Sistemas autônomos e IPv6: setor público precisa estar na vanguarda da tecnologia
Por depender, em grande parte, do setor público, a construção de cidades inteligentes requer que a administração governamental atualize os seus parâmetros de redes e protocolos de internet. Sendo assim, daqui para frente, os governos precisam investir, cada vez mais, em sistemas autônomos e IPv6, tendo em vista a grande quantidade de dispositivos e sensores usados em projetos de cidades conectadas, defende o diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), Demi Getschko.
Em painel do evento Smart Cities Mundi, promovido pelo Tele.Síntese, nesta quinta-feira, 17, Getschko destacou que, apesar dos desafios de conectividade presentes no território nacional, o Brasil é o segundo país com mais sistemas autônomos de redes em todo o mundo. Com cerca de 9 mil redes totalmente sob o controle de um único operador, o País fica atrás somente dos Estados Unidos, nação que dispõe de aproximadamente 30 mil sistemas autônomos.
“Com sistemas autônomos, a sua internet é mais segura”, frisou Getschko. “Se a sua rede é fragmentada, quando o provedor de cima falha, você não tem como se conectar à determinada parte dela”, complementou.
O diretor-presidente do NIC.br explicou que instituições que contam com sistemas autônomos possuem, na prática, redes mais confiáveis. Dessa forma, uma vez dentro do site da organização, por exemplo, é possível acessar outras áreas sem ter que contar com outro provedor, como se a rede fosse totalmente unificada, e não fragmentada.
“É uma decisão técnica que requer, entre outras coisas, roteadores mais resistentes. Faz tempo que estamos batalhando para que o pessoal se conscientize que é melhor se entender internamente do que se fragmentar”, salientou.
Além disso, Getschko ressaltou que o IPv6 (sigla para a sexta e mais atual versão do protocolo de internet) deve ser o padrão a ser adotado para organizações que buscam crescimento, uma vez que o protocolo anterior, o IPv4, está esgotado, impedindo a criação de novos endereços eletrônicos. “Cidades inteligentes têm uma porção de sensores que precisam ser implementadas – e as coisas a serem conectadas também têm IP”, lembrou.
Estratégia nacional
O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) deve apresentar, em novembro deste ano, a nova Estratégia Nacional de Governo Digital (ENGD). O plano deve ser executado no período de 2024 a 2027.
De acordo com Keicielle Schimidt, coordenadora geral de Gestão de Conhecimento, Tecnologia e Prêmios da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), a estratégia nacional deve nortear as ações pelo País, mas estados e municípios podem elaborar seus próprios modelos de digitalização e conectividade.
“A adoção das tecnologias [pelo setor público] começa pela dor, por onde dói mais naquele órgão público. Depois, vem a pressão externa dos cidadãos e exemplos vistos em outros estados e municípios. O difícil é ser o primeiro”, avaliou Keicielle.
No mesmo painel, Elias Reis, head de Cidades Inteligentes da NEC no Brasil, indicou que projetos de cidades inteligentes dificilmente podem ser replicados, uma vez que cada localidade tem as suas características e necessidades. Desse modo, pontuou que “os reais interesses da governabilidade” influenciam a velocidade com que municípios se tornam mais conectados.
“Hoje, o maior problema que encontramos nas prefeituras pelo País é a falta de integração das secretarias, ou elas não se conversarem. Uma vez que há projetos e sistemas apartados, não se tem convergência de informações. Não se consegue cruzar dados, analytics e dashboards”, sinalizou o executivo da integradora japonesa.