Apenas um filtro passa nos testes de interferência da 5G sobre TVRO

Testes de campo terminaram nesta quarta-feira, 30. Técnicos da agência vão elaborar um aparecer sobre a viabilidade da convivência entre o funcionamento de redes celulares em 3,5 GHz e canais de TV aberta transmitidos por satélite na banda C.

*Com Miriam Aquino

A Anatel e as operadoras de telefonia móvel concluíram hoje, 30, os testes em campo da interferência da 5G sobre sistemas de TVRO. Agora, os técnicos da agência vão elaborar um parecer para orientar a decisão do conselho diretor sobre o assunto.

Em jogo está a definição de qual política será prevista na licitação da banda de 3,5 GHz no próximo leilão de espectro: a migração de canais existentes na faixa até 3,8 GHz para frequências mais altas da banda C, que vai até 4,2 GHz, ou a transferência desses canais para a banda Ku (de 12 GHz).

Os testes de campo foram realizados por técnicos das operadoras e da Anatel no Centro de Referência Tecnológica (CRT) da Claro, no Rio de Janeiro. Por conta da pandemia de Covid-19, os experimentos foram transmitidos por videoconferência, o que permitiu o acompanhamento remoto de representantes da agência, das operadoras móveis, de satélites e de canais de TV.

Conforme fontes ouvidas pelo Tele.Síntese, os dados coletados até a conclusão dos testes mostraram que apenas um protótipo de LNBF foi considerado viável na análise de campo. Ou seja, só um foi capaz de mitigar a interferência dentro dos padrões pré-determinados pela agência, considerados pela indústria bastante restritivos. Quando o processo começou, eram 10 os aparelhos candidatos. LNBF é o aparelho que fica na ponta das parabólicas e converte os sinais de radiofrequência em sinais eletrônicos.

Fatores

Isso não significa nem que a TVRO terá de ser migrada para banda Ku, nem que os canais terão de ser realocados dentro da própria banda C, no entanto. O parecer da Anatel deverá levar em consideração diversos pontos sensíveis, e a decisão partirá do conselho diretor.

Em primeiro lugar, será preciso estimar o preço do LNBF que passou nos testes. Aparelho com as características do protótipo não existe em nenhum outro lugar do mundo e foi desenvolvido por apenas um fabricante, que deverá dizer se topa ou não fabricá-lo.

Há quem duvide da capacidade de aquisição a preços baixos o suficiente para permitir a distribuição de milhões desses dispositivos à população que usa TVRO. A estimativa é que 8,3 milhões de pessoas do CadÚnico teriam direito a receber o kit. Ainda assim, o produto terá de ser confeccionado especificamente para a necessidade brasileira, o que pode encarecê-lo.

Os testes também mostraram que para o LNBF ter bom desempenho, é aconselhável substituir o parque de antenas parabólicas por discos de diâmetro maior. Há casos ainda de parabólicas instaladas que não suportam a substituição do LNBF, e teriam de ser trocadas ainda que tivessem o diâmetro ideal.

Situação

A Embratel Star One, empresa que transmite a maior parte dos canais abertos na banda C, prepara o lançamento de um novo satélite e promete acomodar os canais nas frequências mais altas desta banda. A depender de como ficarão acomodados – se canais analógicos forem transformados em digitais -, poderá ser necessária a troca também de decodificadores.

O presidente da agência, Leonardo de Morais, já admitiu no passado que a agência vinha trabalhando, durante a quarentena e diante de dificuldade de concluir testes de campo, com a ideia de transferir os canais para Ku.

O conselheiro da Anatel, Moisés Moreira, chegou a afirmar na última semana, durante evento no Painel Telebrasil que os custos de mitigação e de migração são equivalentes, e defendeu que a saída para banda Ku permitiria liberar mais espectro para a 5G.

As operadoras defendem até o momento a alternativa da mitigação. Para as empresas, o uso de novos filtros (LNBFs) nas parabólicas é uma solução mais barata e rápida.

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Rafael Bucco

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