Telegram tem 1 mi de usuários em grupos de imagens de crimes sexuais

Informação é da ONG SaferNet, que encaminhou um relatório ao Ministério Público Federal (MPF), em São Paulo

Telegram: 1 mi de usuários estão em grupos que vendem imagens de crimes sexuais

Um levantamento da organização não governamental (ONG) SaferNet mostram que mais de 1,25 milhão de usuários do Telegram no Brasil estão em grupos onde ocorre a venda e o compartilhamento de imagens de abuso sexual infantil e outros crimes sexuais, como imagens de nudez e sexo vazadas sem consentimento, além da venda de material pornográfico gerado com inteligência artificial.

A análise realizada pela Safernet deu origem a um relatório que foi entregue nesta quarta-feira, 23 de outubro, à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF), em São Paulo. Segundo a ONG, o documento indica os links denunciados onde foram encontrados indícios de conteúdo criminoso e podem gerar investigações criminais e cíveis.

A ONG encaminhará o documento às autoridades francesas, que também investigam crimes da plataforma.

O relatório é resultado de uma pesquisa feita em 874 links do Telegram denunciados à ONG como conteúdo de crimes sexuais no primeiro semestre deste ano.
Do total analisado, 149 (17%) ainda seguiam ativos entre julho e setembro, sem sofrerem qualquer tipo de restrição da plataforma.

De acordo com a SaferNet, o mapeamento, conduzido de forma manual e com verificação humana, também identificou mais 66 links, que nunca haviam sido denunciados, com conteúdos criminosos e que foram compartilhados dentro dos grupos ou canais do Telegram.

Líder de denúncias

Entre os apps de mensagem, o Telegram lidera em número de denúncias de “pornografia infantil” recebidas pela SaferNet. E, desde 2021, o Telegram está entre os 10 domínios com mais links desse tipo de crime denunciados à ONG. Em 2022 e 2023, o app ocupou a quinta posição no ranking geral de domínios com mais denúncias de “pornografia infantil”. Em 2023, a SaferNet recebeu 3.274 denúncias desse tipo de crime no Telegram, um aumento de 77% em relação ao ano anterior.

A SaferNet observa que, ao contrário de outras plataformas, o Telegram não divulga dados sobre a quantidade de conteúdos moderados ou removidos, nem o número de denúncias recebidas de usuários e autoridades.

Para o presidente da SaferNet, Thiago Tavares, os dados “demonstram a precariedade da moderação por parte da plataforma, que tem apenas 35 funcionários em todo o mundo para operar um app com 900 milhões de usuários. Essa é uma omissão que precisa ser reparada”.

Pagamento com cripto

A SaferNet também verificou que parte dos conteúdos vendidos aceita pagamento com criptomoedas, o que facilita a anonimização dos autores dos crimes. Além disso, muitas vezes, as transações são operadas por robôs. O Telegram, segundo a ONG, alega não processar pagamentos diretamente em transações feitas dessa forma e que é cliente de 23 processadores de pagamento distintos que alcançam todo o mundo.

Desses 23 processadores de pagamento, a SaferNet identificou o país de registro de 18. Eles estão na Rússia (6) e na Ucrânia (5) e nas ex-repúblicas soviéticas do Uzbequistão e Cazaquistão, com dois processadores cada. Os demais estão em Hong Kong, Chipre, Reino Unido, Camboja e Etiópia.

Tavars acredita que o fato de empresas sancionadas e outras fintechs estrangeiras sem registro no Banco Central serem utilizadas para intermediar pagamentos no Brasil pode facilitar a ocorrência de outros crimes como lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo.

“Solicitamos ao MPF que oficie o Bacen e a ENCCLA (órgão francês) para realizar estudos sobre eventuais lacunas existentes na regulação do setor e apresente recomendações para o sistema financeiro nacional coibir esse tipo de prática”, afirma o presidente da SaferNet. (Com assessoria de imprensa)

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Da Redação

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