EllaLink conclui em Fortaleza ancoragem do cabo que ligará o Brasil à Europa
A EllaLink anunciou hoje, 14, a ancoragem do cabo que vai conectar o Brasil diretamente à Europa. Este é o primeiro cabo de alta capacidade ligando os dois pontos, sem necessidade de dados passarem pelos Estados Unidos.
O sistema de cabos será instalado por dois navios distintos da Alcatel Submarine Networks. Um deles atuará em águas brasileiras, enquanto outros instalará o resto do sistema a partir de Sines, Portugal. Durante o trajeto, o cabo será colocado a quase 6.000 m de profundidade.
Segundo explicou Diego Matas, Diretor de Operações (COO), ao Tele.Síntese, as embarcações vão se encontrar no meio do Atlântico por volta de fevereiro, quando as pontas serão juntadas. A expectativa da empresa é ativar o cabo em maio de 2021.
A ponta brasileira sai da Praia do Futuro, em Fortaleza (CE). Ali, a EllaLink utiliza a landing station da Telxius, empresa de infraestrutura do grupo espanhol Telefónica (dono da Vivo no Brasil). Ao todo, o cabo terá 6 mil km de extensão, 72 Tbps de capacidade. A latência – o tempo levado para um dado ir e voltar de uma ponta a outra – será de 60 ms, metade do tempo estimado para as rotas que passam pelos EUA.
Clientes
Do planejamento à construção, o cabo deverá custar os equivalente R$ 1 bilhão. Ele será ativado já com uma carteira de clientes. Os principais são o Bella, projeto de interconexão acadêmicada Europa, parceiro do sistema RedClara, que liga instituições de pesquisa da América Latina. O grupo vai usar o cabo para transportar imagens do espaço sideral e da Terra feitas no âmbito do Projeto Copernicus.
Também são clientes âncora operadoras da Ilha da Madeira e do Cabo Verde. Além de chegar a Portugal, o cabo terá ramificações nestes locais e seguirá por via terrestre ainda para Lisboa (Portugal), Madrid (Espanha) e Marselha (França), onde fará a interconexão com data centers. No Brasil, vai utilizar a rede da Telxius para chegar aos data centers mais movimentados de São Paulo e Rio de Janeiro. Serão conectados data centers da Equinix e da Interxion.
De Dilma a Bolsonaro
Embora tenha sido “anunciado” pelo governo brasileiro na semana passada, o cabo não tem qualquer participação do governo Bolsonaro nem de empresa estatal em seu lançamento. Trata-se de um projeto 100% privado, apesar de iniciado ainda em 2014 pelo governo Dilma Rousseff.
Naquela época, o plano previa a criação de uma joint venture entre a Telebras e a empresa espanhola Isla Link para construir um cabo que permitisse a troca de dados entre Brasil e Europa sem passagem pelos Estados Unidos. Edward Snowden havia denunciado a espionagem dos norte-americanos sobre autoridades e empresas brasileiras e europeias. E já se sabia que seria complicado para o governo obter recursos para financiar a obra.
No entanto, em 2018, no governo de Michel Temer, essa parceria foi rompida por parte da estatal brasileira, que retirou-se do negócio apontando falta de recursos. Ainda havia expectativa de se manter como cliente do cabo. A decisão que coube ao governo Bolsonaro foi justamente selar a confirmação de que a Telebras abdicava inclusive dos direitos irrevogáveis de uso da estrutura, em 2019, ao não reservar dinheiro para tanto no orçamento da União. Com isso, o cabo passou a ser 100% europeu.