Werthein: G20 no Rio de Janeiro tem o desafio de não deixar ninguém para trás
Por Darío Werthein*
Os líderes do G20 receberão recomendações do Business 20 (B20) para acelerar a transformação digital necessária para gerar maior inclusão econômica e social. Os debates recentes no âmbito das reuniões do B20 e de eventos paralelos que reuniram especialistas internacionais deixaram, pelo menos, duas conclusões transversais: não haverá crescimento nem desenvolvimento econômico sem inclusão digital; é necessário promover um contexto de convivência pacífica através das novas ferramentas tecnológicas, com respeito absoluto à diversidade, inclusive religiosa.
Constatou-se que a economia digital e o avanço da Inteligência Artificial (IA) são irreversíveis e, nesse contexto, a liderança público-privada tem o dever de impedir novas desigualdades e gerar ações com impacto social, de forma concreta e imediata.
Agora é a vez das delegações oficiais tomarem conhecimento das propostas acordadas no B20 ao longo do ano e apontarem as formas de enfrentar os desafios globais, pois a inclusão digital não é apenas tecnológica, é também educacional e de cidadania.
Dados da União Internacional de Telecomunicações (UIT) da ONU indicam que 33% da população mundial (2,6 bilhões de pessoas) não tem acesso à internet ou nunca a usou. A desigualdade é desproporcional: enquanto no norte da Europa 97,4% da população está conectada, na América do Sul esse índice cai para 80%; no Caribe, desce para 68,4%; na África do Sul, para 70,6%; no Norte da África, para 65,9% e na África Oriental, apenas 23,1% da população.
Com base nessa realidade, o B20 trabalhou para chegar a propostas específicas que buscam acelerar a expansão e o uso da infraestrutura de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), por meio da modernização regulatória e das Parcerias Público-Privadas (PPPs). O foco está em fomentar o investimento, a colaboração e a concorrência leal, como modelos de licenciamento que favoreçam os compromissos com a expansão da infraestrutura.
Também se exorta a tomada de medidas para proteger pessoas e organizações, por meio da promoção da confiança digital, acelerando a inovação e o desenvolvimento com a harmonização das normas de cibersegurança e proteção de dados.
Finalmente, propõe-se explorar de forma responsável o potencial transformador da IA, apoiando seu desenvolvimento e adoção, além de colaborar para alcançar uma ambição compartilhada e princípios comuns de ética, sustentabilidade, segurança e inclusão.
Nesse cenário, a inclusão digital é entendida como o motor de desenvolvimento. No entanto, essa revolução tecnológica não deve deixar ninguém para trás. É preciso garantir que todos tenham acesso às ferramentas e conhecimentos necessários para participar plenamente da sociedade digital.
A educação é, por natureza, ampla e inclui valores que permitam discernir cabalmente quais são as bases para a construção de uma sociedade inclusiva. Em um mundo inundado de notícias falsas e discursos de ódio, é fundamental formar cidadãos capazes de interpretar a realidade e tomar decisões adequadas.
Na SKY e na Fundação Norma e Leo Werthein aplicamos essa visão e estamos em ação. Impulsionamos o Edutainment como ponte para a conectividade universal. E com o programa Escola Plus, levamos ferramentas pedagógicas e conteúdos educativos audiovisuais a 160.000 professores e 2.400.000 estudantes de instituições da América Latina.
Também fazemos contribuições para a convivência e o respeito à diversidade, a luta contra o antissemitismo e a favor da igualdade. Por isso, enquanto se desenvolvem debates no B20 e G20, apoiamos a exposição “Anne Frank: Deixem-nos Ser” em Unibes Cultural, São Paulo, como uma mensagem de tolerância para todos.
Levamos adiante outras ações sociais e de voluntariado, revitalizando bibliotecas e melhorando as salas de aula, e estamos construindo, junto à organização Tagma, uma escola sustentável em Mogi das Cruzes que será inaugurada em dezembro.
Em definitiva, a paz, a inclusão, a educação e o desenvolvimento são quatro pilares sobre os quais baseamos nossa ação. Não podemos aspirar a um futuro próspero se não vivermos em um ambiente de estabilidade.
O Brasil lidera esse processo de transformação integral e transversal. Com seu enorme potencial econômico e sua rica diversidade cultural, o Brasil pode se tornar um farol que guie a região para um futuro mais próspero e equitativo.
* Darío Werthein, co-presidente do Grupo de Transformação Digital do G20 e Presidente da Vrio Corp.