Souza Pinto: Retorne ao chão de sua fábrica

Suja e poluída esta é a minha primeira impressão de sua fábrica ou de sua marca.

*José Roberto Souza Pinto

jose_robertoEm 2010 escrevi o artigo “visite o chão de sua fábrica”, baseado em dados da qualidade deficiente da prestação de serviços de telecomunicações, medida a partir do elevado número de reclamações de usuários e publicada em veículos de comunicação que cobrem o setor.

Naquela oportunidade, visava recuperar os padrões técnicos de instalações de redes de telecomunicações, notadamente com relação às redes de acesso instaladas em postes das Empresas de Energia Elétrica, com vistas a melhorar a qualidade do serviço prestado, evitando interrupções e recuperando os mínimos padrões técnicos que a engenharia recomenda.

O artigo visava principalmente que os executivos destas empresas visitassem as suas instalações e constatassem o que algumas fotos publicadas no artigo exemplificavam.

Recapitulando: a visita ao chão da fábrica, tinha o sentido que para um prestador de serviço de telecomunicações, seja telefonia e banda larga, TV por assinatura ou outro serviço, o chão da fábrica é a sua rede de telecomunicações e grande parte desta rede está instalada em vias urbanas e em postes.

Passados 6 anos vemos que nenhum padrão de instalação foi implantado ou seguido e a situação, sem dúvida, piorou e muito, como podemos mais uma vez exemplificar com algumas fotos recém tiradas de instalações de redes aérea em postes.


em julho de 2016

 

A imagem não pode ser extrapolada para todos os mais de 5.000 municípios e milhões de bairros existentes no Brasil, mas existem situações muito piores que as apresentadas nestas fotos e você cidadão comum ou principalmente um profissional de telecomunicações, que estudou técnicas e padrões, vai reconhecer uma dessas instalações no seu bairro perto da sua residência ou local de trabalho, ou mesmo num lugar turístico, o que causa uma péssima impressão.

O processo certamente está sem controle algum por parte das empresas autorizadas pela Anatel para prestar serviços de telecomunicações, que envolvem desde cabos telefônicos antigos e novos, coaxiais, fibras ópticas, para prestação de telefonia, TV por assinatura e acesso à internet, acrescido hoje de um número maior de empresas envolvidas neste processo de prestação de serviços, o que complica ainda mais a situação.

Destacamos adicionalmente o agravante que estas instalações de cabos, caixas e outros acessórios colocados nos postes das empresas de energia elétrica não são identificados, portanto não é possível saber se alguma das empresas está seguindo pelo menos uma regra básica da boa engenharia. E alguns destes fios ou cabos estão sem serviço, pois quando o usuário migra de uma operadora para outra, estes permanecem pendurados nos postes ou soltos nas ruas.

Retornando a 2010, verificava que praticamente todos estes serviços de instalação e manutenção destas redes eram terceirizados, o que em princípio me parece uma alternativa viável, desde que seguida dos devidos controles relativos à qualidade das instalações, inclusive sobre o aspecto de segurança física da população que circule por estas ruas.

Cabe destaque também a questão da poluição visual destas instalações que, sem sombra de dúvida, transformam o local em um ambiente visualmente desagradável.

Causa-me espécie duas situações interessantes de se avaliar. Por um lado a tecnologia das telecomunicações e da microeletrônica acumula enormes avanços, que devem ser traduzidos em benefícios para a sociedade e, por outro, a posição das prefeituras municipais e das empresas de energia elétrica que deveriam zelar pela qualidade das instalações técnicas, sobre os aspectos visual e de segurança da população. Mas, como as imagens retratam, não estão vendo ou não consideram prioritário este tipo de expectativa.

A partir de diversas manifestações publicadas nos veículos especializados do setor, vem se verificando certas dificuldades neste relacionamento entre os órgãos municipais e as empresas de energia elétrica (detentoras dos postes) com as empresas prestadoras de serviços de telecomunicações, o que não justifica este quadro sintomático de desarrumação total.

Certamente os municípios têm inúmeras outras prioridades para atendimento à população e vivem um dia a dia de  obras nas suas vias, principalmente urbanas, o que não impede de, como responsável, tomar a iniciativa de incorporar no seu planejamento urbano padrões de qualidade para as instalações elétricas e de telecomunicações, que seriam gradativamente alcançados em cada bairro, evitando que esta situação de descontrole se mantenha.

A partir da descrição apresentada, observamos que a questão é de difícil solução, mas estas empresas possuem profissionais bem preparados e, se ainda prevalece esta situação só pode ser em função da falta de prioridade, o que recomenda  que está na hora desta conversa entre as partes envolvidas acontecer e que seja rápido, porque a situação tende a piorar.

Desta forma, esse artigo visa mais uma vez lembrar da necessidade de se recuperar um padrão de qualidade de instalação, que siga normas da boa engenharia, da segurança física e que seja visualmente aceitável e não um poluidor visual.

Jose Roberto de Souza Pinto, engenheiro, mestre em economia empresarial e consultor.

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Colaborador

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