Otimista com crescimento da banda larga, Corning mira ISPs
Fabricante de passivos para redes de fibra óptica e de cobre, a Corning já tem 160 anos. Começou como um indústria de vidro nos Estados Unidos, e hoje é uma das maiores produtoras de fibra óptica do planeta. No Brasil, vende principalmente para as operadoras de telecomunicações, que representam 80% do faturamento local.
Quanto a empresa vende, o diretor de marketing para as Américas da Corning, Ricardo Claro, não revela. No entanto ele garante que a empresa passou sem tropeços pela crise, embora algumas linhas de produto, como a relativa aos cabos de cobre, tenham sofrido retração nos últimos anos.
O fato tem relação com a forte tendência de mercado de migrar para a fibra óptica. Segundo ele, todos, dos grandes ao pequenos prestadores de serviços de telecomunicações, estão investindo em FTTH (fibra até a casa do usuário, pela sigla em inglês). Movimento que deve continuar forte até pelo menos 2020, e que vem acompanhado também da ligação em fibra do backbone, do backhaul e até mesmo de smallcells.
Particularmente, o Brasil, a seu ver, traz um fenômeno sem igual nas Américas, da proliferação de provedores regionais. Esse segmento praticamente inexistia há pouco mais de três anos para a Corning, e hoje já representa 20% do faturamento. Para crescer ainda mais, a empresa pretende investir em canais a fim de chegar aos lugares onde, de outra forma, não teria como chegar. Leia, abaixo, a entrevista que o Tele.Síntese fez com Ricardo Claro.
Tele.Síntese: Qual a tendência de mercado no setor em que a Corning atua, no Brasil e nas Américas?
Ricardo Claro, diretor de marketing da Corning para as Américas: As redes de cobre, par trançado, DSL, vão cada vez mais migrar para redes de fibra até a casa do cliente (FTTH). Ao mesmo tempo, as redes de fibra que eram limitadas a backbones e backhaul, já chegam também mais próximo da antena celular para oferecer um serviço 4G/5G. Então, a fibra vai chegando mais perto da ponta, seja numa rede fixa ou numa rede de celular.
Hoje se fala de densificação de redes. Com o aumento da banda larga no celular, precisa-se de redes em que das antenas às central sejam ligadas com fibra óptica, não só as antenas radiobases tradicionais. Com o aumento da banda, você precisa também adensar mais a cobertura das antenas, então se fala muito em smallcells, que vão ter que estar em cada quarteirão, em cada prédio, em áreas muito densas, e que também são alimentadas por fibra óptica.
Tele.Síntese: E vocês fornecem os cabos para essa rede mais densa?
Ricardo Claro: Nós fornecemos tudo o que seja conectividade, exceto pelas as partes ativas, então o equipamento que fica na central e o equipamento receptor que fica na ponta, cabos, distribuidores, conectores, emendas, junções.
Tele.Síntese: Onde as vendas estão boas?
Ricardo Claro: O mercado americano está muito aquecido. As grandes operadoras estão todas investindo em FTTH. Das operadoras de TV a cabo, mesmo aquelas que não estão levando fibra até o usuário, estão chegando com fibra mais perto, seja no armário, no nó, na entrada do prédio, com apenas a última milha acessada ainda com cabo coaxial. É uma migração normal, que a gente vê muito forte na América Latina e aqui no Brasil também.
Já é consenso entre as operadoras que ao se construir uma rede greenfield, uma rede em uma área nova, já é para fazer com fibra. O business case já fecha a conta, já fecha o case comercial. Mas lógico que as operadoras que já têm uma base instalada, uma rede de cobre ou uma rede coaxial, querem tirar o máximo dessa rede legada ainda. No entanto, quando você precisa criar novos casos de negócios para penetrar em novas cidades, em novas áreas, a fibra óptica já é a tecnologia escolhida.
É um movimento interessante porque começa com as grandes operadoras, mas os provedores regionais, os ISPs aqui do Brasil, começaram suas operações tradicionalmente com rádios WiFi. E agora já adotaram a fibra como a tecnologia principal. Por isso é um mercado muito aquecido.
Tele.Síntese: Qual é o campeão de vendas de vocês no Brasil?
Ricardo Claro: Hoje o nosso principal produtos são as caixas de acesso para redes FTTH. essas caixas são vendidas para as principais operadoras brasileiras. São basicamente planta externa, então elas são instaladas em ambientes externos, ou seja, postes, enterradas, subterrâneo. As caixas e os drops que conectam até o ponto final do usuário. Esse é o carro chefe da Corning no Brasil.
Tele.Síntese: Esse volume de vendas está destinado para quem? Para as grandes operadoras ou para os pequenos provedores?
Ricardo Claro: Ambos. Hoje ainda os nossos maiores clientes são as grandes operadoras, elas hoje representam até 80% do faturamento da Corning, mas o mercado de ISPs é um mercado tão grande quanto uma grande operadora no Brasil. Hoje ainda nós temos um foco muito grande com as operadoras mas temos uma infraestrutura através de redes de canais para atender também os provedores regionais.
Tele.Síntese: Vocês estão querendo aumentar as vendas para os provedores regionais?
Ricardo Claro: Perfeito.
Tele.Síntese: E se hoje ISPs são 20% das vendas, há três anos atrás não eram nada? Vocês estão conseguindo essa evolução ano a ano?
Ricardo Claro: Isso vem crescendo ano a ano, até mesmo pelo fato de que os provedores regionais, mais e mais, estão se qualificando e melhorando a qualidade dos produtos que eles instalam nas redes regionais. Muitos desses provedores já utilizam os mesmos produtos, a mesma tecnologia, que uma grande operadora utiliza.
Tele.Síntese: Essa tendência de crescimento dos provedores regionais se vê outros países? Isso acontece também na América latina, EUA?
Ricardo Claro: Isso é um fenômeno muito brasileiro. A Argentina tem um modelo chamado de cooperativas, que a gente consegue fazer um paralelo com isso, mas não acontece da mesma forma em outros países. No México ou nos EUA, você vê muito mais operadoras que a gente chama de Tier 2, regionais e maiores, como no caso a gente tinha uma GVT aqui. Então são menos operadores regionais.
Tele.Síntese: Qual o potencial? Se vocês estão aqui e estão pensando em aumentar para provedores regionais, significa que vocês acreditam que o mercado brasileiro possa expandir mais, apesar das operadoras estarem investindo menos…
Ricardo Claro: Não tenho dúvidas. Há três grandes drivers: o primeiro é o aumento dos projetos FTTH. Nós acompanhamos dois números que são a previsão de casas passadas com FTTH, onde a rede é construída e preparada para conectar o usuário; e número de novos usuários conectados. Essas duas tendências são crescentes, não só no Brasil mas para a América latina.
Tele.Síntese: Esses números são baseados em pesquisa do IPEA de que tem mais ou menos 10 milhões de casas para receber fibra?
Ricardo Claro: Isso. Temos também números internos, acompanhamos os números divulgados pela Fiber Broadband Association, que é uma associação global e também com um capítulo da América Latina, e tem a previsão de aproximadamente 5 milhões novas de casas conectadas até 2020 no Brasil, mais de 30 milhões de casas na América latina. É um número mágico.
O segundo driver da América latina são modelos crescentes de novas instalações de data centers. Esse é um mercado que a Corning atua muito forte. Hoje, os principais data centers mundiais têm produtos da Corning, e as principais empresas tem o hub de data center para América Latina focado aqui no Brasil. Então esse é um segundo driver para o mercado brasileiro.
Tele.Síntese: Então o data center é um mercado em expansão, cada vez mais data centers vindos para o Brasil?
Ricardo Claro: Cada vez mais data centers vindos para o Brasil e cada vez mais data centers instalados 100% com fibra óptica. O aumento de banda para o usuário final, o aumento de banda para o usuário na rede, gera a necessidade de aumento da capacidade no centro de dados e com isso você tem que preparar a sua rede de dados da mesmo forma que você prepara a sua rede externa, ou seja, conectividade com fibra óptica.
Tele.Síntese: Você esta vendo isso de fato? As empresas que estão deixando de mandar para os EUA e estão criando data centers aqui?
Ricardo Claro: Na verdade eles não deixam, eles replicam a infraestrutura. Então você cria uma infraestrutura de atendimento local. As grandes empresas que tradicionalmente tinham data centers somente fora estão trazendo para cá, não necessariamente uma substituição, mas um aumento da capacidade de processamento de dados.
Tele.Síntese: E o terceiro ponto?
Ricardo Claro: O terceiro ponto, que já é uma realidade em mercado mais desenvolvidos, como o mercado norte americano, que é o processo de densificação da rede para preparar para 5G. No Brasil se fala muito ainda de 4G, mas a nossa rede tem uma infraestrutura muito precária e oferece um serviço muito pobre ainda em 3G. À medida que essa rede for evoluindo para 4G, e com a tendência de 5G, todas as antenas e small cells vão necessariamente precisar ser conectados com fibra óptica. Esse é o terceiro driver para o aumento da demanda do mercado de fibra óptica.
Tele.Síntese: As operadoras pararam com os small cells em função da liberação dos 700 MHz, não?
Ricardo Claro: Acho que o principal advento do small cell vai acontecer com o 5G. O 5G requer que você tenha uma velocidade e taxa de transmissão mais alta, mas a cobertura é menor, e como a cobertura é menor, você precisa distribuir mais antenas. À medida que você distribui mais antenas, você precisa conectar mais essas antenas. Mas o 5G ainda não e uma realidade no Brasil. Você conecta radiobases com fibra óptica, mas a densificação desse serviço ainda não está no mesmo momento que em países desenvolvidos, como América do norte.
Tele.Síntese: Vocês sofreram impacto da crise?
Ricardo Claro: A receita no Brasil está crescendo ano a ano. Algumas linhas de produtos foram afetadas, mas a demanda por fibra óptica está crescente alavancou o crescimento da Corning no Brasil, como um todo. Esse ano a receita do fechamento do terceiro trimestre já é maior do que a receita do ano passado.
Tele.Síntese: Qual foi a linha de produto que sofreu?
Ricardo Claro: A linha de produto de conectividade de cobre não cresce tanto porque é um mercado que está mais focado na manutenção da rede existente. É uma linha de produto que ainda se vende muito no Brasil, porque a nossa rede é legada com base em DSL ou base coaxial. A nossa base instalada é muito grande, essas redes não crescem, mas ainda existe uma grande demanda para manutenção.
Tele.Síntese: A Corning tem P&D no Brasil?
Ricardo Claro: No Rio de Janeiro.
Tele.Síntese: Tem algo que vocês tenham desenvolvido especialmente para o mercado local?
Ricardo Claro: O portfólio é adaptado para o mercado brasileiro.
Tele.Síntese: Qual é a adequação?
Ricardo Claro: Requisitos de intempéries, de transmissão, atenuação, instalação de campo, adaptação do ambiente. Uma característica interessante nossa é que o drop do usuário tem que ser roteado em dutos que vão internos dentro das paredes e muitas vezes esses dutos estão congestionados. Por isso o drop precisa ter uma característica de flexibilidade maior do que um drop que é vendido nos EUA, que você passa por paredes drywall, que não tem conduítes. Então são características diferentes.
Tele.Síntese: Tem espaço para inovar em fibra óptica? O que a Corning vislumbra em curto ou médio prazo, em novas tecnologias?
Ricardo Claro: Tem. A fibra óptica é um meio de transmissão que a gente chama de “a prova de futuro”, então você não tem limitação de dados de transmissão pela fibra óptica. Mas é um meio muito sensível, precisa estar encapsulado de forma adequada. Hoje a Corning tem uma tecnologia chamada Clear Curve, que você consegue trabalhar com uma fibra, com o mesmo nível de flexibilidade que você trabalharia com um cabo de cobre, torcer, guiar, fazer curvas em 90°, 45°, sem perder as características ópticas. No centro de dados, no data center, é um ambiente aonde você precisa constantemente inovar. A medida que você coloca mais servidores juntos em uma mesma sala, você tem a necessidade de fazer a conexão de mais portas em um espaço mais reduzido, mais condensado. Aumentar a densidade, porém manter um gerenciamento de fibra óptica adequado, é uma área que a Corning trabalha com um desenvolvimento muito forte.
Tele.Síntese: Vocês prevêem investimentos no Brasil?
Ricardo Claro: Sim. Os usuários não param de aumentar a demanda por maiores velocidades e melhores serviços, então as operadoras continuam investindo na rede. Nós vemos que as operadoras continuam investindo, elas estão demonstrando isso pela ordem de redes que estão construindo e nós estamos acompanhando com investimento e crescimento para suportar esse crescimento das operadoras. Faremos expansão de linha de produção em 2018.