Digital Colony está de olho nos “múltiplos” do mercado de infraestrutura

Enquanto prestadoras de serviços de telecomunicações perderam valor de mercado nos últimos anos, as detentoras de infraestrutura ganharam - e muito.

O aporte bilionário que o fundo norte-americano Digital Colony quer fazer no Brasil pode ser explicado pelo retorno oferecido por empresas de infraestrutura de telecomunicações. O fundo comprou do Pátria 100% da Highline no final de 2019. Já ali tinha em vista que o Brasil passaria por um festival de consolidações e ofertas de ativos em infraestrutura, a preços módicos para quem tem moeda estrangeira.

Os aportes vêm a calhar para o fundo, que busca rentabilidade em um período da economia global com muita liquidez e os juros dos investimentos mais conservadores – como títulos de tesouro americanos e europeus – têm margem negativa.

Enquanto conglomerados de telecomunicação venderam torres ou fizeram spin offs na última década em busca capital para expandir em outras frentes ou para amortizar dívidas, diferentes fundos se deram conta de que o retorno desses ativos é alto, diluído ao longo do tempo.

No setor de telecomunicações brasileiro, esses movimentos ganharam ainda um empurrãozinho com a flexibilização promovida pela Lei 13.879/19, que passou a prever renovação das outorgas de espectro. Ao mesmo tempo, infraestrutura virou “commodity” (exceto pelo espectro) para as operadoras, que buscam sócios para acelerar a construção de infraestrutura e acordos de compartilhamento. São os casos de TIM e Vivo, que têm tanto acordos de RAN Sharing, como buscam parceiros para a construção de infraestrutura fixa.

Múltiplos

Ao adquirir as torres da Oi, a operação móvel, e quiçá a unidade de fibra óptica, o Digital Colony passaria a ter em mãos ativos para explorar como operador neutro de rede. E espera que esse tipo de empresa tenha rentabilidade similar à vista no mercado norte-americano de infraestrutura de telecomunicações.

Por exemplo, nos Estados Unidos, as maiores “torreiras”, empresas donas de torres e redes de fibra, são American Tower, SBA (ambas com ativos no Brasil) e Crown Castle. Essas empresas aparecem listadas na bolsa. Assim como AT&T e Verizon.

Conforme o site GuruFocus, que mede a relação EV/EBITDA (valor de mercado sobre lucro antes de impostos e depreciações), a American Tower tem um EV/EBITDA de 29,35x hoje. A SBA estaria com relação de 44,26x. E a Crown Castle, 30,38. A AT&T, por sua vez, aparece com EV/EBITDA de 7,5x no momento, pelo mesmo GuruFocus. Enquanto a Verizon registra 8,63x. Trocando em miúdos, os acionistas enxergam maior possibilidade de crescimento e retorno para investimentos feitos nas torreiras.

Interesse na bolsa

A consultoria Omdia está elaborando um estudo que analisa também como o interesse do investidor por empresas de infraestrutura em telecomunicações cresceu, enquanto o apelo das ações das operadoras caiu nos últimos cinco anos. Levantamento preliminar ao qual o Tele.Síntese teve acesso, realizado pela analista Sonia Agnese, indica que o valor da ação da American Tower, nos Estados Unidos, subiu 180% no período. Os papeis da rival SBA subiram 171%.

Já no caso das operadoras, houve desvalorização. Os papeis da AT&T perderam 9% do valor nos últimos cinco anos. Os da América Móvil, 30%. E os do grupo Telefónica, 62%. O índice S&P500 teve alta de 49% no mesmo período.

“Os investidores demonstram muito interesse pelas empresas de infraestrutura, uma vez que estas geralmente possuem um retorno garantido por contratos de longo prazo”, explica a analista. Ela ressalta ainda que o modelo coloca a necessidade de investimento de capital (Capex) nas mãos das torreiras, enquanto cabe às telcos administrar os custos da oferta dos serviços, trazendo equilíbrio à contabilidade das companhias.

Na America Latina, as maiores empresas de infraestrutura passiva são, por ordem, ATC, Telesites (pertencente à América Móvil), Phoenix Tower e Telxius (da Telefónica), conforme a Omdia. A Highline sequer aparece na lista.

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Rafael Bucco

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