Fabricantes nacionais vão apresentar nova reclamação de dumping sobre fibra chinesa
A decisão do governo de encerrar processo relacionado à prática de dumping na importação de fibra chinesa é encarada como um aprendizado pelas fabricantes que realizaram o pedido em 2022, mas não acaba com o mérito da reclamação pelas fabricantes nacionais envolvidas. Isso porque não foi a primeira vez que tal investigação se encerrou antes de um julgamento. Mas a cada novo pedido, um passo mais é dado.
A percepção é que, diferente de outras vezes, agora o governo reconheceu a existência de indícios de que a China subsidia as exportações de fibra e que os fabricantes praticam dumping (preços abaixo do custo de produção).
Para Marcelo Andrade, VP para telecomunicações da Prysmian, o trio de peticionárias locais (Prysmian, Cablena e Furukawa), meio caminho foi andado.
“Com uma nova petição, pretendemos reabrir o processo, agora com números mais detalhados que levantamos ao longo desse trâmite”, falou ao Tele.Síntese.
A seu ver, a situação já é insustentável e o impacto das práticas chinesas estão ferindo de morte a indústria nacional de fibra. “Já passamos do ponto de viabilidade de produzir no Brasil. Essa petição demonstra que já chegamos no limite, e se não der [um julgamento], cada empresa tomará sua decisão conforme sua estratégia”, observa.
Verificação in loco
O executivo conta que outros processos semelhantes terminaram antes da fase de “verificação in loco”. Desta vez, pela primeira vez, chegou neste momento.
“Nunca tinha sido feito. Eles vão aos mínimos detalhes, pedem informações de balancetes de 5 anos atrás registrados nos sistemas eletrônicos, notas fiscais. O que é natural, pois a reclamação termina na OMC, onde o governo tem que demonstrar com dados e sem nenhuma divergência porque adota medidas antidumping”, explica Andrade.
Ele diz que as fabricantes nacionais são unânimes em apoiar o pedido do trio ao MDIC. “Estou convencido de que vamos vencer em um novo processo. Neste caso, é permitido apresentar petição imediatamente depois do encerramento, pois tratou-se de divergência de números. Iremos com dados mais precisos”, diz.
Andrade descarta que a mudança de governo tenha influenciado no encerramento. “A gente apresentou a petição em um governo [Bolsonaro], que terminou de ser analisada em outro [Lula]. Em absolutamente todos os contatos e na verificação a relação foi extremamente profissional e técnica. Essa petição é um processo técnico, matemático”, salienta.