarão congestionados.

A disputa pela destinação de todo o espectro de 6 GHz para o uso não licenciado continua acirrada em todo o mundo. E essa disputa também se materializou no workshop promovido hoje, 27, pela Anatel, que convidou especialistas para debater formas de ocupação do espectro brasileiro. Segundo o professor e economista Raúl Katz, se a Anatel mantiver a destinação dos 1200 MHz existentes nessa banda para os serviços não licenciados, essa decisão irá acrescentar, em 10 anos, novos US$ 112 bilhões para a economia brasileira.

Entre os efeitos positivos que essa decisão poderia promover, ressaltou o professor, estão a redução do congestionamento das atuais frequências destinadas para os serviços não licenciados (o WiFi é hoje ocupado nas frequências de 2,4 GHz e 5 GHz); o lançamento de novas soluções de IoT; a massificação das plataformas de realidade virtual e realidade aumentada; e geração de excedentes econômicos tanto para os fornecedores como para os consumidores. ” Os serviços não licenciados promovem a inovação muito mais rapidamente, e poderão gerar excedentes na produção de US$ 30 bilhões e no consumo de outros US$ 21 bilhões”, afirmou ele.

Segundo sua análise, se não for concedido todo o espectro para a ocupação não licenciada, a oferta de serviços de banda larga com mais de 150 Mbps acabará sendo bastante prejudicada no futuro, por causa do congestionamento. ” Os roteadores para velocidades mais altas são limitados e, se o Brasil tiver 46,2 milhões de acessos de banda larga em 2030 dos quais 29% com velocidades maiores, pelo menos metade desses acessos sofrerá o congestionamento”, vaticinou o professor.

“Agnóstico”

O Facebook, que também participou dos debates por intermédio de sua diretora jurídica no Brasil,  Ana Luiza Valadares, embora tenha se apresentado como “agnóstico” em relação às tecnologias usadas nas redes de telecomunicações, e um “entusiasta da 5G”, defendeu a alocação integral da faixa de 6GHz para o Wifi6. “O mundo precisa de 1200 MHz para o WiFi”, defendeu a executiva. Segundo Ana, a empresa está lançando diversos produtos VLP (Very Low Power), ou os produtos “vestíveis”, como relógios, óculos e roupas com acessos digitais que funcionam nesse espectro não licenciado. 

Do outro lado da mesa estão os operadores telefonia  móvel e os fabricantes de redes de telecomunicações, que argumentam que o espectro de 6GHz é a última fronteira de frequências médias que poderão ser usadas pela tecnologia 5G e, por isso, pelo menos uma fatia dessa banda deveria ser destinada para serviços licenciados. Esse debate será travado até 2023, quanto a Conferência da UIT (União Internacional de Telecomunicações) irá definir a sua ocupação.

Já para o professor Willian Lehr, dos Estados Unidos, que também participou do seminário da Anatel, os investimentos na tecnologia 5G só se justificarão quando ela passar a ser usada em diferentes verticais econômicas, como energia e indústria.

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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