Demanda das grandes operadoras impulsiona mercado de produtos ópticos
Os fabricantes de produtos para redes ópticas estão navegando em mares azuis. Embora o país esteja próximo de entrar em recessão técnica, conforme dados preliminares do Banco Central divulgados nesta segunda-feira, 12, e que apontaram retração na atividade econômica pelo segundo trimestre seguido, quem produz fibra e aparelhos ópticos para redes de telecomunicações aposta em expansão de dois dígitos “altos” até o final de dezembro.
A expectativa, que já era boa em função da alta demanda dos provedores regionais de banda larga, ficou ainda melhor com a confirmação estratégica das operadoras. Algar, Claro, Oi, TIM e Vivo, todas estão com foco em expansão das redes ópticas de acesso usando tecnologia GPON.
Investimento geral
A Claro, por exemplo, promete terminar 2019 com mais de 1,5 milhão de homes passed (HPs, residências ou estabelecimentos aptos a assinar seu serviço FTTH). A companhia já estabeleceu que vai usar rede óptica de acesso em vez do cabo todas as novas cidades nas quais entrar daqui para a frente. Segundo executivos da tele, o preço de construção de redes apenas com fibra já se equipara, e em muitos casos é mais barato, que o preço da construção com HFC, o cabo híbrido que usa nas grandes cidades.
A Oi divulgou um plano estratégico em junho em que decreta foco total na fibra para alavancar seus diferenciais competitivos. A operadora pretende migrar clientes do aDSL para a fibra, interrompendo a saída de clientes para os ISPs e ganhando novos assinantes. Para isso, mantém em voga a estratégia de reúso de seu backbone nacional de 350 mil km de extensão.
Algar, TIM e Vivo já tinham seus planos delineados há alguns anos. A Vivo entrou de vez na competição pelo mercado de banda larga FTTH com a compra da GVT em 2015, e desde então só amplia o número de cidades fibradas, substituindo a tecnologia aDSL pelo GPON, com a meta de chegar a 15 milhões de HPs até 2020.
A TIM, que começou o TIM Live com o conceito FTTC, em que a fibra chega ao armário, investe atualmente no FTTH e planeja ter 4 milhões de homes passed até 2021.
Segundo as fabricantes, apenas a Vivo já era uma grande compradora de equipamentos e fibra ópticos para o acesso. Agora, com a aceleração dos investimentos de Claro e Oi, a balança antes equilibrada entre as teles e os ISPs pode pender para as grandes.
Mais vendas
Para atender o aumento da demanda, as fabricantes se preparam. A Furukawa está ampliando investimentos ano a ano, há pelos menos três anos. Em 2019, vai realizar aportes de R$ 58 milhões em suas unidades a fim de produzir mais para o mercado brasileiro. O valor representa um incremento de 20% sobre o investido em 2018.
“Esperamos um aumento das vendas de produtos ópticos de 25% a 30% este ano”, afirma Celso Motizuqui, gerente geral de vendas da Furukawa. A empresa é uma das líderes deste mercado. Segundo ele, os ISPs ainda são seus principais compradores, mas já se vê aumento da demanda das operadoras. “Também há aquecimento das vendas na América Latina, e ampliação de nossas exportações”, completa.
Para a Furukawa, o mercado óptico se manterá quente por anos. Primeiro veio a onda dos ISPs, ainda sem previsão de fim. Agora as grandes começam a consumir mais, depois virão aportes robustos em IoT, e com eles, em infraestrutura de transporte. “Acreditamos que por pelo menos dois ou três anos teremos alta demanda por FTTH. A onda seguinte está ligada à IoT em cidades conectadas, casas conectadas, carros autônomos. E com IoT haverá necessidade de reforço de backbone”, avalia.
Mais cabos…
As estimativas das fabricantes apontam que a quantidade de fibra produzida no país só faz crescer. Em 2017, eram feitos 5,7 milhões de Km de fibra. Em 2018 o número já saltou para 7,7 milhões. Este ano, deve encerrar em 8,4 milhões. Alguns fabricantes são um pouco mais conservadores na quantidade total – há quem diga que não passará dos 8 milhões em 2019. Mas não negam o crescimento continuado.
Com a definição da Oi de mergulhar na disputa pelo assinante de banda larga FTTH, há quem já expanda a produção de olho no novo contrato. É o caso da Prysmian. A fabricante conclui até outubro mais uma ampliação em sua fábrica no interior de São Paulo.
“Vamos aumentar em 25% nossa capacidade produtiva de cabos ópticos. Com um investimento de US$ 4 milhões, vamos acrescentar 500 km de capacidade de produção anual”, diz Marcelo Andrade, diretor do negócio de telecomunicações dentro do grupo italiano. As vendas do grupo crescem entre 5% e 10% ao ano.
…mais equipamentos
Outra fabricante que está aumentando a produção local diante do incremento da demanda das teles é a Corning. A fabricante estadunidense se especializou em vender equipamentos para as redes, como caixas de distribuição e cabos drop pré-conectorizados no Brasil. A fábrica da empresa em Jacarepaguá (RJ) vai dobrar de capacidade até o final de dezembro. De 600 funcionários, a empresa passará a ter 700. Este aumento de produção se dará em função da demanda da Oi.
Para este ano, a companhia espera crescimento de dois dígitos “altos” no faturamento local, conforme Tadeu Viana, diretor de vendas para a América Latina e Caribe da Corning. “A demanda pelos equipamentos para redes ópticas continuará forte este ano, e em 2020. Na verdade, achamos que este mercado só vai saturar quando a fibra for majoritária”, diz. Conforme os dados mais recentes da Anatel, de junho deste ano, apenas 7,2 milhões dos acessos banda larga no Brasil eram em fibra, dos total de 31,6 milhões de conexões. O xDSL ainda tinha 11 milhões de usuários, e o cabo, 9,5 milhões.
Panorama
Quando o país terá mais fibra do que xDSL ou cabo, ainda não se sabe. Dados da Fiber Global Association dão conta de que existiam em setembro de 2018 14 milhões de HPs no Brasil. Naquela época, a Vivo tinha 8 milhões de HPs, enquanto os ISPs, 5,5 milhões. A Claro ainda não era contabilizada, uma vez que seu FTTH era um único projeto piloto. Oi e TIM possuíam 720 mil e 761 mil HPs, respectivamente. “A gente espera que em 2019 os números vão ser bem mais importantes para as incumbentes”, diz Eduardo Jedruch, presidente do capítulo da Fiber Global para a América Latina.
Ele, que também trabalha na Commscope, diz que a expectativa com a entrada das grandes de cabeça neste mercado significará aumento das receitas para todos os fabricantes. “Os ISPs têm relevância em termos de HPs, mas não usam a mesma arquitetura das incumbentes. Os desafios das incumbentes em grandes cidades requerem tecnologia de maior qualidade. Por isso o custo por casa passada de uma telco é muito maior que o de um ISP no interior do Brasil. Então os níveis de Capex [investimento] são maiores”, ressalta.
Para Jedruch a dobradinha ISPs/grandes operadoras ainda vai se acumular com a demanda por fibra necessária para conectar as antenas das novas redes móveis 5G. “Nossa previsão até 2023 é de que as redes FTTH, em termos de HPs, vão crescer 127% na região. O número de assinantes da tecnologia vai aumentar 300% na América Latina”, diz. O Brasil será o condutor desse crescimento, seguido por México. E se a economia ajudar, as fabricantes seguirão com vento em popa.