Refarming em 900 MHz pode prejudicar redes de IoT, alegam empresas

As empresas que têm redes de Internet das Coisas no Brasil alegam que a alteração na ocupação da faixa de 900 MHz sugerida pela Anatel colocará em dúvida os planos de expansão dessas redes e obrigará a substituição dos sensores. Os smart grids das elétricas também seriam afetados.
Redes de IoT podem ser afetadas com proposta da Anatel Crédito: Freepik
Alteração na faixa de 900 MHz pode afetar redes atuaisCrédito: Freepik

O refarming da frequência de 900 MHz, proposto na consulta pública n. 52 da Anatel, que se encerrou no final do ano passado e que faz uma ampla alteração na ocupação de grande parte do espectro em uso no país, poderá trazer grandes prejuízos para as redes de IoT (Internet das Coisas) atualmente instaladas, alegam as empresas que oferecem o serviço com as tecnologias LoRa ou Sigfox, entre outras.

A alteração sugerida, argumenta a agência, é para melhorar a ocupação do espectro, de maneira a liberar mais capacidade para os usos futuros da banda larga móvel, a tecnologia IMT. Segundo a Anatel, a faixa de 900 MHz está atualmente dividida em três grandes blocos, denominados Subfaixa D’ (910 a 912,5 MHz / 955 a 957,5 MHz), Subfaixa E'(912,5 a 915 MHz / 957,5 a 960 MHz) e Subfaixa de Extensão (898,5 a 901 MHz e 907,5 a 910 MHz/ 943,5 a 946 MHz e 952,5 a 955 MHz).

” Considerando a evolução dos sistemas IMT, a canalização estabelecida para a faixa de 900MHz, com larguras de faixa de (2,5+2,5) MHz com descontinuidade, não atende mais às necessidades tecnológicas e requer atualização, visando permitir implementação de portadoras IMT de, no mínimo,(5+5) MHz”,  diz a agência em seu relatório.

Mas, para as empresas que usam um pedaço desta frequência para oferecer o serviço de IoT, não licenciado, essa alteração irá cortar 16 MHz do espectro hoje disponível a elas, o que implicará em grandes alterações nas redes e mesmo nos sensores instalados em campo.

Para a WDC, empresa que tem uma grande rede com a tecnologia Sigfox no país, essa alteração “impactará os prazos de retorno do investimento das empresas, não obstante todos os massivos investimentos por elas já realizados, colocando em dúvida seus planos de expansão, afetando seu valor presente e incrementando o seu risco percebido com consequente aumento de custos de capital”.

A empresa estadunidense Sigofx, detentora da tecnologia, argumenta ainda que  os usuários estariam obrigados a  “realizar a substituição de diversos dos sensores ora em uso para suas aplicações IoT. Considerado o tempo de vida das baterias dos sensores – estimado de 5 a 10 anos – os clientes da WND terão perdido o investimento realizado nos aparelhos que serão trocados – os quais mantidas as condições atuais de uso do espectro, ainda teriam uma longa vida – e estarão obrigados a gerenciar dispositivos substituídos e não substituídos, trazendo maior complexidade à sua operação”.

Refarming e Smart Grid

O refarming (reocupação) sugerido pela agência nesta faixa também acendeu o sinal de alerta para as concessionárias de energia elétrica que já tem instalados smart grids (ou medidores inteligentes) em suas redes. Segundo a Copel, existem atualmente no Brasil cerca de 3 milhões desses aparelhos, que seriam afetados com a redução do espectro não licenciado (conhecido como banda ISM 915).

E a fabricante desses aparelhos, a empresa NANSEN / Sanxing diz ainda que “qualquer alteração ou interferência nesses equipamentos causará impacto direto nos indicadores de qualidade, além de impactar diretamente o fornecimento de energia para a população, uma vez que grande parte desses sistemas de automação tem como função principal o religamento e monitoramento de eventuais indisponibilidades de energia.”

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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