Anatel e Ancine se preparam para derrubar sinal ao vivo de IPTV pirata

Laboratório com capacidade de bloquear instantaneamente sinais ilegais de IPTV deve ser lançado ainda neste ano, informou Moisés Moreira, conselheiro da Anatel
Anatel prepara laboratório para tirar TV pirata do ar durante transmissões ao vivo
Moisés Moreira, conselheiro da Anatel, diz que próximo passo é tirar IPTV pirata do ar durante transmissões ao vivo (crédito: Reprodução)

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) está desenvolvendo um laboratório dentro de suas instalações em Brasília para tirar do ar conteúdo audiovisual pirata durante transmissões ao vivo. A iniciativa conta com apoio da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e deve ser posta em prática ainda neste ano.

“Estamos finalizando um laboratório dentro da agência para conseguir bloquear conteúdos ao vivo”, afirmou Moisés Moreira, conselheiro da Anatel, nesta sexta-feira, 26, durante painel do Encontro Nacional Abrint 2023, realizado em São Paulo.

“Isso é muito importante. É diferente você bloquear ao vivo uma partida de futebol. Depois de um dia, o jogo já acabou”, ressaltou o conselheiro. “Não vamos acabar com a pirataria, mas vamos reduzir. O usuário que consome esse serviço fica desanimado”, acrescentou.

Moreira informou que o laboratório vai ficar próximo ao andar da Ancine, cujas operações são realizadas no prédio da Anatel. O conselheiro destacou que a unidade projetada para derrubar transmissões ao vivo deve iniciar as atividades “ainda antes do final do meu mandato”, que termina em novembro deste ano.

Em março deste ano, Anatel e Ancine assinaram um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) para realizar ações conjuntas no que diz respeito ao combate à pirataria audiovisual. As duas agências também mantêm uma parceria para estudos conjuntos de regulamentação e do acompanhamento do Serviço de Acesso Condicionado (SeAC) – nome técnico da TV por assinatura.

Outras frentes

No painel, Moreira ressaltou que a Anatel, desde fevereiro deste ano, tem atuado no bloqueia e na apreensão de decodificadores clandestinos. O conselheiro disse que, desde então, a ação “está permitindo bloquear IPs administrativamente” e que “centenas de IPs foram bloqueados”.

De acordo com Moreira, a Anatel passou a agir de forma mais contundente contra a pirataria a partir de 2018. Nos anos de 2021 e 2022, mais de 6 milhões de equipamentos sem homologação foram apreendidos, dos quais 1,5 milhão são dispositivos de TV box.

Na visão do conselheiro, também é preciso fazer um trabalho educativo com a população. Como exemplo, ele contou que, em Portugal, as crianças são ensinadas na escola que o acesso a conteúdo de forma ilegal é crime.

“Esses aparelhos que não são certificados possuem softwares maliciosos que provocam danos às redes. Dizemos que o usuário está dormindo com o inimigo dentro de casa, pois, sem perceber, pode ter a sua senha do banco roubada”, exemplificou.

Prejuízos sociais

Durante a discussão, o diretor Jurídico e Regulatório da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), Jonas Antunes, sinalizou que, com a expansão da conectividade, o consumidor brasileiro está cada vez mais vulnerável a ataques cibernéticos pelos mais diversos equipamentos, sobretudo por dispositivos que funcionam à margem da lei.

“Estamos falando de TV box, mas a Internet das Coisas está logo aí. A escala de risco crescerá”, frisou.

Além disso, Antunes enfatizou que a pirataria persiste ao “trazer o preço para um nível irreal”. Desse modo, o objetivo das ações conjuntas entre setores público e privado deve ser o de “migar a demanda para a oferta legal”.

“Assim, os empregos dessas indústrias serão preservados e os impostos que servem de funding para diversas políticas públicas do Estado serão garantidos”, argumentou.

Para fortalecer o combate à pirataria audiovisual, Juliana Oliveira Domingues, procuradora-chefe do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), defendeu uma ação interinstitucional, além de iniciativas de conscientização do consumidor.

“Quando se tem um conteúdo muito barato, alguma coisa está errada. A conta não fecha”, disse. “Ninguém vai querer investir em um mercado em que há um mercado paralelo, ilegal, que não recolhe impostos e não gera empregos. O barato sai caro para toda a sociedade”, complementou.

Avatar photo

Eduardo Vasconcelos

Jornalista e Economista

Artigos: 1137