Yahsat vai vender acesso residencial diretamente ao consumidor

Marcio Tiago, responsável pelos negócios no país, conta que a operadora árabe de satélites prevê investir US$ 200 milhões no Brasil para botar em pé projeto de conectar residências próximas a grandes centros urbanos.
Marcio Tiago yahsat
Marcio Tiago, diretor para o Brasil da Yahsat

A operadora de satélites Yahsat, originária de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, comprou em 2014 sua primeira posição orbital brasileira. Na época, a empresa pagou R$ 44,1 milhões. Há duas semana, recebeu finalmente a outorga da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para usar a posição, que será ocupada em 2017 pelo satélite Al Yah 3, ainda ser lançado.

Quando estiver em órbita, o satélite fornecerá capacidade a backhaul de redes móveis – caso a TIM feche contrato -, e para a oferta de acesso à internet banda larga. O satélite cobrirá quase 98% da população brasileira, e mais de 5,2 mil cidades, segundo Marcio Tiago, o diretor da Yahsat para o Brasil.

Em terra, dois teleportos, um em Hortolândia, outro Jaguariúna, cidades do interior paulista, farão a operação. Todo o projeto prevê investimento de US$ 200 milhões.

A recessão econômica pouco alterou os planos da empresa. O valor continua o mesmo, e o projeto, de fazer por aqui uma grande provedora de acesso satelital, com a maior equipe da companhia no mundo, segue firme e forte. Abaixo, a entrevista completa com Tiago, realizada no dia em que Yahsat recebeu, oficialmente, a outorga de exploração da posição orbital brasileira, em 2 de março.

Tele.Síntese – Por que a Yahsat, empresa árabe, decidiu entrar no Brasil?
Marcio Tiago, diretor para o Brasil da Yahsat – A YahSat busca oportunidades em diversos mercados. Já operava no Oriente Médio e na África. A nova posição orbital dela contribuía muito para explorar o mercado brasileiro. Obviamente que, para sair de Abu Dhabi e vir para o Brasil, o Brasil tinha que atender a algumas condições. E realmente o país tem as métricas. O tempo de uso de internet por dia do brasileiro é um dos maiores do mundo e há a necessidade de produtos de banda larga, já que a demanda é muito maior que a oferta. Aqui a internet é vista como um bem quase imprescindível. Se você pergunta a um brasileiro do que ele abriria mão para manter o acesso à internet, recebe respostas incríveis. Até há pouco tempo, o cenário econômico era muito bom, e nós acreditamos que ele vá voltar a ser.

Tele.Síntese – Quando vocês compraram a posição brasileira em 2014, não imaginavam que a economia fosse regredir tanto em pouco tempo. A situação atual levou a que mudanças nos planos originais?
Tiago – O modelo de negócio, indo bem, ou indo mal, tem que ser revisto sempre. Obviamente a situação impactou o modelo de negócio, mas não tirou o apetite da YahSat. Continuamos apostando numa virada no mercado e nos indicadores de consumo de internet no Brasil.

Tele.Síntese – O projeto de entrada em funcionamento do satélite prevê investimentos beneficiados pelo REPNBL, ainda não aprovados. Alguma previsão de quando o projeto será avaliado?
Tiago – Nós submetemos o projeto da Yahsat ao Minicom, tivemos uma qualificação, que agora espera a aprovação da Secretaria da Fazenda para que recebamos os benefícios fiscais. Mas nosso investimento seria feito com ou sem o REPNBL. Prefiro não mencionar o impacto do REPNBL nos valores. Ele é mais expressivo na construção de infraestrutura, cuja maior parte está localizada no estado de São Paulo, onde faremos teleportos. Basicamente, o REPNBL cobre a construção dos teleportos em Hortolândia e Jaguariúna.

Tele.Síntese – A Yahsat prevê investir quanto no Brasil para começar a operar?
Tiago – Nosso custo total esperado, incluindo a posição orbital e teleportos, é de US$ 200 milhões. Por enquanto, o satélite está dentro do cronograma e o investimento, dentro do previsto. O lançamento do satélite acontece no início de 2017. Nossa expectativa era lançar em dezembro de 2016, mas agora, firme, só temos a janela em 2017, por um ajuste de cronograma. A outorga nos garante o funcionamento como satélite brasileiro. Sem ela, iríamos operar no país com uma licença de satélite estrangeiro. Mas a outorga nos ajuda muito, pois poderemos participar de comitês e decisões sobre políticas espaciais.

Tele.Síntese – Vocês já terão um grande cliente, a TIM. O acordo foi assinado?
Tiago – Estamos em colaboração mútua. A TIM nos coloca demandas, a capacidade e a qualidade de que vai precisar. Nós teremos que provar que atenderemos a todas essas necessidades. Diante disso, haverá contratação. Por enquanto, os resultados têm sido bastante positivos. Temos outras negociações avançadas na parte de cliente final e distribuição no mercado de varejo também.

Tele.Síntese – Nos outros países, os produtos são oferecidos diretamente pela Yahsat?
Tiago – Não, nos outros países, a Yahsat vende a distribuidores, que revendem o sinal. Aqui no Brasil, faremos a venda direta. O cliente terá um contrato assinado diretamente com a Yahsat. Com isso, o Brasil vai ter uma equipe maior. O negócio principal no mercado brasileiro vai ser a banda larga residencial. Teremos uma equipe formada no Brasil para suportar esse negócio. Vamos ter uma pessoa que entende do mercado de banda larga – que já estamos buscando entre os principais fornecedores de internet brasileiros-, marketing, vendas, desenvolvimento de produto, tudo isso aqui no Brasil.

Tele.Síntese – Qual será o principal segmento de vocês?
Tiago – Existe uma grande demanda pela internet por satélite residencial fora das áreas rurais. As áreas periféricas das grandes cidades ainda oferecem uma grande oportunidade. Nossos principais clientes, acredito, estarão próximos das grandes centros urbanos.

Tele.Síntese – Qual será a marca?
Tiago – No Brasil usaremos a marca Yahclick. Vamos aproveitar a mesma marca de varejo usada lá fora. Obviamente os produtos serão adaptados. Já definimos o escopo. A gente vai cobrir cerca de 98% da população, em mais de 5,2 mil municípios. Esse satélite cobrirá Brasil e abrirá 16 novos mercados na África. Temos certeza de que algumas das regiões que cobrimos, nossos concorrentes não cobrem. A parte de broadcast não está nos planos para o país. Será foco só em banda larga mesmo, 100% da capacidade orientada para entrega da banda larga.

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Rafael Bucco

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