Data centers só de IA vão demorar 3 anos para chegar ao Brasil

Brasil tem desafios a resolver em relação à distribuição de energia, apontam especialistas. Até lá, os investimentos serão canalizados a unidades híbridas, que tenham parte da carga dedicada a cloud, e parte a IA.

Embora o Brasil tenha atributos positivos para atrair data centers de alta capacidade baseados em GPUs, como os que são exigidos para o processamento de inteligência artificial (IA) generativa, ainda vão se passar três anos até que o país hospede tais infraestruturas. Isso porque há uma série de desafios que precisam se resolvidos.

A estimativa temporal é de Rodrigo Radaieski, diretor de serviços das Ascenty, uma das principais detentoras de data centers na América Latina, e que participou na manhã desta terça-feira, 3, do T.S Data Center Cloud Summit.

Segundo o executivo, a construção dos centros de alta capacidade para IA no país, e também na América Latina, acontecerá depois que o mercado em ebulição dos Estados Unidos se estabilize. Até lá, o que se verá em expansão por aqui serão estruturas híbridas, em que há convivência de hiperscalers para nuvem e racks dedicados a IA.

Outro motivo para a demora do desembarque destes estabelecimentos dedicados aqui é insuficiência da malha energética. “O Brasil precisa se preparar em termos de distribuição de energia. Se hoje chega um data center que requer 100 MW de energia, dificilmente vai ter essa disponibilidade em algum local sem investimentos em distribuição. E precisará de uma rampa para que chegue nestes 100 MW. Inicialmente 20 MW, depois 30 MW, e em 4 ou 6 anos é que vai chegar nos 100 MW”, apontou Radaieski.

Bruno Assaf, Country Director de IA, Cloud, Cyberbackup e Datacenter da Dell ISG Brasil, concorda. Ele explica que os data centers de IA necessitam de uma infraestrutura robusta que reúna coleta de dados, rede de telecomunicações, processamento de dados e energia elétrica.

“A interconexão do dado precisa ser muito rápida. Não estamos mais falando de 10, 20 Gbps, estamos falando de 400 Gb Ethernet para que as GPUs recebam dados na velocidade que precisam. Estamos falando de armazenamento numa escala de até 40X do que o que existe hoje. E estamos falando de automação para fazer a alocação desses workloads nas diferentes fazendas de GPUs”, comentou Assaf.

A Embratel tem buscado as eficiências tanto para uso próprio de IA, como para fornecer as altas capacidades de transmissão que os novos data centers vão precisar. Paulo Venâncio, Diretor de Soluções Digitais e Pré-venda de Serviços de TI da empresa, também prevê ainda alguns anos de unidades híbridas no país, e lembra é preciso um plano estruturado. “O Brasil tem potencial enorme para se tornar um centro de processamento de IA mundial. Mas precisa de uma projeção de investimentos que olhe para a frente, associado ao uso híbrido das infraestruturas”, observou.

Wesley Barbosa, Diretor Comercial da Elea Digital Data Centers, acrescenta ainda que há o desafio de tornar mais eficiente a dissipação do calor dos data centers. “Hoje estamos falando de um data center para cloud que exige 10 a 15 KW por rack, e ambientes de GPUs acima de 100 KW, são 10x mais, isso é real. E traz desafios para este mercado. Não apenas exige matriz energética renovável, como tem o desafio de combater o calor. Ar condicionado já não é suficiente. Aí vem o conceito de edge, vamos precisar de processamento espalhado”, acrescentou.

A primeira edição do T.S Data Center Cloud Summit é online e continua amanhã, 4, aqui. Participação livre.

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Rafael Bucco

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