Os dados não são neutros. Quem vai cuidar de sua ética?

As empresas de TIC concordam que a democratização da IA e dos algorítimos não pode ser apenas decidida pelo mercado.

Barcelona – A medida em que a Inteligência Artificial (IA) passa a ser usada por todos os segmentos da economia, amplia-se a preocupação de diferentes agentes da sociedade moderna sobre a forma como a humanidade poderá se proteger dos perigos do avanço do racismo, homofobia, machismo ou qualquer outro tipo de preconceito.

Isso porque, afirmou Roger Taylor, presidente do Centro de Ética e Inovação da Grã Bretanha, ” os dados não são neutros. Todos os dados carregam um aspecto social em sua criação”. E as empresas de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) precisam saber como vão lidar com essa quetão.

Em debate sobre a democratização da Inteligência Artificial realizado durante o MWC19, os executivos presentes concordaram que essa proteção não poderá ficar apenas a critério do mercado, terá que ser regulada também pelos governos.

” Essa questão não pode ficar a critério de cada desenvolvedor”, admitiu Kriti Sharma, VP de AI (artificial inteligence) da Saga. Até porque, completou Daniela Braga, fundadora da DefinedCrowd, “a maioria dos desenvolvedores do setor são homens, que podem repassar visões próprias sobre as mulheres”, completou.

Impedir que sejam construídos algorítimos biológicos, ou bias, como são conhecidos no mundo dos países ricos,  deve ser o primeiro objetivo de qualquer empresa de tecnologia, alertou Beth Smith, gerente geral do Watson da IBM. ” As pessoas não podem ser excluídas de um emprego por causa do sexo ou raça, afirmou. Mas completou: como fazer com uma segurador que quer precificar o risco?”, argumentou, tendo em vista que um grande conjunto de novas habilidades estarão surgindo.

Para  Elena Fersman, diretora de pesquisa sobre IA da Ericsson, a ética sobre o uso do dados pessoais está além da tecnologia e dos negócios digitais.

Mas a quem caberá orientar essa questão. A OCDE – Organização  para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – está envolvida com a questão e chegou a lançar durante o evento em Barcelona uma ” Constituição Digital”, que traz importantes salvaguardas de proteção a privacidade dos dados pessoais.

Mas a pergunta que ainda não foi respondida é se esse ” Clube dos Ricos”, onde nem o Brasil, a quinta economia do mundo pode entrar, será aquele pode criar regras para toda a humanidade, com sua tão ampla diversidade?

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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