OCDE defende o uso de IA, blockchain e governo digital no combate à corrupção

Relatório de grupo que representa o setor privado na OCDE aponta soluções tecnológicas capazes de inibir o suborno e aumentar a transparência no setor público; Telefónica indica que vai seguir as recomendações
Relatório da OCDE aponta soluções tecnológicas para combater a corrupção
OCDE recomenda soluções tecnológicas para o combate à corrupção (crédito: Freepik)

Soluções de Inteligência Artificial (IA), blockchain, plataformas de dados abertos, identidades virtuais e governos digitais são armas para combater à corrupção na era digital, de acordo com um relatório divulgado pela Business at OECD (Negócios na OCDE), grupo que representa o setor privado na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O documento diz que a “onda de digitalização está varrendo todos os aspectos de nossas vidas diárias” e que soluções tecnológicas, das quais muitas tiveram uso reforçado durante a pandemia de covid-19, podem servir na “luta contra a corrupção e suborno” no setor público.

O relatório, intitulado “Stepping up the game: digital technologies for the promotion of the fight against corruption – a business perspective” (Desenvolvendo o jogo, tecnologias digitais para a promoção da luta contra a corrupção – uma perspectiva empresarial, em tradução livre), destaca a importância da adoção de governos digitais nesse sentido.

“Isso permite que os governos aumentem a transparência e a responsabilidade, reduzam a burocracia e encurtem interações entre funcionários de empresas e oficiais de governos, o que, por sua vez, reduz as oportunidades para a demanda e a oferta de suborno”, pontua.

O grupo também defende a adoção de plataformas de dados abertos (open data), as quais conferem mais transparência e facilitam a localização de potenciais atividades criminosas, e de denúncias, sobretudo com base em mecanismos de alto nível, permitindo que cidadãos denunciem irregularidades praticadas por funcionários públicos.

Na visão do grupo, a tecnologia blockchain, bastante utilizada no mercado de criptomoedas, também deve ser considerada na luta contra a corrupção, por oferecer rastreabilidade de dados. “Isso permite que alterações potencialmente prejudiciais sejam identificadas rapidamente”, afirma o relatório.

Ainda no setor público, soluções de IA são recomendadas para a prevenção de evasão fiscal e de sistemas de vigilância, prevenindo fraudes de forma mais eficaz. “Também é uma ferramenta essencial para ajudar as autoridades a melhorar suas capacidades de coleta e gerenciamento de dados”, diz trecho do relatório.

Por fim, o documento salienta que identidades digitais para cidadãos, residentes e companhias facilitam a verificação de indivíduos (due diligence de terceiros) em transações ou prestações de serviços, o que inibe as práticas corruptas.

Setor privado

No caso do setor privado, também com o objetivo de reduzir a corrupção, o relatório cita a importância da digitalização dos negócios e da adoção de plataformas de treinamento digitais com os objetivos de aprimorar programas de conformidade e os esforços anticorrupção nas organizações.

Além disso, o grupo sugere o uso de blockchain em sistemas de cadeia de suprimentos e, para reduzir o risco das operações, ferramentas de análise de dados com suporte de IA, big data e machine learning.

A Telefónica, que participa do Business at OECD, sinalizou que vai aderir às recomendações do relatório. A multinacional também destacou que, por atuar em diversos países, convive com a exposição ao risco de corrupção e eventuais danos que possam impactar os negócios.

“Temos um longo histórico de aplicação de processos de automatização em alguns dos elementos dos nosso programa anticorrupção, seja baseado na gestão do grupo, seja resultado de investimento direto em sistemas ad hoc para necessidades específicas”, afirmou a companhia espanhola.

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Eduardo Vasconcelos

Jornalista e Economista

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