Câmbio arrasta a Oi para prejuízo de R$ 6,47 bilhões no 1º tri

Operadora viu dívida em moeda estrangeira aumentar, assim como gastos relativos a contratos internacionais, conforme o real perdeu valor. No operacional, houve redução das receitas em cobre e DTH, investimento de R$ 1 bi em fibra óptica, expansão no mercado atacadista e de TI.

 

A Oi divulgou da noite desta segunda-feira, 15, os resultados do primeiro trimestre do ano, além dos termos do aditamento do plano de recuperação judicial que serão avaliados em assembleia de credores a ser marcada para agosto.

Conforme o relatório financeiro, a companhia registrou queda de 7,4% nas receitas líquidas nos três meses iniciais de 2020, comparado ao mesmo período do ano passado, totalizando R$ 4,74 bilhões. O EBITDA (lucro antes de amortizações, impostos e depreciações) caiu 5,8%, a R$ 1,53 bilhão. Houve, no entanto, melhora da margem EBITDA em 0,6 ponto percentual, e encerrou março a 32,3%.

Chama atenção, porém, o tamanho do prejuízo. Se no primeiro trimestre de 2019 a companhia registrava lucro de R$ 568 milhões, agora, no mesmo período deste ano, amargou perda de R$ 6,28 bilhões. As perdas se devem ao resultado cambial, cujas aplicações e empréstimos foram negativos em R$ 2,65 bilhões. E a despesas financeiras também atreladas a moeda estrangeiras, que tiveram resultado negativo em R$ 2,74 bilhões.

O resultado, juntamente com a emissão de debêntures no valor total de R$ 2,5 bilhões, contribuiu para elevação de quase 80% da dívida líquida, que atingiu R$ 18,13 bilhões.

Os investimentos, CAPEX, foram de R$ 1,79 bilhões, alta de 4% – desse valor, R$ 1 bilhão foi apenas para fibra, e mais dinheiro foi usado na manutenção da rede de cobre (R$ 276 milhões) do que no móvel (R$ 261 milhões). O caixa disponível da companhia aumentou 0,7%, para R$ 6,31 bilhões.

Nos quesitos operacionais, a companhia apresentou encolhimento de 7% da base de usuários na comparação ano a ano, passando a ter 52,65 milhões de clientes. No residencial registrou o maior encolhimento, de 15,8%. No celular, desligou 2,7%, enquanto no B2B, foram finalizados 4,3% dos contratos.

Razões para a retração

Segundo a operadora, os serviços legados de telefonia fixa, banda larga via cobre e TV paga via satélite (DTH) arrastaram os resultados para baixo. Também houve forte perda no pré-pago. O efeito foi negativo tanto no segmento residencial, quanto no B2B.

Conforme os dados da companhia, houve retração de 25,8% das receitas com cobre ano a ano, totalizando pouco mais de R$ 1 bilhão. Na voz fixa em cobre o encolhimento foi de 27,6%, enquanto a banda larga pelo par metálico encolheu 22,9%. A internet por fibra, por sua vez, cresceu 711,8% na comparação anual. Mas ainda representa pouco do faturamento, em termos relativos, gerando R$ 194 milhões.

A Oi diz que sua própria iniciativa de parar de vender serviços em cobre ajudou na retração desse produto. Também teve reflexo a política de desconexões. O grupo subiu a régua de corte para a inadimplência, passando a desligar clientes depois de 90 dias sem pagamentos. Até outubro de 2019, a desconexão só era efetuada depois de 120 dias. Outro fator foi o aumento da concorrência com provedores regionais de internet em pequenas cidades.

Foco em fibra

A contrapartida às perdas no cobre se deu no mercado de ultra banda larga, com FTTH residencial, no de dados em celular, e com TI no corporativo – ainda que não o suficiente para colocar a companhia no azul.

“A estratégia da Companhia é direcionar esforços e investimentos para a execução do Plano de Expansão da Fibra, que segue como a principal alavanca para a reversão estrutural da trajetória da receita do segmento”, reitera.

No FTTH, a tele chegou a 5,6 milhões de homes passed (casas aptas a assinar) e 944 mil homes connected (casas que se tornaram clientes). Em abril, embora o mês não faça parte do primeiro trimestre, a Oi diz que chegou a 1 milhão de clientes em fibra.

A companhia afirma que, nas 81 primeiras cidades em que passou a vender serviços em fibra, a receita total de banda larga (em fibra e cobre) cresceu 12%. Onde manteve apenas o cobre, houve queda de 14% ano a ano.

Embora ainda com uma base bem menor, o crescimento anual da receita de Fibra no 1T20 já mais que compensa a queda das receitas de banda larga de cobre e TV DTH no mesmo período. As receitas de banda larga de cobre caíram R$ 121 milhões na comparação anual, as receitas de TV DTH caíram R$ 27 milhões no mesmo período, enquanto as receitas de Fibra cresceram R$ 170 milhões no ano.

A demanda por fibra se intensificou, diz, no final de março, com o avanço da pandemia de covid-19. A tele terminou o mês com 388 mil km de fibra instalada no país.

Móvel

A unidade móvel apresentou oscilação menor dos resultados. A retração foi de 2,5%, motivada por encolhimento no pré-pago de 12,8%. No pós, a receita subiu 12,2%. Considerando o número de assinantes, a expansão no pós foi de 20,6%.

O pré-pago foi impactado pela pandemia de Covid-19, que resultou no fechamento de pontos de inserção de crédito por conta da quarentena. Também contribuiu a situação econômica que já vinha anteriormente de lenta recuperação econômica e altas taxas de desemprego.

A Oi afirma que houve queda de 5,3% nas recargas no trimestre, comparado com o mesmo período de 2019. E o número de clientes de recarga caiu 13,1%.

A companhia tinha rede móvel 2G em 3.498 cidades no primeiro tri. Seu 3G abrangia 1.650 cidades. O 4G chegava a 1.023 cidades. E o 4,5G, a 54 municípios. O ARPU móvel chegou a R$ 16,2, 0,5% superior.

B2B

No segmento corporativo, a tele registrou queda de 7,1% na comparação anual. O segmento foi impactado pela queda
nos serviços legados do Corporativo, principalmente em função da redução do tráfego de voz, intensificado
com a política de confinamento e Home Office, implementado pelas empresas para contenção da COVID-19,
dos cortes nas tarifas reguladas de interconexão (VU-M) e de ligações fixo-móvel (VC).

Além disso, as receitas de Pequenas Empresas também apresentaram queda no trimestre, principalmente em função da alta exposição às receitas de serviços de cobre. Houve, no entanto, crescimento na receita líquida do Atacado em 6,9% em relação ao 1T19 e de 11,1% comparado ao trimestre anterior, e também um crescimento nas receitas de TI em 38% ano contra ano e 9,6% em relação ao 4T19, compensando em parte a queda da receita no trimestre, porém ambas destacando o foco da estratégia para o crescimento sustentável do B2B.

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Rafael Bucco

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