Elliott entra na AT&T, questiona compra da Time Warner e defende a venda da Sky

Fundo abutre defende mudanças na gestão, venda da DirecTV e dos ativos na América Latina (incluindo a controladora da Sky Brasil), e foco da operadora no 5G em território norte-americano.

O fundo Elliott, do bilionário norte-americano Paul Singer, comprou US$ 3,2 bilhões em ações da AT&T. O valor não é suficiente para torná-lo controlador, uma vez que equivale a pouco mais de 1,21% do valor dos papeis da companhia atualmente. Ainda assim, a intenção é obter em breve assentos no conselho de administração, mexer na gestão, mudar a estratégia da gigante de telecomunicações e acelerar o retorno a acionistas.

Segundo documentos apresentados hoje, 9, pelo fundo, as ações da companhia registram desempenho pior que a média das empresas do S&P 500. Por isso, elaborou um plano de desinvestimento e reorganização corporativa que seria capaz, afirma, de valorizar em 65% as ações da tele até o final de 2021.

Críticas às fusões recentes

O plano foi proposto em uma carta enviada ao conselho de administração da AT&T. Nele, o fundo tece críticas à estratégia de compras realizadas pela AT&T nos últimos anos. Diz que a companhia comprou a DirecTV em 2014, no pico de valorização da TV por assinatura no mundo, e desde então, este segmento vem sofrendo erosão.

Diz, ainda, que a compra da Time Warner é uma incógnita estratégica. “A AT&T ainda precisa articular uma explicação racional para a estratégia por trás da aquisição da Time Warner”, diz. O negócio custou, em valores atualizados, US$ 109 bilhões à AT&T. “Deveríamos estar vendo benefícios claros a esta altura”, complementa o fundo.

Estas fusões, juntamente com a tentativa frustrada de comprar a T-Mobile em 2011, e que resultou na multa de rescisão mais cara da história das negociações dos EUA, seriam suficiente para questionar a estratégia de fusões e aquisições da AT&T nos últimos anos, defende o Elliott.

Mas a crítica não se esgota aí. O fundo ressalta que as aquisições foram acompanhadas de uma gestão “duvidosa” de capital humano. Isso porque após grandes compras, como da DirecTV e da Time Warner, a AT&T demitiu o comando de ambas as empresas, apesar de não possuir gente com a mesma experiência em seus quadros.

Sky Brasil na mira

O fundo de investimentos afirma que a AT&T tem uma série de ativos não estratégicos dos quais deveria se livrar. Não porque não sejam valiosos, mas porque são distrações do foco principal da companhia, que deveria ser a telefonia móvel e a 5G neste momento.

A lista destes ativos vendáveis inclui Sky Mexico, Vrio (controladora da Sky Brasil), as operações em Porto Rico, entre outros. “Qualquer ativo que não tenham uma boa explicação para fazer parte da empresa deveria ser considerado para o desinvestimento”, diz o fundo. Nisso, inclui ainda a DirecTV, a operadora no México e parte da infraestrutura terrestre nos EUA.

Foco em 5G

Para o fundo Elliott, a AT&T deveria parar de comprar empresas e focar na execução na telefonia móvel. A tele deveria canalizar investimentos para a 5G, uma vez que é a operadora com mais espectro nos EUA, além de possuir uma vasta infraestrutura virtualizada e backbone de qualidade. “Acreditamos que a migração para a 5G representa uma oportunidade única para a AT&T superar a Verizon no mercado móvel, um marco de incrível importância e a qual a empresa não pode deixar passar”, diz.

Recomenda ainda a contratação de novos diretores, a adoção de melhores práticas em gestão para supervisionar tanto o conselho, quanto a diretoria. Pede a formação de um comitê de estratégia e operações no conselho de administração que seria responsável pela venda de ativos.

O fundo Elliott tem já certa tradição em sacudir o mercado acionário e a gestão de empresas consolidadas. Na Europa, por exemplo, entrou de cabeça na Telecom Italia, reduzindo a influência do grupo francês Vivendi sobre as decisões do grupo que é dono da TIM Brasil. Em 2016, pouco depois de a Oi pedir recuperação judicial, o fundo tentou, sem sucesso, se tornar controlador.

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Rafael Bucco

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