Para operadoras, vácuo regulatório favorece OTTs e ameaça o setor

Pauta já tradicional em eventos pelo globo, a assimetria regulatória se tornou mais patente durante a pandemia e devido à compreensão de que dados são a principal fonte de geração de valor nos próximos anos para o setor de telecomunicações.

Um debate já antigo ganhou contornos dramáticos na edição deste ano do Mobil World Congress. No painel de abertura do evento, os presidentes das principais operadoras da União Europeia afirmaram e reafirmaram críticas à incapacidade dos reguladores de criar condições para que as teles façam a competição em pé de igualdade com empresas da internet (over the top, ou OTTs, como são chamadas).

Presidentes dos três principais grupos europeus, Telefónica, Deutsche Telekom e Orange, destacaram que a pandemia acelerou a digitalização das pessoas, pressionou as redes das teles e tornou mais nítida a percepção de que os dados são a principal fonte de receitas do futuro.

Timotheus Höttges, CEO da Deutsche Telekom, foi mais enfático. Para ele, falta coragem política para que alguém venha à frente e trace um plano de longo prazo para a União Europeia em termos de conectividade e enfrente o desequilíbrio que há na disputa com as OTTs.

“Como é possível que WhatsApp não seja tratado como um serviço de comunicação? Como é possível que a Microsoft esteja ampliando sua rede e conectando sua rede edge com fibra, provendo conectividade para clientes, e não é considerada um provedor de conectividade? Como é possível que 80% do tráfego seja gerado por empresas OTT e elas sequer paguem um centavo pelo uso da infraestrutura? E em troca ainda consigam todo o valor dos dados do consumidor? Quem paga essa conta? As operadoras. Essa é uma equação justa? Temos que equilibrar esse jogo”, enfatizou.

A seu ver, a União Europeia carece de regras homogêneas, possuindo 27 regulações para telecomunicações, falta de clareza em questões antitruste e também em privacidade. Já Estados Unidos e China teriam estratégias e regras bem definidas.

José María Alvarez-Pallete, CEO da Telefónica, reafirmou o que disse em seu discurso inicial. Defendeu revisão dos marcos regulatórios, após enfatizar que são datados, criados para a realidade do século passado. “Há uma série de novos competidores no acesso. Mas também são novos competidores em outras camadas, como over the top. Hoje nós operadoras não competimos mais com meus competidores tradicionais”, lembrou. A seu ver, e Europa precisa refazer suas regras para telecomunicações.

Stéphane Richard, CEO Organge Group, procurou contemporizar. Para ele, a Comissão Europeia já reconhece a importância da digitalização e do setor de telecomunicações e traçou um plano para 2030 com financiamentos que será uma grande oportunidade. “Temos que ajudar a Comissão Europeia a gastar o dinheiro de forma sábia”, afirmou.

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Rafael Bucco

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