Piemonte vai comprar mais data centers e estuda entrada em redes de fibra
A Piemonte Holding surgiu no mercado de tecnologia não faz muito tempo. Em 2019 comprou participação, não revelada, no GBT Data Center, de Brasília. Tal estrutura atende exclusivamente Banco do Brasil e Caixa, em modelo de parceria público privada. No ano seguinte, iniciou um salto. Arrematou, em novembro, cinco data centers colocados à venda pela Oi, concessionário de alcance nacional que atravessa uma recuperação judicial repleta de venda de ativos.
Pelas unidades da Oi, o Piemonte vai pagar R$ 325 milhões. O valor ainda não foi desembolsado, o que acontecerá em pouco tempo, explica o CEO da instituição financeira, Alessandro Lombardi (foto), após o cumprimento de requisitos considerados habituais em uma compra de empresa que está em RJ.
Em entrevista ao Tele.Síntese, Lombardi conta que o Piemonte, através de sua empresa de data centers, a Elea Digital, vai renovar a estrutura adquirida. A atualização vai custar ao menos R$ 100 milhões, gastos ao longo de 2021 e 2022. Além disso, novas compras estão no radar. Segundo ele, o foco da expansão por aquisição será no mercado de corporate, que traz a estrutura já com um cliente garantido. E a atuação será sempre em colocation, deixando para o cliente administrar sua nuvem.
E executivo contou que há grande oportunidade de expansão no Brasil por conta de uma demanda que só vai crescer, na esteira da digitalização das empresas, do governo e da chegada da 5G. E que, além de data centers, avalia comprar ativos de fibra complementares. Confira, abaixo, a íntegra da entrevista concedida nesta semana.
Tele.Síntese – Por que vocês compraram os data centers da Oi?
Alessandro Lombardi, CEO da Piemonte Holding – Em 2018 começamos a estudar o fenômeno de investimentos nesse setor. Nos EUA, muitos bancos identificaram o setor digital como estratégico no mundo todo. Em 2019 começamos com o data center do Banco do Brasil, com uma participação ali. Nossa estratégia nisso começou portanto antes da Oi. Os grandes negócios de telecom no mundo em 2019 foram vendas de operadoras desinvestindo em infraestrutura digital, porque isso não é core para seus negócios. Ser dono da infraestrutura não interfere em prestar o serviço onde há infraestrutura.
Foi nesse contexto que iniciamos as negociações com a Oi, ainda na segunda metade de 2019. O conceito que o BofA, que assessorava a Oi, propôs era o mesmo que nós acreditamos. Os 5 data centers, embora não sejam hiperscale, têm ótima localização geográfica. São bem localizados para realizar o tráfego em todo o Brasil.
A latência com 5G é cada vez mais importante, precisa de data center perto do cliente. E o Brasil é um país continental, enorme. Então pensamos em ganhar mercado através dessa localização. Por onde entrar? Apesar de faltar data centers no Brasil, em São Paulo está sobrando capacidade. Em Porto Alegre, porém, o cenário é positivo, em Curitiba também. Faremos uma federação. Temos 13 mil m² de área para colocation, 40 mil m² ao todo. Só que com o diferencial de alcançar todo o país.
Tele.Síntese – O investimento não era arriscado?
Lombardi – Ao conhecer o plano estratégico da Oi ficou claro para nós que a marca de varejo Oi Móvel iria mesmo ser vendida. Fizemos quase uma aposta, acreditamos como viável a possibilidade de eles venderem. Então, um cliente pouco atraente que eram, em recuperação judicial, se transforma em Claro, TIM e Vivo. E o que fica, a Infraco, também é um cliente que queremos ter.
E o 5G, nem as telcos sabem de quantos data centers vão precisar. Embora seja cada vez mais eficiente o servidor, tem cada vez mais dados para trafegar. Para quem faz colocation, como nós, é estratégico. O investimento é atraente em termos globais. Está acontecendo isso no Japão, na Austrália, na Europa.
Mas colocation puro, quase não existe. A gente está propondo um colocation diferente, para poucos grandes clientes, focados.
Tele.Síntese – A Oi tentou antecipar o leilão judicial em 2020 para receber logo o dinheiro da venda, mas não conseguiu. Vocês já pagaram a Oi? Quando o negócio será concluído?
Lombardi – É questão de dias ou semanas a consumação da transação final. O dinheiro vai ser transferido no dia que a propriedade passar ao Piemonte. Fizemos o negócio 100% em videoconferência esse tempo todo [por causa da pandemia]. Nunca encontramos ninguém. Assinamos tudo com Docusign. Faltam assinatura e documentos auxiliares. Ainda não terminou porque é uma compra complexa, que passou pelo crivo de milhares de credores, pelo do judiciário, pelo Cade. Do momento em que fizemos uma oferta final em maio, o negócio demorou meses para fechar.
Tele.Síntese – O ativo está up-to-date, ou será preciso aporte para atualizá-lo?
Lombardi – Os data centers são bem cuidados. Porém é com um carro seminovo: funcionam, e operam bem, mas tem que mexer. Tem clientes muitos prestigiosos lá dentro além da Oi. A gente quer participar do 5G. Queremos ter data centers tier 3. Do ponto de vista de concorrência nessa federação em Porto Alegre, Curitiba, Brasília, não vai ter muito Tier 3. Os data centers da Oi precisarão ser melhorados para ser Tier 3. O ar condicionado, por exemplo, funciona direito mas tem 20 anos, então vamos trocar o equipamento inteiro.
Esperamos aumento significativo de volume tráfegado nas unidades. Faremos um investimento de pelo menos 100 milhões de reais nos próximos dois anos. Temos estudos que mostram mais expansão e novos data centers para comprar, o que pode triplicar esse valor ao longo dos próximos cinco anos.
Além da atualização do que já existe, em dois dos cinco data centers vamos fazer uma ampliação significativa. Terminada essa fase, demonstrado que podem atender ao aumento da demanda, a gente vai investir mais ainda em expansão em 2023, 2024.
Tele.Síntese – Então vão comprar mais ativos? Quais? Torres, rede de fibra também?
Lombardi – Estudamos o máximo possível o mercado. Se entrarmos, só com participação minoritária. São setores totalmente complementares. Torre, data center e fibra passam por um ciclo. Podemos pensar em aquisição estratégica, em construir cabo do lado dos data centers porque falta cabo ali. Mas comprar torres, por exemplo, é um investimento muito agressivo que não tem característica de pioneirismo que buscamos. Esse mercado exige um patamar de R$ 20 bi para entrarmos. Então nosso foco é data center e pode haver surpresa em fibra.
[quote cite=’Alessandro Lombardi, CEO Piemonte Holding’]Nosso foco é data center e pode haver surpresa em fibra[/quote]
Tele.Síntese – A compra dos data centers da Oi traz novos clientes para carteira, como a própria Oi, correto?
Lombardi – Nosso colocation é diferenciado. Não fazemos hosting. Não cobramos máquina. Eles [os clientes] mexem com tudo. Nosso trabalho é ter um lugar seguro para os servidores, com refrigeração, energia e segurança física.
Estamos muito atentos ao setor financeiro. Caixa e BB não são os únicos a vir a usar serviço de terceiro de colocation. Com a compra ganhamos mias quatro a cinco clientes grandes. Entramos no setor de telecom tendo em vista o 5G, e temos governo. Hoje, 40% dos clientes do grupo é do segmento financeiro, 40% de telecom, e 20% governo. E considero Caixa e BB financeiro. Os clientes de governo vieram com a compra das unidades da Oi. Nos EUA, o maior comprador de centro de dados é o governo americano. Vemos que aqui o governo brasileiro vai precisar muito de centro de dados ainda.
Tele.Síntese – Pretendem também atender outras operadoras?
Lombardi – Com certeza vamos atender outras operadoras. Nas negociações, a Oi não aceitou assinar contrato de longo prazo com a Oi Móvel, porque estava à venda. Temos um contrato de curto prazo com as três, ou quem efetivamente levar a unidade se não houver mudanças. Entã,o temos os três operadoras na carteira. Com a Infraco, temos contrato, ela precisa muito de Data Centers, então temos contrato de médio, longo prazo.
Tele.Síntese – Fundo investe de olho no retorno. Para quando enxergam o break even e qual a projeção de saída do investimento?
Lombardi – Não, não. Tratamos o negócio como breakeven por definição. Ele não vai dar uma margem capaz de se pagar imediatamente. O projeto é de infraestrutura de longo prazo, parte da Elea Digital, nossa empresa de data centers. É um negócio para sempre, com perenidade, que se paga completamente no longuíssimo prazo, só. O importante é manter o equilíbrio financeiro, cumprir covenants com os bancos credores sempre. Mas para dar um número, em 7 a 10 anos o negócio se paga.
Não enxergamos modelo de saída da Elea. Certamente vamos querer sócios, mas não vamos sair. O capital [usado da compra dos dada centers da Oi] é próprio, portanto, não temos obrigação de sair. Queremos fazer parte e crescer. Não tem peixe pequeno em infraestrutura.
[quote cite=’Alessandro Lombardi, CEO Piemonte Holding’]Não enxergamos modelo de saída da Elea. Certamente vamos querer sócios, mas não vamos sair[/quote]
Tele.Síntese – Quais as metas estratégicas que querem alcançar neste ano e em cinco anos?
Lombardi – A gente tem 80% da nossa receita nos cinco clientes [ BB, Caixa, Claro, TIM, Vivo]. Precisamos adquirir mais clientes nos mesmos setores. Vamos aumentar carteira comprando mais data centers. Para ter novos clientes, preferimos esse modelo de aquisição. Nosso negócio é comprar unidades de corporate data centers, que são os data centers ainda de posse de empresas que não têm no seu core explorar esse segmento. Apenas para exemplificar, não significa que estamos negociando nada, mas uma grande petrolífera brasileira tem data centers enormes. Pode ser que ela queira vender em algum momento, porque isso não faz parte do negócio principal. Nós compramos esse tipo de unidade, que já tem o cliente. É importante porque nossas unidades têm 75% de utilização.
Tele.Síntese – De onde veio o dinheiro da Piemonte?
Lombardi – A Piemonte é uma SA. Fundei com cinco outras pessoas. Nasceu como um pequeno banco de investimento, fazendo estruturações e ganhou um bom capital com isso. Depois se capitalizou, montamos um Private Equity em 2016 e ganhamos muito com o dólar. Basicamente nossa história é essa.
Tele.Síntese – Como conseguiram BB e Caixa entre os clientes?
Lombardi – Caixa e BB é uma parceria público privada firmada em 2010 e 2011 com o data centers de Brasília. Ou seja, é explorada por um veículo criado só para fazer data center da Caixa e BB. O Data Center GBT tem mais 7 anos de contrato nessa PPP, que pode ser renovado por mais 15. Quer dizer, vai até 2042. Acreditamos que será ampliado por causa da demanda. Só a Caixa aumentou em 20 milhões a base de clientes por causa do auxílio emergencial em 2020.
Em 2019 mesmo no Brasil ninguém sabia o que era o mercado de data centers. A gente estava fazendo o movimento de ampliação prevendo uma obra de cinco anos, e fizemos em 12 meses. Fizemos aumento de capital na GBT. Reforçamos a estrutura porque os sócios não eram técnicos. A GBT é uma S.A., somos sócios. Estamos com planos de colocar inteiramente embaixo do projeto Elea. Para isso, os demais precisam vender. São sócios uma empresa de construção civil, um banco de investimento e uma empresa de ar condicionado. Estamos de olho. Um M&A da GBT é um dos planos para este ano. Se ele quiserem vender a parte deles, vamos apresentar nossa proposta.