Desligamentos em TV paga, telefonia fixa e móvel levam a encolhimento do setor

Panorama elaborado pela Anatel aponta que, entre setembro de 2018 e setembro de 2019, o setor apresentou retração em quantidade de acessos, embora segmentos como a banda larga fixa e o celular pós-pago tenham registrado expansão.

O setor de telecomunicações encolheu em quantidade de usuários entre setembro de 2018 e setembro de 2019, conforme os dados mais recentes divulgados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

No relatório “Panorama Setorial de Setembro de 2019“, publicado pela agência na última semana, registra-se um encolhimento de 2,8% na base de usuários de serviços de telecomunicações. Os desligamentos foram registrados a em serviços que já sofriam com a saída de usuários há pelo menos três anos, como a telefonia fixa (STFC), a TV paga e o móvel pré-pago.

Em setembro de 2018, o setor de telecomunicações brasileiro registrava base total de 321,1 milhões de acessos. Somam-se aí todos os serviços: TV por assinatura, telefonia fixa, telefonia móvel pré e pós-paga, banda larga fixa. Em setembro de 2019, o número caiu para 312 milhões de acessos, uma variação negativa de 2,8% em 12 meses.

Em termos proporcionais, a TV paga foi o segmento que mais sofreu no período, com uma retração de 9,1%. Caiu mais que a telefonia fixa, que despencou 8,7%, ou a telefonia móvel, que encolheu 2,6% em função dos desligamentos de chips pré-pagos.

Desempenho TV paga

A TV paga perdeu 1,6 milhão de clientes, e terminou setembro com 16,2 milhões de acessos. O saldo foi negativo no uso de quase todas as tecnologias. A exceção foi a fibra óptica, que cresceu 12,6% na esteira da entrega de combos de banda larga. Mas ainda tem baixa penetração, sendo usada por apenas 745,1 mil clientes de TV por assinatura.

O panorama da Anatel mostra que o serviço de TV no país ainda está longe de ser universal, e atingiu apenas 23,3% dos domicílios. Os principais mercados são Distrito Federal, onde está presente em mais de 40% das residências, São Paulo e Rio de Janeiro, onde a densidade é de 30% a 40%.

Os motivos para isso são vários. A pirataria, a concorrência dos serviços de streaming, a recessão econômica registrada entre 2015 e 2016 e a preferência do brasileiro pela TV aberta são efeitos que contribuíram para a diminuição de interesse pelo serviço, que beirou os 20 milhões de usuários em 2015.

Desempenho no STFC

A telefonia fixa desligou 3,3 milhões de linhas em 12 meses, e terminou aquele mês com 34,8 milhões de clientes. A maior parte da queda se deu entre as concessionárias, que tiveram redução de 10,9% nos acessos. Mas as autorizadas também diminuíram, perderam 6% dos usuários.

Com maior penetração que a TV paga, o STFC alcançava 50% das residências em setembro de 2019. A maior densidade se via no Centro-Sul e no Acre. Em estados do Nordeste e Norte (PA, AP, MA, PI, CE, RN, PB e AL), a densidade era inferior a 20%.

A tendência é de continuidade do desinteresse pelo serviço, que levou inclusive a mudanças da Lei Geral de Telecomunicações ano passado. Para este ano, a Anatel irá definir um regulamento que permitirá às concessionárias abandonarem o regime de concessão, migrando para o de autorização. Dessa forma, poderão investir em banda larga e deixar de lado metas de cobertura que versavam exclusivamente sobre telefonia fixa.

Desempenho do móvel

O Brasil tinha 228,2 milhões de acessos móveis em setembro de 2019. As grandes operadoras desligaram 6,2 milhões de chips em relação a setembro de 2018, enquanto entrantes e empresas de pequeno porte ativaram 106,3 mil chips. O saldo final foi o desligamento de 6,1 milhões de acessos.

A Vivo segue líder do mercado móvel, com 73,8 milhões de clientes, seguida por Claro (56,5 milhões), TIM (54,5 milhões), e Oi, (37,5 milhões). A partir deste ano, a distância entre segundo e terceiro colocados neste ranking aumentará, com a adição à carteira da Claro dos 3,3 milhões de clientes da Nextel, cuja compra foi concluída em dezembro por R$ 1,8 bilhão – descontada da dívida. Os rumores de venda da unidade móvel da Oi a um ou a todos os grandes rivais também deve modificar o mercado, caso se confirme.

O cenário visto em setembro de 2019 era ainda o de retração forte no pré-pago, com o fim do chamado “efeito clube”. Este efeito consistia na posse pelo usuário de mais de um chip, de diferentes operadoras, por ser mais barato realizar chamadas entre números de uma mesma operadora. A revisão das tarifas de interconexão feita pela Anatel anos antes, no entanto, derrubou o custo de interconexão, reduziu muito a diferença de preço entre a chamada feita para dentro ou para fora da rede de uma operadora móvel, quase acabando com ofertas do tipo.

As operadoras, então, passaram a lutar pelo filão que gasta mais: o do pós-pago, buscando atrair o cliente do pré para o plano controle, e o do controle, para o pós-pago puro, garantindo receita recorrente e margem mais alta a partir da oferta de serviços de valor adicionado. O pós cresceu 5,8% na comparação ano a ano. O pré caiu na mesma proporção, embora ainda seja maioria do mercado, com 53,3% da base.

A densidade do móvel no país não para de cair. Chegou a ser maior que 139% em 2015. Agora, está em 98,8%. Ao mesmo tempo, as tecnologias deram um salto, e hoje mais de 80% dos acessos são em banda larga móvel. O 4G foi a única tecnologia que adicionou usuários no período, enquanto 2G e 3G caminham para o fim.

Desempenho da banda larga fixa

Enquanto TV e STFC encolhem, a banda larga fixa desponta como serviço que permite a convergência, e, talvez por isso mesmo, cresceu mais do que os dados oficiais divulgados pela Anatel, de acordo com entidades setoriais. Além disso, o uso da tecnologia FTTH vem impulsionando a expansão desse mercado.

O serviço de banda larga terminou setembro com 32,7 milhões de contratos ativos, um aumento de 2 milhões de acessos, ou seja, de 6,5%. A Claro, que incorporou definitivamente a marca NET a seu portfólio de ofertas em 2019, lidera o segmento com 9,5 milhões de clientes. É seguida pela Telefônica, com 7,2 milhões. E a Oi, com 5,5 milhões.

As prestadoras de pequeno porte, critério elaborado pela Anatel para classificar empresas com participação de mercado inferior a 5% nas cidades onde atuam, no entanto, já são maiores. Em 2019 se transformaram no principal grupo a explorar o segmento, e somavam, em setembro, 9,7 milhões de acessos.

Em termos de densidade, o relatório da agência mostra que ainda há muito espaço para a banda larga fixa crescer país afora. Isso porque 47,3% dos domicílios contam com banda larga fixa. Apenas nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, além do Distrito Federal, a densidade é superior a 60%. Em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, tem-se entre 45% e 60%. No restante do país, não se ultrapassa os 45% de penetração.

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Rafael Bucco

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