Aumenta número de indústrias eletroeletrônicas com problemas em estoque de componentes

Sondagem Conjuntural da Abinee mostra que o número de empresas com esse tipo de problema passou de 16% para 25% em um mês. E a maioria acredita que problema só terá solução em meados de 2022.
Crise de componentes chega à indústria eletroeletrônica
Componentes

De julho para agosto e parte de setembro aumentou em nove pontos percentuais o número de empresas da área da indústria eletroeletrônica que apresentam estoque de componentes e matéria prima abaixo do normal. De acordo com a Sondagem Conjuntural realizada pela Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), aumentou de 16% para 25%  o total de companhias nessa situação e no caso de produtos acabados essas indicações subiram de 23% para 26%.

Depois de dois meses de queda, voltou a subir o número de empresas que relataram dificuldades na aquisição de componentes e matérias-primas em função da falta destes itens no mercado. Esse indicador estava em 65% em julho e passou para 69% em agosto. A entidade salienta que esse percentual continua elevado, muito acima dos 20% verificados no início de 2020. Esses entraves vêm sendo mencionados desde meados do ano passado.

Entre os insumos mais citados destacaram-se os componentes eletrônicos provenientes da Ásia, relatado por 64% das empresas consultadas, registrando o maior percentual verificado desde o início dessa pergunta na sondagem, em setembro do ano passado. Em seguida vieram os componentes eletrônicos provenientes de outras origens citados por 40% das pesquisadas que estão com dificuldades na aquisição de insumos.

Além dos componentes, também foram identificadas outras matérias-primas em falta no mercado, tais como: cobre (35%), aço carbono (29%), papelão (25%), materiais plásticos (25%), alumínio (18%), latão (11%), aço silício (9%), entre outros (5%), como ferragem, chumbo puro, ácido sulfúrico, estanho, borracha de silicone e barras de fibra de vidro.

Também voltou a subir o número de empresas que perceberam pressões acima do normal nos custos de componentes e matérias-primas, aumentando de 80% em julho para 86% em agosto, percentual bem superior aos 21% observados no final de 2019.

Na análise das empresas, os principais responsáveis pela elevação nos custos de componentes e matérias-primas são a escassez desses itens no mercado (84%), o incremento nos preços dos fretes marítimo e aéreo (74%) e a desvalorização cambial (40%). A falta de componentes eletrônicos no mercado está trazendo dificuldades para as empresas do setor, tais como o atraso na produção e na entrega, citado por 30% das entrevistadas e até mesmo paralisação parcial da produção, relatada por 8% das pesquisadas.

A Sondagem mostra ainda que permanecem as dificuldades na aquisição, especificamente de semicondutores, relatadas por 71% das entrevistadas que utilizam esses componentes na sua produção. Esse levantamento identificou também que 31% das entrevistadas informaram que seus fornecedores não passaram nenhuma previsão de normalidade no abastecimento de componentes semicondutores.

Para 5% das empresas, a normalidade dessa situação ocorreria ainda no 3º trimestre deste ano, para 10% até o final de 2021. A maior parte, ou seja, 39% acreditam que será até meados de 2022, e 15% preveem que ocorrerá apenas em meados de 2023.

Padis 

O presidente da Abinee, Humberto Barbato, participou ontem da audiência pública na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados que debateu o Brasil e a crise global de semicondutores. Ele lembrou que a ampliação do PADIS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays)  incluindo os fornecedores de insumos estratégicos para a produção de semicondutores foi um “alento de esperança para os planos dos fabricantes no sentido de redução do custo de produção dos
elos anteriores da cadeia, tornando o mercado mais competitivo, além de
tornar o segmento atraente para investidores”.

“No ano de 2016, vimos os primeiros frutos dessa política com a participação de 6% de módulos fotovoltaicos, abrangidos pelo PADIS, produzidos localmente, no mercado de geração fotovoltaica.
Em 2017, a indústria nacional de módulos fez investimentos significativos em plantas produtivas e chegou-se a 29% de participação dos módulos fotovoltaicos produzidos localmente no mercado.
Se a trajetória de crescimento se mantivesse nesse patamar, a matriz energética brasileira estaria menos dependente da fonte hídrica e rumando aos requisitos mais abrangentes da sustentabilidade ambiental”
Ele ressalta que por mudanças na política de comércio exterior, em 2018 a participação dos módulos produzidos localmente caiu para 11% e em 2019 para 2% do mercado total de geração fotovoltaica. As empresas foram obrigadas a rever seus investimentos e estratégicas de
atendimento ao mercado, resultando na perda de empregos, de investimentos locais em pesquisa e desenvolvimento e de divisas ao erário, uma vez que os módulos são importados com isenção de imposto de importação.
Na sua avaliação, a não renovação do regime do PADIS seria a”última pá de terra no encerramento do ciclo da indústria fotovoltaica brasileira – um triste destino ao setor no qual o Brasil tem todos os potenciais requisitos para exercer liderança regional e competir com players globais”.

 

 

 

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Wanise Ferreira

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