Conectividade no campo tem de levar a corte de custos, defendem agricultores
Os planos das operadoras de telecomunicações em cobrir o campo brasileiro e levar novas tecnologias aos produtores rurais só faz sentido se as empresas entregarem aplicações capazes de cortar os custos das fazendas. A avaliação é compartilha por Joel Soares, diretor de Operações da Jalles Machado, e Walter Maccheroni, gerente de inovação do Grupo São Martinho.
“Quem produz commodities é tomador de custo, e não formador de preço”, resumiu Soares. Segundo ele, a Jalles Machado tem colhido bons resultados de uma parceria iniciada com a TIM em 2017.
“Em 2020 conseguimos 60% da área com conectividade, gerenciando equipamentos, ano passado tivemos aumento de 20% de produtividade dos equipamentos e excelente redução de custo. Este ano estamos buscando entre 25% e 30% de otimização do processo”, afirmou o executivo durante o AGROtic 2021, evento realizado pela Momento Editorial, que publica o Tele.Síntese, ao longo desta semana.
São Martinho
No grupo São Martinho, a economia resultante dos projetos de conectividade abrange despesas com maquinário e gestão de ativos. Ao mesmo tempo, a produtora ampliou as áreas em que emprega agricultura de precisão e passou a tratar volumes gigantes de dados para ganhar em eficiência. Os fornecedores de tecnologia de comunicações são CPQD e Trópico.
“Com os dados chegando em tempo real, conseguimos otimizar bastante a logística. Como a gente enxerga toda a frota, a gente consegue alocar rápido outro trator caso haja problema. Houve otimização em investimento de equipamentos. Isso tem reflexo em consumo de diesel. Tivemos redução considerável de diesel em nossas operações. Vamos ainda avaliar a safra de 21/22, 22/23, para termos uma média e entender o benefício que a conectividade vem trazendo”, afirmou.
Segundo ele, a meta é chegar a uma economia de até R$ 2 por tonelada de cana-de -açúcar produzi, do que significa até R$ 44 milhões de redução de custos ao final do ano. A empresa já começa a integrar tecnologias usadas no campo com a conectividade nas suas usinas.
A Jalles Machado também aposta na integração entra o campo e suas indústrias. Segundo Joel Soares, a empresa está promovendo sua “descommoditização”, ou seja, estão promovendo uma integração vertical para ir além do fornecimento de matéria-prima para a indústria interna ou externa. Diante da venda da produção industrializada ao consumidor, o grupo passou a usar a rastreabilidade dos produtos para garantir qualidade ao consumidor final, e da cadeia logística para encontrar economias.
Indústria, campo e FUST
Para Paulo Bernardocki, diretor de redes e tecnologia da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, estamos testemunhando uma revolução no campo. “IoT é o elo que faltava para essa transformação acontecer. A gente já tem nuvem e os algoritmos para rodar na nuvem. Faltava a ponta, o edge, para coletar os dados e alimentar essa nuvem. Justamente aí que vamos ter ganhos brutais de produtividade”, afirmou.
Ele ressalta que há diferenças mínimas entre a IoT usada no campo e a vista na indústria. No campo, por exemplo, a conectividade precisa resistir a situações extremas, enquanto nas fábricas os ambientes são mais controlados. Mas o estágio de adoção tecnológica ainda é o grande fosso que separa o produtor rural do industrial.
“A gente observa que a indústria tem uma maturidade maior do ponto de vista de digitalização. O desafio é integrar a operação agrícola”, disse. E o desafio está em levar o sinal de telecomunicação para as áreas agrícolas atualmente descobertas.
Para Diego Aguiar, head de IoT, Big Data e Inovação B2B da Vivo, esse é um processo que está acontecendo, mas pode ser acelerado com aplicação de recursos de fundos setoriais. “A gente se preparou para isso, mas é um processo gradativo. Fust pode ser utilizado para essa expansão rural. Então existe essa possibilidade para o pequeno e médio produtor também. E o plano Safra tem linhas específicas que podem ser acessadas”, lembrou.