Relatório da OIT cita ‘atrasos’ do Brasil na transição digital
A América Latina sofre “atraso regional” em relação à transição digital nos países avançados. É o que aponta relatório da OIT –Organização Internacional do Trabalho – divulgado nesta semana. Reunindo uma série de pesquisas que analisa a região, o relatório revela onde o Brasil está ficando para trás comparado aos vizinhos, incluindo a falta de investimento em tecnologia e educação (veja ponto a ponto mais abaixo).
Os levantamentos fazem parte da publicação “Transição digital, mudança tecnológica e políticas de desenvolvimento produtivo na ALC: desafios e oportunidades”, apresentada na 4ª Reunião Ministerial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Ao discorrer sobre as considerações gerais do relatório, em videoconferência com representantes do poder público realizada na quarta-feira, 22, a diretora regional interina da OIT para a América Latina e o Caribe, Claudia Coenjaerts, considerou que é necessário “um debate renovado e aprofundado na região que aborde os principais fatores que impulsionam o aumento da produtividade, a transição digital e suas repercussões no trabalho decente”.
Pontos fracos do Brasil em relatório da OIT
Investimento em educação: em ranking sobre a “atualização de conteúdos educativos e investimento em competências necessárias para futuros empregos e mercados”, o Brasil aparece em penúltimo lugar. Em uma escala de 1 a 100, a pontuação brasileira foi de 39,5 entre 37 economias avaliadas, perdendo apenas para Grécia, com nota 38.7. A comparação consta em estudo da WEF (World Economic Forum), feito em 2020, citado no relatório.
Empresas digitalizadas: de acordo com o relatório da OIT, o Chile e o Brasil apresentam os menores crescimentos da adoção de internet pelas empresas na América Latina em 2020, ano marcado pelo início da pandemia. A escala nos dois países ficou em torno de 360%, enquanto que os melhores avanços, na Colômbia e no México, chegaram a 800%.
Indústria da transformação: análises com base em amostra de empresas da Argentina, Brasil e Uruguai, ilustram “defasagem regional no processo de transição digital na manufatura”. De acordo com o levantamento, a difusão de tecnologias avançadas nos três países ainda é marginal: 4% nas áreas com maior penetração, enquanto que a média é de 15% nos EUA.
Ainda segundo a pesquisa sobre a indústria de transformação, menos de 15% das empresas no Brasil e cerca de 5% na Argentina e Uruguai afirmam estar tomando medidas corretivas em relação à defasagem.
Setor mineral-energético: neste tópico, o relatório indica desafios como: “necessidade de explorar jazidas remotas, volatilidade nos preços dos insumos, demanda por sustentabilidade ambiental e licenciamento social da atividade” na América Latina. O estudo ainda cita o Brasil entre países com investimento abaixo da média nas pesquisas de desenvolvimento e inovação neste setor.
Conectividade no campo: entre desafios gerais da América Latina, o que também envolve o Brasil, o relatório indica ainda a baixa taxa de adoção de tecnologias de precisão (agtech). Entre as causas apontadas estão: “altos custos de aquisição e implantação, demora no retorno do investimento, falta de conectividade no campo, falta de instituições para apoiar a adoção de tecnologia, baixos níveis de conhecimento tecnológico e visões tradicionais dos produtores, além de obstáculos regulatórios”.
Pontos fortes
Apesar da necessidade de avanços em diversos aspectos, o Brasil é destaque pelas “capacidades inovadoras locais de classe mundial” em relação aos outros países da América Latina, tomando como exemplo os setores de silvicultura, etanol e sementes.
O relatório cita ainda que “a indústria brasileira é tecnologicamente mais avançada” em recursos de terceira geração, principalmente nas relações com clientes e fornecedores. Além disso, levantamento realizado com as empresas do Brasil apontam a expectativa de reversão do atraso tecnológico durante a próxima década.
O relatório da OIT foi elaborado com participação do Ministério do Trabalho e Previdência do Brasil, Equador e Chile, da Confederação Sindical de Trabalhadores(as) das Américas (CSA), e da Organização Internacional de Empregadores (IOE).