Rede neutra é só o começo: indústria de telecom precisa mudar mais, diz consultoria

Analysis Mason aponta a necessidade de desmembrar a indústria em três níveis de negócio, adicionando um intermediário entre a ofertante no varejo e a detentora da infraestrutura.
Indústria de telecomunicações
Indústria de telecomunicações precisa se desmembrar, diz analista de mercado (Crédito: Freepik)

A indústria de telecomunicações apresenta retornos mais baixos para os acionistas do que diversos setores da economia há praticamente uma década. E mesmo o lançamento do 5G não se mostra capaz de mudar este cenário. Como forma de contornar a situação, a solução passa por desmembrar o setor em três níveis de negócio: redes de acesso, redes agregadoras e provedores de serviços.

Esse entendimento foi compartilhado por Charles Murray, analista da Analysys Mason, durante evento online da consultoria hoje, 10.

Em sua apresentação, Murray mostrou que o setor de telecomunicações teve desempenho inferior ao índice de mercado nos últimos dez anos, além de ter gerado um dos retornos mais baixos em 2021. Para efeito de comparação, enquanto o retorno aos acionistas das operadoras ficou em 14% no ano passado, a média da economia, na Europa, foi de 21%.

“A indústria não faz jus à perspectiva projetada”, destacou o analista. “A indústria sofre do problema do próximo investimento, como se o próximo ‘G’ fosse trazer os resultados esperados”, acrescentou.

Segundo Murray, as frequências móveis exigem investimentos constantes em equipamentos e instalações para lidar com as atualizações de rede. Contudo, a receita advinda desses serviços não cresce no mesmo ritmo.

Além disso, muitas operadoras oferecem pacotes de dados ilimitados, de modo que a receita por gigabyte consumido continua em queda.

“Mais tráfico tem sido empurrado para a rede móvel. No entanto, a rede móvel é mais cara para suportar todo esse tráfego de dados”, ressaltou o palestrante.

Por isso, no entendimento do especialista, para que o setor se recupere, é preciso dividi-lo em três níveis de negócio.

As empresas de rede de acesso ficariam responsáveis pela infraestrutura, enquanto as agregadoras de rede funcionariam com foco em criar soluções com base em componentes e contratos com as redes de acesso. A cadeia seria completada pelas provedoras dos serviços, ou seja, as marcas, negócios responsáveis pela venda direta ao consumidor.

“A indústria tem um desafio significativo no que diz respeito aos retornos dos acionistas”, reforçou Murray. “Separar a marca da agregadora de rede pode ser muito difícil em mercados nos quais a rede móvel é a ‘joia da coroa’”, ponderou o analista.

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Eduardo Vasconcelos

Jornalista e Economista

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