Operadoras de celular ambicionam ter 10 milhões de contas correntes
Pensadas para atrair a população não bancarizada, as contas correntes oferecidas por operadoras de telefonia móvel começam a diversificar o foco. Elas já têm em carteira empresas e esperam até que, com o uso crescente do smartphone pela população, pessoas de faixas mais altas de renda usem o serviço para pequenas operações, pagamento de salário de empregados doméstico ou mesada dos filhos.
Em volume, a expansão “quantitativa”, no entanto, deve vir mesmo da inclusão financeira. O potencial, dizem, é de atrair até 10 milhões de usuários para estes serviços. O Brasil tinha cerca 64% da população economicamente ativa com conta em banco ano passado, segundo dados da Febraban. Esta população gira, hoje, ao redor de 24 milhões de pessoas, conforme o IBGE.
No mundo, estimativa da consultoria Strategy Analytics indica que haverá 1 bilhão de pessoas usando serviços financeiros pelo celular até o final deste ano. O volume transacionado deve alcançar US$ 571 bilhões até 2022. Os emergentes terão papel decisivo. Apenas África e Oriente Médio vão representar US$ 200 bilhões dessas transações.
Zuum
A joint venture entre a Mastercard e a Telefónica, completará quatro anos em 2016. Marcou a entrada das operadoras de telecomunicações no segmento tradicionalmente do setor bancário. A empresa aparece como a líder do mercado atualmente, com 600 mil usuários no país.
O foco pouco mudou desde o dia um: atender aos não-bancarizados, uma população que não tem conta no banco, mas tem relação com a teles por recorrer ao celular pré-pago. Segundo Eduardo Abreu, diretor de marketing da Zuum, conseguir fazer esta população recorrer a serviços de conta corrente continua a ser o grande trunfo.
“Um cliente nosso, ativo, usa em média o cartão 10 vezes por mês. Número mais alto que o visto no mercado de bancos do brasil, em que a média do débito fica entre quatro e cinco vezes”, conta Abreu. O cliente da Zuum pode usar um dos 20 mil caixas eletrônicos disponíveis no Brasil, de redes como Banco 24h e Saque e Pague. Desde o primeiro trimestre, o serviço faz pagamento de bilhete único em São Paulo (SP) e Cuiabá (MT).
A procura não diminuiu por conta da recessão no país. Pelo contrário, segundo o executivo. “Por uma questão de segurança, houve um crescimento grande do uso do produto neste período de crise. Identificamos um movimento de migração em busca de segurança e controle”, relata. O tícket médio da recarga é de R$ 200 reais. O cliente paga R$ 14,90 para adquirir o cartão Mastercard, e R$ 2,90 por saque.
Outro público potencial já se avoluma. A joint venture percebeu que a conta corrente pode ser usada por empresas, e começa a atrair negócios B2B. A Zuum já tem em carteira algumas folhas de pagamento. “Hoje, 30% da base é formada por clientes corporativos, são 40 empresas”, conta.
TIM Multibank Caixa
Iniciado com um projeto piloto realizado ao longo de 2015, o TIM Multibank Caixa – criado em parceria com o banco estatal – se tornou um produto no começo do ano, comercializado no Nordeste, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais. São 12 estados, e 50 mil clientes. Procura em linha com as expectativas de Fábio Freitas, diretor de serviços financeiros móveis da TIM Brasil.
O público não-bancarizado também é o filão, mas o executivo conta que cresce o uso por gente que já tem conta em banco. “Temos casos de pessoas que querem pagar mesada para o filho, transporte, pagamento de benefícios. A gente está pronto para atender o pagamento de salários, mas primeiro precisa se tornar um produto muito consistente”, diz.
A data do lançamento nacional ainda não foi definida. “A gente prefere fazer o rollout de forma gradativa. Tecnicamente o produto é pronto para todo o Brasil. Estamos focando no aprendizado e como o cliente que tem o serviço se comporta. Quando for lançado no Brasil inteiro, aí vamos buscar o cliente em quantidade”, avisa.
Na última edição do Ciab, evento de tecnologia bancária, ocorrido em junho, executivo da Caixa disse que o banco estuda parcerias com outras operadoras. Freitas não vê problemas, mas lembra que a marca não poderá ser reutilizada. “A parceria com a TIM não é exclusiva. A Caixa pode fechar com outras operadoras, assim como a TIM pode buscar outros bancos. Mas o Multibank é da TIM, não pode ser usado”, ressalta.
Segundo ele, as operadoras que criaram produtos de conta corrente já pensam em uma integração – em que será possível a transferência de valores entre uma conta Multibank e uma Zuum , por exemplo. Mas não há previsão de quando isso se tornará realidade. “Deve ser em breve”, resume. O serviço não cobra tarifas ou mensalidade, mas taxa em R$ 15 a aquisição do cartão usado para compras em lojas.
Oi e Claro
Oi e Claro também buscam este mercado. Oferecem os serviços Oi Carteira e Claro Meu Dinheiro Bradesco. O produto da Oi é fruto de parceria com o Banco do Brasil e Cielo, e segundo rumores, teria sido descontinuado. A operadora nega. A página do serviço na internet funciona e aceita novos cadastros. A empresa não revela a quantidade de clientes.
Contactada, a Claro não respondeu ao pedido de entrevista. Seu produto, lançado em 2014, também teria sido descontinuado. Diferentemente da Oi, porém, o site na web do grupo mexicano já não está mais acessível.