Apple reduz projeções devido a impacto da guerra comercial entre EUA e China

Empresa diz que resultados do final do ano virão abaixo do esperado devido a vendas mais baixas na China e a preços baixos para a troca de bateria de iPhones antigos, o que inibiu a compra dos novos modelos.
O CEO da Apple, TIM Cook, durante evento da companhia realizado no final de 2018

Em carta dirigida a seus acionistas, o CEO da Apple avisou que teve um final de ano com vendas muito abaixo do esperado. Na missiva, Tim Cook diz que a receita deve ser US$ 84 bilhões no trimestre encerrado em 29 de dezembro. É uma redução de 6% frente o guidance mais modesto (de US$ 89 bilhões) divulgado em outubro.

O aviso derrubou o valor da Apple nesta quinta-feira, 3, na bolsa eletrônica Nasdaq. O tombo no preço das ações já antes da abertura de mercado chegou a -8,66%, deixando a empresa com valor de mercado de US$ 750 bilhões, bem abaixo do pico registrado em agosto, quando atingiu US$ 1 trilhão.

Segundo Cook, há boas explicações para a redução das receitas. Em primeiro lugar, ele diz que a Apple antecipou o envio e início das vendas da nova linha de iPhones Xs. Diferente do que aconteceu até 2017, a empresa encheu os estoques dos revendedores ainda no trimestre encerrado em setembro. Isso adiantou vendas para o mesmo trimestre, reduzindo o volume tradicionalmente vendido no final do ano, alega.

Outro problema foi a valorização do Dólar frente outras moedas. O fenômeno impactou o aumento da receita no exterior. Ele também culpa o baixo crescimento econômico em diferentes países, especialmente na China. O terceiro ponto seriam dificuldades com fornecedores, especialmente de produtos como o relógio Apple Watch, o tablet iPad Pro, o alto-falante AirPod e o notebook Macbook Air. O CEO da Apple disse que tais fatores fizeram a empresa crescer menos em vendas do que o imaginado. Culpou ainda o baixo custo de troca de baterias antigas para a demanda reduzida por aparelhos novos.

Vítima da guerra comercial entre EUA e China

A guerra comercial travada entre o governo de Donald Trump, nos EUA, e Xi Jiping, na China, respingou e foi nociva para os resultados da Apple. Foi o principal fator na freada da companhia anunciada ontem à noite. “Mais de 100% da queda das nossas receitas mundiais na comparação ano a ano são em função da perda de mercado do iPhone, do Mac e do iPad na China”, diz o executivo. Ou seja, a retração chinesa foi tamanha que superou, sozinha, o crescimento em outros locais.

Cook ressaltou que a economia chinesa desacelerou com força no último trimestre e registrou o menor PIB em 25 anos. Ele culpou a guerra comercial. “Acreditamos que o ambiente econômico na China foi profundamente impactado pelo aumento das tensões comerciais com os Estados Unidos”, diz. A desconfiança com a economia local transbordou do mercado financeiro e teria atingido também os consumidores, resultando em menos compras de final de ano.

Apesar disso, ele crê numa reversão futura na geração de receita na china em função da comunidade de desenvolvedores de aplicativos e aumento da demanda por serviços, compensando a retração na venda de aparelhos.

O que se salva

Para Cook, no entanto, houve resultados muito positivos em outras searas que não a venda de iPhones, seu principal produto. As receitas com serviços cresceram 19%, atingindo US$ 10,8 bilhões, dentro das metas. A venda de relógios aumentou 50% na comparação ano a ano. E houve aumento de receita de computadores e iPads. Segundo ele, haverá receita recorde em países como EUA, Canadá, Alemanha, Itália, Espanha, Holanda e Coreia do Sul. Entre os emergentes, México, Polônia, Malaísia e Vietnã cresceram a marcas recordes.

A redução das receitas globais, no entanto, não terá impacto negativo para os acionistas, diz Cook. Ele prometeu um retorno por ação nunca visto. Afirmou que a companhia está com dinheiro em caixa (US$ 130 bilhões). E que, para reduzir o impacto de desafios macroeconômicos muito afora, está planejando o financiamento de aparelhos, programas de trade-in e serviços de transferência fácil de dados de modelos antigos de celulares para novos iPhones.

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Rafael Bucco

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