Oposição monta estratégia para evitar privatização dos Correios
Menos de um mês depois de haver autorizado o início de estudos para a privatização dos Correios, o presidente Jair Bolsonaro disse mais uma vez, ontem, 23, que deu sinal verde para a desestatização da empresa. A declaração ocorreu durante o café da manhã com jornalistas em Brasília. Mas não explicou como será feita a venda.
O presidente dos Correios, general Juarez Aparecido Cunha, no cargo desde novembro de 2018, já aceitou a ideia de abrir o capital da empresa, transformando a estatal em uma sociedade anônima. No início do mês, reuniu-se com o CEO do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, Eduardo Alcalay, para tratar do assunto. “Conforme anunciado, já iniciamos estudos para abertura de capital da empresa e esse encontro é mais um passo”, colocou no Twitter.
Oposição
O plano, no entanto, enfrentará resistência. No Congresso Nacional, a oposição reativou a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Correios, com 211 deputados e 3 senadores. Parlamentares do grupo aprovaram audiência pública para debater a privatização. Marcada para 5 de junho, será feita em conjunto pelas comissões de Legislação Participativa e do Trabalho, de Administração e Serviço Público. Foram chamados o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e o secretário de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar. Nenhum confirmou presença até o momento.
Os parlamentares também querem melhorar as contas dos Correios, que teve lucro de R$ 161 milhões em 2018, em vez de vender a empresa. Presidente da Frente Parlamentar e da Comissão de Legislação Participativa, o deputado Leonardo Monteiro (PT-MG), por exemplo, protocolou projeto de lei que cria um fundo, o Fusp, para financiar entregas em áreas isoladas, nos moldes do Fust da área de telecomunicações. O outro, do deputado e ex-ministro das Comunicações André Figueiredo (PDT-CE), estabelece preferência à empresa para todas entregas de correspondências e materiais do governo federal.
Entidades dos trabalhadores prometem greve, estudam ações judiciais e mostrar que haverá desemprego em massa, além do fim do serviço em regiões distantes do país com a venda da estatal. A intenção é deflagrar uma greve em junho. Segundo a presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Correios e Telégrafos (Sintecet) e diretora da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), Amanda Corsino, a privatização vai aumentar os preços e eliminar serviços em localidades remotas.
Quando
O líder do PSL na Câmara, o deputado federal Delegado Waldir (GO) diz que os obstáculos serão superados “porque os cidadãos tomaram consciência de que é preciso reduzir o tamanho do Estado brasileiro”. Ele acrescenta que a desestatização dos Correios faz parte das propostas de campanha defendidas por Bolsonaro e seus aliados.
Em nota, o Ministério da Economia justificou a necessidade do programa de desestatização e, em relação ao processo de desestatização dos Correios, afirmou que esse está na fase de discussão preliminar. “Assim que um plano for concluído, será submetido ao Conselho do Programa de Parcerias e Investimentos (CPPI) da Presidência da República”, informa.