Realidade Virtual se aproxima de escolas, mas conteúdo ainda é desafio

Aquisição de óculos e equipamentos é o que menos preocupa secretarias estaduais e municipais de Educação; elaborar o conteúdo para ser utilizado por meio de VR, no entanto, se mostra o grande dilema para os currículos escolares
Edtechs e as escolas públicas - Quinto Painel - Desafios governamentais: o que estados e municípios têm feito para avançar com a digitalização nas escolas.
Painel do evento Edtechs e as Escolas Públicas discutiu como estados e municípios têm avançado na digitalização do ensino escolar

A tecnologia de Realidade Virtual (VR, na sigla em inglês) está mais próxima das escolas brasileiras do que se pensava. No momento, secretarias de educação estaduais e municipais avaliam a aquisição de dispositivos por meio da abertura de processos licitatórios. A compra de óculos VR, na verdade, é o que menos preocupa as administrações públicas. A grande questão ainda é o conteúdo que deve ser usada no contexto de aprendizagem.

Segundo o superintendente de Tecnologia da Secretaria Estadual de Educação de Goiás, Bruno Marques Correia, as escolas estaduais goianas devem ganhar laboratórios de realidade virtual em breve. A aquisição de equipamento está nos planos do governo estadual. Um processo de licitação já foi aberto, mas apenas uma empresa se candidatou.

“Isso ocorreu devido mais à parte de conteúdo do que a de equipamentos”, disse Correia, nesta quarta-feira, 31, em painel do Edtechs e as Escolas Públicas, evento realizado pelo Tele.Síntese, com apoio institucional da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro). “O equipamento em si seria mais fácil de adquirir, porém, temos exigido bastante sobre conteúdo”, acrescentou.

Correia apontou que a meta é ter 80% das escolas estaduais com laboratórios de realidade virtual. Além disso, disse que, no período em que os alunos tiveram aulas a distância, em razão da pandemia, o governo estadual investiu na infraestrutura escolar, inclusive na ampliação da conectividade, o que deve sustentar o uso de novas tecnologias nos espaços de aprendizagem.

“Nesse projeto, queremos alinhar as nossas plataformas existentes a esse conteúdo [de VR]. Então, não são só os óculos, mas os conteúdos que temos que analisar”, reforçou.

Dilema semelhante é visto no estado do Mato Grosso. De acordo com Silvana Copceski Stoinski, líder da Política de Tecnologia no Ambiente Escolar na Secretaria de Educação de Mato Grosso, o governo estadual realizou uma reunião, na terça-feira, 30, na qual decidiu levar a tecnologia de realidade virtual às escolas. Contudo, “a preocupação é o conteúdo que vamos implantar”, informou.

“Você sai da sala de aula e vai para outro espaço totalmente tecnológico. A nossa intenção é trazer o conteúdo para a realidade do Mato Grosso, das avaliações e do que é abordado em sala de aula para depois ir além do conteúdo dado em sala de aula”, sinalizou Silvana.

Paralelamente, o governo estadual deve prover qualificação para os professores, a exemplo do que já faz com outras tecnologias, segundo Silvana.

“Estamos cuidado da capacitação dos professores também. Fazemos eventos para mostrar como pôr a mão na massa, de modo que eles retornem às escolas e consigam usar os equipamentos. Percebemos que os alunos estão totalmente tecnológicos, então, precisamos levar qualidade para eles”, avaliou.

Germania Kelly, responsável pelas ações de tecnologia da Secretaria da Educação de Fortaleza, por sua vez, destacou que “realidade virtual e [o uso dos] óculos pedem o aprimoramento da infraestrutura de conectividade”. De todo modo, ela pontuou que 84% das escolas da capital cearense contam com conexão de fibra óptica, o que tem servido para pôr em práticas projetos ligados à robótica e a tecnologias digitais na educação básica.

A infraestrutura de conectividade, além disso, tem dado suporte às chamadas “salas de inovação”, ambientes em que estudantes podem utilizar equipamentos com tecnologia de ponta para aprender e desenvolver aplicações. Outro projeto de destaque envolve aulas de linguagem de programação para alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

“O desafio é transitar do papel de consumidor para o de produtor de conteúdo. Estamos trabalhando justamente na perspectiva de que eles possam construir e elaborar materiais em nossas redes”, afirmou Germania.

Novos equipamentos

Na discussão, pelo lado do setor privado, a gerente sênior de Relações Governamentais da Qualcomm, Milene Franco Pereira, chamou a atenção para o fato de que muitas licitações na área de educação não contemplarem novas tecnologias ou dispositivos que trazem novas possibilidades de uso.

Ela ressaltou que a Qualcomm tem investido em processadores para notebooks com bateria de longa duração e Sim Card embutido (eSim). Assim, o aluno pode utilizar o computador sempre conectado (Always Connected PC) de modo semelhante a um smartphone.

Nesse sentido, a empresa norte-americana deu início, neste mês de maio, ao projeto Ascon (aluno sempre conectado). Três escolas de Goiânia participam da iniciativa, que consiste em distribuir Chromebooks para estudantes e professores. O dispositivo acompanha a tecnologia Snapdragon, da Qualcomm, conectividade móvel e bateria estendida. Mais uma escola deve integrar o projeto em breve.

No entanto, conforme Milena, muitas licitações no País ainda barram máquinas que funcionam com eSim. “O desafio maior é apresentar essa alternativa e ver como as secretarias [de Educação] podem abrir a porta para seu uso”, ponderou.

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Eduardo Vasconcelos

Jornalista e Economista

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