” Home Office é coisa do passado”, afirma Albuquerque, CEO da Cisco

O presidente da Cisco do Brasil, Laércio Albuquerque, aposta que a empresa vai crescer dois dígitos em seu ano fiscal que termina em agosto, de novo. Ele faz essa projeção depois que colocou a filial brasileira na primeira posição como aquela que mais entregou e lucrou no ano passado. Para o executivo, a nova era da "conectividade IoT " exige junção de três plataformas - da própria conectividade, da segurança e da colaboração.

 

Laercio-ciscoO presidente da Cisco do Brasil, Laércio Albuquerque,  aposta que a empresa vai crescer dois dígitos em seu ano fiscal que termina em agosto, de novo. Ele faz essa projeção depois que colocou a filial brasileira na primeira posição como aquela que mais entregou e lucrou no ano passado. Para o executivo, a nova era da “conectividade IoT ” exige junção de três plataformas – da própria conectividade, da segurança e da colaboração. E alerta – “cada device conectado são 50 bilhões de brechas de segurança que existem”. Por isso defende a aposta de sua empresa, que levou a segurança para dentro da rede. E avisa que com a IoT, a necessidade de digitalizar o próprio funcionário torna-se ainda maior.

A seguir os principais trechos da entrevista.

Tele.Síntese: Qual a projeção de desempenho da Cisco para este ano?

Laércio Albuquerque: Vai crescer acima de dois dígitos esse ano de novo.

Tele.Síntese: Mesmo neste ano atípico, de Copa e Eleições?

Albuquerque: Mesmo neste ano atípico. Essa é a beleza do país. Na área da segurança, por exemplo, que todo mundo está descabelado com isso no Brasil inteiro, as empresas passaram a prestar atenção na “experiência com o aplicativo”.   Notaram que se colocarem um aplicativo na mão do  cliente final e der um problema com aquele aplicativo, dezenas de anos de mérito da empresa podem ser  destruídos em dois minutos. O brasileiro escolhe pela qualidade do aplicativo mais do que pela fidelidade que tem com a marca.

Tele.Síntese: O que significa “experiência com aplicativo”?

Albuquerque: É você entrar para comprar uma passagem aérea, comprar uma roupa ou alguma coisa e fazer: “clique, clique, clique,” comprei!. Talvez não seja aquela marca que você mais gostava, mas se a expêriencia for tão simples de comprar por um aplicativo, se a experiência for boa, você muda de marca. Isso é provado, o brasileiro é assim.

Tele.Síntese: O lucro total da Cisco  foi de 9,7 bilhões no ano passado (cujo ano fiscal terminou em agosto de 2017), não é? Qual a participação do Brasil nisso?

Albuquerque: Eu não tenho esse número de cabeça. Mas o Brasil está entre os 10 maiores países no mundo Cisco e foi premiado como número 1 do mundo em crescimento. Foi o país que mais cresceu, que mais entregou, que mais teve margens de vendas e de lucro.

Tele.Síntese: A Cisco divulga estudos sobre o consumo de dados nas redes de telecomunicações. As previsões estão se confirmando?

Albuquerque: Estão. As tendências digitais continuam explosivas, como no ano passado. A gente deverá ver o tráfego de vídeos praticamente triplicando, em cinco anos. O tráfego móvel vai crescer de sete a oito vezes nos próximos cinco anos e boa parte disso é vídeo. Não só o conteúdo que é entrega em formato de vídeo, mas o próprio formato do vídeo está ficando cada vez mais completo. Uma outra tendência é o aumento da criptografia de dados. 20% no ano passado, hoje em torno de 50% e continua crescendo. O grande desafio tecnológico  é ter a capacidade de gerenciar e dar segurança na rede mesmo com o tráfego criptografado. Do ponto de vista de segurança isso faz toda diferença do mundo.

Do ponto de vista de padrões de uso, a gente vê uma diminuição do uso pessoal do PC, até mesmo laptop e uma certa estabilização dos tablets e aumento do uso do celular. Mas vale ressaltar que o  tráfego gerado por computador ainda é muito grande, porque o volume que ele cria é bem significativo. Por exemplo, a TV conectada como um dispositivo de interação de consumo de dados está disparando.

Tele.Síntese: E como é que você posiciona o Brasil para a Cisco, dentro desse novo cenário?

Albuquerque: O Brasil vive um momento único e em termos de tecnologia é um momento extremamente positivo.  Tenho conversado CIOs e CEOs todos os dias e percebo claramente um descolamento total que independe do que acontece com a nossa política. Eles estão pensando : “eu preciso investir em tecnologia para capturar meu cliente digital, porque ele já se tornou digital”.

 Tele.Síntese: Qual o segmento que você acha está mais avançado? bancário, financeiro?

Albuquerque: Não, por incrível que pareça. O bancário e financeiro sempre foram o número um, se comparados com quantidade, eles sempre investem um pouco mais em percentual em tecnologia. Mas setores que não investiam em tecnologia, hoje investem pesadamente. Industria 4.0 é uma realidade, aplicações claras de IoT na plataforma de produção, onde se consegue conectar finalmente a plataforma de produção com IoT, isso já é uma realidade que está acontecendo. Há crescimento gigante na saúde. A telemetria é uma realidade tanto em hospitais como clínicas que estão investindo pesadamente para trazer não só a praticidade para o paciente, mas também digitalizando não só o hospital, mas convênios e todos os outros elos. A otimização do custo que existe em implementação de tecnologia de IoT é incrível  e  os grandes hospitais tem  a plataforma de conectividade, de colaboração e de segurança. Também começa timidamente, mas já impactantes, o Agro. Temos parceiros que já desenvolveram tecnologias incríveis de sensor para poder ajudar realmente o agricultor a crescer.

Tele.Síntese: E na sua avaliação,  quem vão ser os grandes jogadores desse jogo? Todos só falam de 5G, IoT e Inteligência Artificial.

Albuquerque: Não sei se te respondo exatamente, mas quem vai jogar são aqueles que conseguem entregar alguma coisa que tenha valor hoje, e não mais alguma coisa que é supérflua. Estou falando da era da Internet das Coisas, que é uma era que já existe. Estou falando de bilhões de devices conectados, que já é uma realidade no Brasil.  Tudo bem que quase 70% dos brasileiros que implementaram o IoT estão implementando não exatamente na experiência com clientes, mas na otimização de processos de produtividade interna e isso está certo, pois estão iniciando onde há uma produtividade melhor.

Tele.Síntese – Mas serão de bilhões de aparelhos conectados

Albuquerque: Quando se  fala de bilhões de devices conectados, a necessidade de estabilidade da conexão passa a ser muito maior. Com bilhões de devices conectados, o nível de automação que a infraestrutura de rede existe é muito superior. Um dia houve a rede do lap top, outro dia, a rede dos smartphones, agora você precisa de tecnologia de conectividade da IoT, que é completamente diferente,  e essa evolução tem que existir.

Tele.Síntese – Qual é a exigência para a conectividade da IoT?

Albuquerque: Três pontos principais estão nas cabeça de todo executivo quando faz implementação do soluções de conectividade com internet das coisas:  Primeiro a autoestabilidade da conexão. Hoje você fala de “x” agências, “x” lojas que são conectadas, você tem o trabalho infinito para preparar e fazer o provisionamento de conexão de cada uma delas. Agora estamos falando de bilhões de conexões. O nível de automação para provisionamento e implementação de uma rede de conexão tem que ser muito maior e é isso que a Cisco está entregando. Ela está preparada para a entrega do 5G, por conexão de rádio, mas quando você fala de infraestrutura de rede automática, ela tem que existir.

Ponto número dois é Segurança. Hoje não dá mais para falar que são necessários  cinquenta softwares de segurança- para proteger a ponta, outro para proteger a rede, outro para proteger a pessoa, etc. Não dá! Cada device conectado são cinquenta bilhões de brechas de segurança que existem. A segurança tem que ser  embutida direto na rede. A Cisco é a primeira que inovou de tal forma que conseguiu colocar dentro da rede a capacidade de identificar malware que está trafegando em redes sem decriptar este mesmo malware, ou seja, uma confiança total por parte do cliente que está utilizando essa rede. Isso é tecnologia que não existe em lugar nenhum.

O terceiro ponto, os clientes no Brasil, inclusive, já enxergaram isso, que não dá para pensar em digitalização do negócio se  não se falar em digitalização da forma  de trabalhar dentro de casa. Ou  digitalizar  dezenas de milhares de colaboradores  trabalhando para entregar algo digital para o cliente final. Isso já é uma realidade, e não tem outra palavra para usar  que são as plataformas de colaboração. O nível de satisfação do cliente digital obriga a  investir da mesma forma que o nível de satisfação do seu funcionário digital. Isso não só é uma realidade para melhoria de produtividade, mas uma realidade  para manter o funcionário feliz e satisfeito. Não existe mais o home office, isso é coisa do passado.  Hoje você tem que ter implementado soluções de anywhere office: Onde você estiver você tem o escritório na palma da sua mão.  Esses três pontos são onde a Cisco está realmente investindo e estourando: plataforma de conectividade, plataforma de segurança e plataforma de colaboração, dentro do mundo de IoT.

Tele.Síntese: Com a  aquisição da Jasper, a Cisco está dando uma guinada na sua estratégia?

Albuquerque:  Nunca é fácil para uma empresa fazer uma guinada, mover um transatlântico tão grande de uma forma paulatina, mas que mostra a sustentação do futuro. A Cisco sempre foi reconhecida como uma empresa de hardware, parte de redes. Mas hoje, os CIOs precisam de uma solução de ponta a ponta que entregue para ele a digitalização do negócio dele. E a Cisco enxergou isso muito bem, com uma capacidade de reinvenção muito grande. Quando saí da empresa que estava, que era 100% software [ ele vem da CA Technologies] as pessoas comentavam que eu estava saindo de uma empresa de software para de hardware. Hoje se você vir o balanço da Cisco, já está 65% hardware para 35% software, mais ou menos.  Quando ela consegue “detachar” (não consigo usar outra palavra) a tecnologia inovadora de um hardware, mas com a inteligência artificial dentro desse hardware, você consegue ter isso como uma contratação de software e serviços, e cresce sim. Todas as nossas soluções de segurança, onde Cisco é considerada a maior empresa de segurança do mundo,  70% é puro software. Isso mostra uma Cisco completamente diferente, e sendo reconhecida pelo mercado.

As aquisições que ela tem feito também mostram muito isso. Aquisições como Jasper, ou AppDynamics, uma empresa voltada para tecnologia de desenvolvimento de soluções, uma área que a Cisco nunca entrou antes. Mas quando você fala de IoT, cinquenta bilhões de device conectados não valem nada se não for para extrair toda inteligência dessa conexão e a Cisco entra fortemente nessa área, com uma plataforma capaz de captar todos esses devices conectados e trazer para uma plataforma de junção de dados, de analytics as soluções na mão do executivo. A  Cisco está realmente nesse caminho.

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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