Para Eutelsat, uso da banda C Planejada libera 5G em 3,5 GHz

Operadora de satélites vê saída como alternativa ao problema de interferência da 5G sobre os canais de TV aberta sintonizados por antena parabólica.

A Anatel avalia nesta semana o grau de interferência de redes móveis que usam o espectro de 3,5 GHz sobre a banda C (3,625 a 4,2 GHz). Relatório elaborado pelas superintendências de Outorga e Recursos à Prestação (SOR), de Fiscalização (SFI) e pela assessoria técnica da agência concluíram que a frequência a ser vendida no próximo leilão terá impacto sobre a qualidade do sinal de TV aberta recebido por satélite (TVRO).

Há pressão de radiodifusores para que a faixa de 3,5GHz não seja vendida sem que a interferência não seja sanada. Com isso, Anatel e MCTIC buscam alternativas. Vitor Menezes, Secretário de Telecomunicações do MCTIC, disse na última semana que uma opção seria migrar os canais de TV que hoje ocupam a banda C para a frequência Ku, mais alta e livre que qualquer interferência da 5G. Isso exigiria esforço dos radiodifusores e a atualização do parque de parabólicas usadas para TVRO.

A Eutelsat, por sua vez, tem outra proposta: usar a banda C planejada. Neste caso, os canais que hoje estão na banda C seriam transferidos para os 4,5-4,8 GHz. “Vemos os estudos com bons olhos e achamos a solução cogitada por Vitor Menezes possível, mas há ainda essa terceira opção de usar a banda C planejada”, diz Rodrigo Campos, diretor geral da Eutelsat no Brasil.

Segundo ele, a migração exigiria a atualização das antenas parabólicas usadas para TV aberta no Brasil (assim como a migração para a banda Ku).

Mas haveria a vantagem de muitos canais de TV aberta já recorrerem à banda C planeja. O satélite Eutelsat 65º WestA retransmite, por exemplo, nove canais de afiliadas de grandes emissoras – entre as quais, Band, SBT, Record, TVE e Novo Tempo. A banda C planejada também é bem captada por antenas de 1,5 m, usadas em larga escala no Brasil.

Outra questão levantada por Campos é a liberação, nos próximos anos, de novas faixas de frequência para a 5G, o que poderia obrigar uma nova migração da TVRO. “Nos Estados Unidos, por exemplo, estuda-se liberar a faixa de 3,7-3,8 GHz para a 5G também”, diz. Áustria e Japão são países que cederam tais faixas para as operadoras móveis.

Vários satélites

Quando se fala de antena parabólica, surgem ao menos três problemas. A qualidade dos equipamentos, sua compatibilidade com a frequência desejada, e a direção para a qual está apontada.

Os relatório da Anatel identificou que a qualidade das parabólicas no Brasil é ruim: elas são pouco resistentes às intempéries. A compatibilidade de frequências também depende da parte eletrônica (LNBF) instalada na ponta dessas antenas. Se o dispositivo não for capaz converter um sinal de rádio em impulsos elétricos, que mais tarde serão convertidos em conteúdo pelo decodificador ligado à TV, o espectador não será capaz de sintonizar nenhuma programação.

Além disso, a antena precisa estar apontada para o satélite que carrega o canal desejado. Seria inviável exigir que o espectador mude a direção da antena a cada canal que deseja assistir, por serem irradiados de satélites diferentes.

Para a Eutelsat, de qualquer forma será preciso encontrar uma forma de atualizar as antenas, para que elas recebam o novo sinal em banda C planejada, ou alterar o kit para banda Ku, que é o mesmo usado na DTH. Quanto à necessidade de apontar as antenas para diferentes satélites, a saída seria criar áreas de cobertura dedicadas a cada operadora. Assim, o Centro-Oeste teria cobertura da Eutelsat, o Norte por outra empresa, o Sudeste por mais uma etc.

Estima-se que existam cerca de 15 milhões de residências que sintonizam a TVRO. Não se sabe, no entanto, qual o poder aquisitivo das famílias que moram nessas casas e se haveria necessidade de uma política pública para substituição das antenas.

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Rafael Bucco

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