OpenRAN pode reduzir custos e escancarar as portas do mercado móvel aos ISPs
O OpenRAN já é usado em alguns lugares do mundo, como no Peru, onde é a base do programa de universalização da banda larga Internet para Todos, ou no Japão, onde é o padrão por traz da novíssima rede 5G da operadora Rakuten. E o modelo de desagregação da rede de acesso móvel e virtualização dos serviços móveis reduz custos a ponto de facilitar a entrada de novos competidores no mercado celular. Ao menos é o que defenderam os participantes do painel “Os Benefícios do OpenRAN para os ISPs”, ocorrido nesta sexta, 11, durante o Inovatic.
Participaram da mesa Evair Gallardo, diretor de Tecnologia da Abranet; Giuseppe Marrara, diretor de relações governamentais da Cisco Brasil; José Otero, vice-presidente da 5G Americas na América Latina e no Caribe; e Martha Liliana Suárez Peñaloza, presidente da Dynamic Spectrum Alliance (DSA) Colômbia.
“O Open RAN pode reduzir o Opex [custo da operação] em até 40%. Isso é uma redução muito relevante. Viabilizaria o modelo de negócio diferente para os ISPs, viabilizaria a cobertura de novas áreas pelos incumbentes que já estão no mercado, viabilizaria parcerias novas”, resumiu Giuseppe Marrara, da Cisco.
Segundo ele, o custo cai porque boa parte dos equipamentos de uma rede OpenRAN é substituída por software e pode ser gerenciada em nuvem. Além disso, como se trata de uma padrão aberto, e não restrito aos desenvolvedores patenteados, permite que existam mais fornecedores. “Por ter um universo muito maior de vendors é natural que tenha mais competição e redução de preço também no Capex”, acredita.
Open RAN no Brasil
A confiança da Cisco no modelo é tão grande que a empresa faz parte de três entidades que defendem sua adoção mundo afora: a OpenRAN Policy Coalition, a O-RAN Alliance, e a mais nova do grupo, a OpenRAN Brasil, fundada este ano pela companhia, juntamente com CPQD, Qualcomm, Trópico, IBM, NEC, Nokia, Instituto Eldorado.
O grupo brasileiro tem por objetivos atuar junto ao governo para propor formas de incentivar o desenvolvimento do OpenRAN por aqui, não só através da adoção pelas operadoras e ISPs, mas também pelo fomento à academia e desenvolvedores de tecnologia.
O grupo recém-criado é aberto a outros interessados. E pretende incluir o OpenRAN de alguma forma nas próximas redes 5G brasileiras, que serão criadas a partir do próximo leilão de espectro da Anatel. “Seria uma pena se o debate do OpenRan não caminhasse tão rápido em um momento em que o Brasil está debatendo sua conectividade para os próximos 10 anos”, observou Marrara.
Legado vs. Novo
Segundo José Otero, da 5G Américas, o OpenRAN está se mostrando viável não apenas no 5G, mas também no 4G. A adoção de padrões abertos em novas redes LTE está sendo feita em diferentes países da América Latina.
“Temos trials [testes] acontecendo em diferentes países da América Latina. Foi anunciado um trial na Argentina. Agora mesmo foi anunciado um lançamento comercial no Peru, com o Internet para Todos. Temos o anúncio mês passado, que para março de 2022, na Colômbia, todo o desenvolvimento 4G de uma nova operadora será com OpenRAN. Tem teste em Porto Rico. Isso está em discussão em todos os países”, contou.
A seu ver, o 5G é mais lembrado por permitir a implantação de uma rede nova. É mais difícil adequar redes legadas ao OpenRAN. Mas há a possibilidade, observou, de as empresas já com redes 4G implantadas usar o padrão aberto nas áreas para onde ainda não têm presença.
“Se pensarmos nas grandes operadoras do Brasil, essas vão contemplar novas áreas ou onde estão desenvolvendo infraestrutura para a chegada do 5G nos próximos anos”, observou.
Desafio para os ISPs
Para Evair Gallardo, da Abranet, o OpenRAN abre oportunidade para os ISPs entrarem no segmento móvel por conta dos custos menores. Mas também vem carregado de desafios que precisam ser superados. Para entrar no segmento móvel, o provedor vai precisar de novos conhecimentos, obter licença da Anatel de SMP.
“O OpenRAN dá a oportunidade de operar em áreas menores com internet fixa, mas mesmo com esse modelo tem que ter a licença para operar frequência. Está se utilizando rádios OpenRAN para 700 MHz, e essa é uma frequência licenciada”, ressaltou.
Uma alternativa, lembrou, é usar espectro em caráter secundário, com aval do regulador. Mas neste caso há o risco de o incumbente solicitar a frequência de volta pouco tempo depois. “Outro desafio é a própria tecnologia. Hoje o ISPs está todo voltado à fibra. O móvel é outro tipo de negócio, vai ter outro tipo de instalação, vai ter que ter expertise de radiofrequência ou contratar isso de quem está vendendo, e fazer a integração com o sistema de bilhetagem, o core, toda a parte de registro dos SIM cards com o sistema de billing do ISPs. Mas o mais crítico é mesmo a assessoria que vai ser necessária junto à Anatel em termos de frequência”, elencou.