Porque o edge se tornou fundamental para o futuro da tecnologia?

Carros solares conectados a redes 5G e 6G serão capazes não apenas de processar altos volumes de dados, como também de devolver energia à rede elétrica. Mas a falta de padronização é um obstáculo.

É comum ouvir de executivos de empresas de tecnologia e de operadoras de telecomunicação sobre como utilizar a “fog” e o “edge” reduz a latência na entrega de serviços para o cliente final. Tudo fica mais rápido, e a qualidade percebida pelo usuário melhora. Mas há outro elemento, menos comentado, que diz respeito à demanda energética, observa a pesquisadora do laboratório Smartness da Unicamp, Marina Martinelli, que estuda o sistema de inovação 5G e 6G.

Marina Martinelli, pesquisadora doutoranda da Unicamp
Marina Martinelli, pesquisadora doutoranda da Unicamp

Estudiosa do futuro das redes de comunicação, ela explica que há um crescente desafio no consumo de energia. Segundo ela, ao se tornarem mais potentes nas bordas, as redes também distribuem a carga de energia que demandam para processar o crescente volume de dados.

“Se continuássemos a centralizar os dados em poucos data centers, não seria possível lidar com o alto consumo de energia”, resume, em conversa com o Tele.Síntese.

Martinelli diz que o fenômenos da construção da fog e da edge vão ao encontro dos interesses tanto das operadoras, como das distribuidoras de energia.

A computação nebular, ou Fog computing, é uma forma de processamento de dados ou de arquitetura de Internet mais descentralizada que a Cloud e mais barata. “É uma forma de armazenamento, cálculo e geração de dados em sub-clouds antes de esses dados serem enviados à Nuvem”, observa.

Já a computação de borda, ou Edge computing, é uma forma ainda mais descentralizada de arquitetura de processamento de dados, em que o usuário final é diretamente beneficiado com os serviços em tempo real. “A arquitetura Edge 4G/5G é fundamental para sensores e drones, bem como para todo tipo de mecanismo IoT, ou mesmo redes privativas”, exemplifica.

Essas arquiteturas são complementares, não se anulam. “Em alguns cenários, a Cloud ainda é mais adequada, mas em outros, a Edge e a Fog se saem melhor”, diz.

Carros no caminho do futuro

O problema é que processar dados consome muita energia, e as fontes de produção tradicionais são estanques e nem sempre, sustentáveis. Com isso, cientistas ao redor do mundo começam a sugerir como alternativa futura utilizar os carros que circulam pelas ruas como fontes de geração de energia, inclusive para alimentar o poder de processamento na edge e na fog.

“Os atuais veículos elétricos (VEs) e híbridos são conectados à rede de Internet. No entanto, nenhum deles é ligado à rede de energia elétrica, porque não são veículos que funcionam como redes elétricas inteligentes (vehicle-to-grid), além da Rede de Internet. Em levantamento recente feito por um artigo que publiquei neste ano de 2024, não há patentes para veículo-to-edge, sendo os investimentos ainda somente em veículos ligados à Fog. Isso significa que a edge ainda está incipiente e em fase de estudos e construção para aplicações para VEs”, explica a pesquisadora.

Os VEs têm outras características indesejadas em termos ambientais, como o uso de baterias que são perigosas se descartadas de forma inadequada e são produzidas a partir da extração por mineradoras que poluem e degradam o bioma onde se instalam.

Assim, a estrada da sustentabilidade leva a um carro conectado do futuro movido a energia solar e capaz de devolver a energia gerada em excesso à rede elétrica. São os chamados carros bidirecionais. “Já há patentes para essas tecnologias, e não são poucas, de grandes empresas e montadoras automobilísticas como a 3M e Toyota, além da LG, que possui liderança nessas tecnologias”, diz Martinelli.

5G e 6G precisam padronizar carros bidirecionais

Estes carros “movidos a rede”, que estão em tempo integral ligados à rede 5G e 6G e devolvem energia dependem de muita discussão em organismos internacionais para se tornarem realidade, porém. Ainda não há padrões definidos para seu funcionamento.

“Os novos veículos ligados à rede com energias renováveis e conectados em fog e edge podem direcionar as discussões sobre padronização em 5G e 6G, uma vez que podem utilizar as redes rápidas de baixa latência (5G) e ultra rápidas de ultra baixa latência (6G) para rodar em tempo real da forma bidirecional”, aposta a cientista.

Por enquanto, ainda não há nem carros solares “unidirecionais” à venda. O mais provável candidato a se tornar o primeiro produto de escala a ir para as ruas, nos Estados Unidos, é o modelo da Aptera: um carro de 3 rodas movido pelo Sol.

Carro movido a energia solar da Aptera
Carro movido a energia solar da Aptera: veículo (e negócio) ainda precisa se tornar realidade comercial

Até o momento, a empresa levantou US$ 100 milhões em recursos via crowdfunding com 17 mil pessoas. Segundo seus criadores, o lançamento comercial será 2025, graças a porte adicional obtido junto ao fundo US Capital. Mas o negócio ainda precisa se provar. Por ora, o que se vê são anúncios de marcos em crowdfunding, aportes de investidores, fotos e vídeos de divulgação realizados pelas própria empresa.

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Rafael Bucco

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