Fabricantes brasileiros de telecom miram crescer no mercado internacional
A desaceleração na construção de redes de telecomunicações no Brasil está fazendo fabricantes e fornecedores nacionais de equipamentos mirarem, cada vez mais, o mercado externo. As Américas são o foco principal das empreitadas, mas negócios na Europa e na África também integram o escopo das iniciativas internacionais.
A DPR Telecomunicações, por exemplo, planeja iniciar as atividades fora do Brasil ainda neste ano. O projeto de internacionalização, antecipado ao Tele.Sintese no ano passado, prevê a instalação de uma fábrica nos Estados Unidos. A empresa ainda não definiu o local nem o nome com o qual vai operar no território norte-americano, mas, segundo Vander Stephanin, vice-presidente da DPR, a iniciativa está em fase acelerada.
“Se o Brasil é um continente, os Estados Unidos também são – só que muito maior. Tem que ter toda uma estratégia. Não vamos simplesmente mandar produto daqui pra lá, não é exportação”, pontua. “Tem que ter toda uma logística e ver a melhor estratégia. Estamos trabalhando para colocar uma unidade fabril para fazer a montagem lá”, acrescenta, em conversa com o Tele.Síntese, durante o Encontro Nacional Abrint 2024, na semana passada.
Stephanin ressaltou que a empresa deve abrir uma subsidiária nos Estados Unidos para driblar o bairrismo do cliente norte-americano. De acordo com ele, o processo de migração para a fibra, uma vez que as redes fixas nos Estados Unidos ainda são bastante concentradas na tecnologia HFC, e a exclusão de concorrentes chineses criam uma oportunidade de mercado para a fornecedora brasileira.
“A rede [HFC] deles é bem feita, muito subterrânea, mais perene do que a nossa, mas chega um momento que não consegue mais entregar a qualidade e a banda que o cliente precisa. Eles precisam de fibra”, explica.
Os planos da DPR ainda incluem operações na América Latina e no Caribe. Neste caso, em vez de unidades locais, a empresa pretende atuar com representantes e parceiros. Com isso, a fabricação dos produtos continua em solo brasileiro. A fornecedora tem aproveitado projetos para estudar os países da região. Atualmente, ao lado da Claro, trabalha na construção de redes na República Dominicana.
De acordo com Stephanin, a DPR já tem projetos avançados para pelo menos quatro países latino-americanos. Em sua avaliação, a região “é o Brasil de dez anos atrás”.
“Temos que ser responsáveis com o futuro da companhia. O mercado brasileiro está parado, ninguém está construindo rede. A nossa infraestrutura é a mesma. Então, vou deslocar o produto que fabrico aqui para o mercado carente que precisa construir”, resume.
Padtec
Mais experiente nas operações internacionais, a Padtec também tem planos para ampliar a sua atuação externa. A empresa vai instalar um Centro de Operações de Rede (NOC, na sigla em inglês) na Colômbia, onde já atua há 15 anos, para atender todos os países latino-americanos que falam espanhol. Expandir as atividades nos Estados Unidos, na Europa e na África também integra o conjunto de iniciativas internacionais.
“Só o mercado brasileiro não traz o retorno para o tanto que investimos”, destaca o diretor presidente e de Relações com Investidores, Carlos Raimar Schoeninger. “Investimos de 15% a 20% em P&D – é muito. Então, temos que buscar novas geografias”, complementa.
Segundo o executivo, as exportações da empresa cresceram, em média, 50% ao ano nos últimos cinco anos. A estratégia agora prevê continuar atuando na África via canais, sobretudo nos países de língua portuguesa, e ampliar o portfólio na Europa por meio da parceira espanhola Televés.
Nos Estados Unidos, mercado para o qual vende equipamentos como transponders e switches há pelo menos três anos, a Padtec tem se limitado a fazer negócios com provedores regionais, mas avalia expandir o escopo de clientes.
“Ainda não atacamos os grandes, mas o objetivo é virar um player local lá também”, diz Schoeninger. “Conforme chineses são expulsos, nós somos convidados”, sintetiza o executivo.