Data Centers com crescimento anual de dois dígitos
O crescimento do mercado de data centers da América Latina está em alta. A taxa anual é de de 12,9% entre 2019 e 2023, de acordo com Relatório da Frost & Sullivan. Somente em infraestrutura as a service (IaaS) haverá uma alta de 32,2%. Outros
serviços, como o de colocation, também puxam o crescimento com a expansão de provedores de nuvem, além da terceirização parcial ou completa de data center por empresas e operadoras de telecomunicações. Com a implantação do 5G, haverá crescimento na demanda por infraestrutura e plataformas de computação de borda multiacessos.
Os principais players do mercado de data center vêm diversificando suas atividades para além dos serviços de hosting, colocation, armazenamento e cloud, buscando sinergias com a área de conectividade e maior crescimento. A maior parte tem a abordagem carrier neutro e, com isso, passa a contar com links de todas as operadoras, presença de cloud providers hyper scale, além de players de content delivery network (CDN), criando um grande ecossistema em que todos falam com todos.
Com 240 data centers em 31 países e 70 mercados – sendo 17 na América Latina, incluindo Brasil, Colômbia, Chile Peru e México –, a Equinix está entre os que mais apostam nessa estratégia. No Brasil, são sete unidades, a maior parte tier 3: cinco em São Paulo e dois no Rio de Janeiro, com previsão de mais dois até 2024. Globalmente, a interconexão é feita por meio de 2 mil operadoras e 10 mil clientes, incluindo mais de 3 mil provedores de cloud e TI e 4,7 mil clientes corporativos. “O mercado está aquecido, a maior parte dos aplicativos móveis roda nos data centers e houve uma aceleração da digitalização durante a pandemia. No início, a demanda era de e-commerce e de telcos; depois avançamos para os setores financeiro e de provedores de nuvem. A Equinix não tem a pretensão de ter todos os serviços de data center, mas temos a pretensão de conectar todos os clientes dentro de nossos data centers, num grande ecossistema”, destaca Eduardo Carvalho, managing director para a América Latina da Equinix.
A empresa oferece o Equinix Fabric, serviço global de interconexão definido por software, possibilitando que empresas troquem seus dados sob demanda e entre mercados por meio de conexões privadas. O serviço está disponível em mais de 60 mercados, inclusive
São Paulo e Rio de Janeiro. “O Fabric é um grande peering das empresas de cloud. Muitos clientes nos procuram para se conectarem à Microsoft Azure, à Amazon Web Services, ao Google Cloud, à Oracle Cloud Infrastructure, à IBM Cloud, à SAP Cloud. A interconexão já representa 30% de nossa operação e hoje somos o maior hub de interconexão do mundo. É possível, a partir do Brasil, comprar serviços financeiros em Londres”, destaca Carvalho, que continua a apostar no crescimento da empresa.
A Elea Digital, empresa criada há dois anos pela Piemonte após a compra dos ativos de data centers da Oi e da Globo.com, aproveita as sinergias que ainda mantém com a operadora e com a V.tal, rede neutra de fibra óptica da Oi. A empresa compra infraestrutura da V.tal e de outras operadoras. “A sinergia vem do fato de que todos esses data centers eram core de rede da Oi e da V.tal, que são clientes. O nosso portfólio é simples, não fazemos full outsourcing, nosso foco é colocation e interconexão. Qualquer provedor de serviços gerenciados é extremamente bem-vindo porque queremos fomentar esse ecossistema”, diz Tito Costa, Chief Revenue Officer (CRO) da Elea Digital.
A empresa tem sete data centers, sendo que três são tier 3 – no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília –, além de unidades em Porto Alegre e Curitiba. Costa diz que a proposta é de construção de data centers menores, edge, o que é um conceito importante para
conectividade. “Estamos estudando expansões para outras capitais para levar o edge para a ponta, trazendo dois mercados: o corporativo que herdamos da Oi e o de cloud services providers e content services providers, mostrando que há uma plataforma neutra em cinco cidades do país”, informa Costa.
Parcerias
A Oracle utiliza as instalações da Ascenty para criação de seu próprio data center, informa Moises Medeiros, vice-presidente de Vendas, Telecom e Mídia da Oracle Brasil. Entre os clientes está a TIM, que moveu toda a sua arquitetura de sistemas para a nuvem e precisa de alta disponibilidade para serviços críticos como atendimento, operações internas, faturamento, arrecadação e gestão de plataformas digitais. “A fim de prover a melhor solução e a menor latência, a Oracle divide o contrato com a Microsoft Azure, e os data center das duas provedoras são conectados por um link direto de fibra óptica fornecido pela Ascenty”, explica Medeiros.
A parceria entre as duas empesas começou em 2019, para conectar a Microsoft Azure e Oracle Cloud, com a execução dos processos em ambos os ambientes com redundância. A mesma estratégia foi adotada para a bolsa de valores brasileira B3, com previsão de migração em dez anos para apoiar o crescimento da bolsa de valores brasileira. Nos primeiros cinco anos, irão os sistemas mais aderentes à nuvem como a clearing de câmbio, Banco B3, seguros, balcão. Na segunda fase, haverá desenvolvimento de novas tecnologias cloud first para migração de sistemas em que não há soluções de mercado.
Crescimento
A Ascenty é uma joint-venture entre a americana Digital Realty e o fundo canadense Brookfield, com foco em três verticais: colocation para os hyper scale; cloud connect para multicloud; e rede de telecomunicações. A rede tem 5 mil km em anel com três a quatro
rotas diferentes para conexão de 19 data centers em operação no Brasil, dois no Chile e dois no México. Há ainda cinco data centers em construção no Brasil. “Cerca de 80% dessa rede são cabos subterrâneos de 288 fibras para atender a nossa demanda e a de mercado. A rede também interconecta todos os data centers de mercado, com pontos de presença em todos os concorrentes. Provemos serviços de fibra apagada, LAN to LAN tradicional, rede MPLS ou DCI para oferta de Waves de altíssima capacidade”, diz Marcos Siqueira, vice-presidente de operações da Ascenty.
Apesar de ter rede própria, a empresa se posiciona como um data center neutro. “Todas as carriers têm ponto de presença em nossas instalações e podem comercializar seus serviços. São incentivadas, porque trabalharmos com custo de cross connect muito baixos. A rede também alcança as land stations dos cabos submarinos em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza. Somos o único grande player de mercado que já tem data center no Nordeste, em Fortaleza. Sempre estamos avaliando novos mercados”, destaca Siqueira.
Recife
Hub no Recife Novas oportunidades poderão surgir em Recife. Rafael Dubeux, secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação da prefeitura do Recife, quer fazer da cidade um hub de atração de data centers, aproveitando a sinergia das 400 empresas de tecnologia instaladas no Porto Digital. “Já temos um projeto de um cabo submarino e a construção de dois data centers, um deles próximo à land station do cabo”, diz Dubeux.
Um dos novos data centers está sendo construído pela Um Telecom numa área de 1,3 hectare no Parqtel. O investimento inicial é de R$ 40 milhões com geração de 64 empregos diretos para obras iniciadas ainda este ano com conclusão prevista para o final de 2023. Ao todo deverão ser investidos R$ 150 milhões no projeto, composto por três fases, no prazo total de dez anos. O data center da Um Telecom será o primeiro de classificação tier 3 de Pernambuco.
A Embratel tem cinco data centers: um no Rio de Janeiro, dois em São Paulo, um em Brasília e um em Vitória. Gustavo Busse, gerente de negócios internacionais e produtos da Embratel, destaca a grande sinergia entre os serviços de data center e de conectividade da operadora. Ele observa que as empresas estão virtualizando cada vez mais suas aplicações, colocando-as em data center, mas usando a internet para interconexão. Só que a internet é sujeita a ataques e tem instabilidades para soluções empresariais.
“Nos nossos data centers temos uma rede baseada em nosso backbone fotônico de baixa latência e alta capacidade, resiliência e redundância com até três rotas. Podemos atender com links ponto a ponto e mantendo o tráfego isolado com a menor latência entre os
grandes centros urbanos. Em relação aos data centers de terceiros também temos pontos de presença e muitos clientes querem alcançar as nuvens públicas numa abordagem multicloud”, comenta Busse.
Em âmbito regional, a empresa utiliza a infraestrutura do Grupo América Móvel de rede e data center. Em nível global, o modelo é de parcerias. “Nesses casos oferecemos a conectividade via projeto com bandas físicas dedicadas. Agora temos em desenvolvimento uma solução de portfólio em que vamos oferecer conectividade de alcance global. O modelo de negócios será aderente a nuvem e pagamento sob demanda”, anuncia Bosse. Thiago Viola, diretor de cloud pública da IBM para América Latina, lembra que a IBM adquiriu, em 2013, a Softlayer que já tinha 22 data centers no mundo. Depois lançou o Domix, solução de plataforma como serviço de soluções como o Watson, de IA. Em 2016, uniu as duas plataformas na oferta IBM Cloud, que inclui computação quântica e
conta com 46 data centers no mundo.
“Hoje não temos mais infraestrutura própria, alugamos data centers de terceiros. No Brasil, temos dois data centers na Ascenty e um na Odata. Os três estão interligados por rede de várias operadoras, para garantir a estabilidade de nossos serviços em rede privada que o cliente usa sem custo. Temos ainda uma parceira forte com a Equinix para garantir a interconexão com as clouds públicas”, diz Viola.
A Odata é uma empresa do fundo Pátria e pode ter sinergias com a Winity, do mesmo grupo; e com a Cyrus One, que tem 52 data centers no mundo e com a qual tem parceria para ofertas internacionais. São três data centers em São Paulo, um na Colômbia e um no
México, além de dois em construção no Brasil e um no Peru. “Nosso foco é colocation e somos agnósticos em relação às operadoras. Somos ponto de interconexão com o Ponto de Troca de Tráfego (PTT). Nossos racks estão interligados por uma rede definida por software, permitindo troca de tráfego e negócios. Temos um marketplace em que os clientes podem oferecer ou consumir serviços por meio dessa rede SDN com latência reduzida e baixo custo”, relata Victor Sellmer, diretor Comercial e Marketing da Odata. OBS: Depois do fechamento desta matéria, a Odata mudou de controlador. Foi vendida pelo fundo Pátria para a Aligned Data Centers, que promete mais crescimento na América Latina, conforme notícia publicada aqui no Tele.Síntese
Depois de lançar data centers no Brasil, Chile e México, a Huawei informa que continua em franco crescimento, e já assumiu a quarta posição entre os provedores de nuvem da América Latina e entre as cinco no mundo. Durante o Huawei Cloud Latam Summit 2022, a empresa anunciou que a nuvem da Huawei está disponível em 190 países, com mais de 2,8 mil nós de CDNs.
Por Carmen Nery