Obrigações do leilão devem mirar serviço acessível, defende indústria

Para Ericsson, Nokia e Intel, obrigações em qualidade de serviço fazem mais sentido do que regra para uso de fibra em bakchaul no próximo certame. Cisco observa que infraestrutura sem fibra não atende padrão 5G.

Para os principais fornecedores de equipamentos de rede de telecomunicações e componentes do país, a Anatel deve rever sua proposta de obrigações para as empresas que adquirirem espectro no próximo leilão. A agência precisará levar em conta que as operadoras terão de arrematar a frequência e bancar o custo de limpeza ou mitigação de interferências no 3,5 GHz. E estabelecer metas de atendimento sem tecnologia adotada na infraestrutura.

Tanto Ericsson, quanto Nokia, defendem que cabe às operadoras decidirem a forma como deverão cumprir as obrigações de melhoria do backhaul. Pela minuta do edital da Anatel, a obrigação é de usar fibra óptica. Mas as fabricantes defendem que, dada a situação de crise econômica de tamanho ainda incerto, a agência deveria focar no cumprimento de metas de atendimento ao consumidor final, e não de adoção tecnológica.

“Ter fibra nas cidades é importante, mas eu deixaria a critério dos operadores. Tem que colocar KPIs para serem atingidos pelas empresas. A obrigação é prestar um serviço condizente com a experiência exigida pelo consumidor”, afirmou Eduardo Ricotta (imagem), presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina. Ele participou hoje, 18, da live Tudo Sobre 5G Indústria, realizada pelo Tele.Síntese.

O executivo lembra que, atualmente, cerca de 60% do backhaul das operadoras ainda usa o rádio. E ressalta que, dadas as dimensões do Brasil, a tecnologia é complementar à fibra. “Não colocaria que tem que ser obrigatoriamente fibra, porque começa a criar travas”, completou. A Ericsson é fabricante de equipamentos de microondas usados pelas empresas no backhaul.

Luiz Tonisi, diretor geral da Nokia no Brasil, tem a mesma posição. “A gente tem que deixar a iniciativa privada fazer o que é melhor para cada cidade, área, ou região. Tudo bem, a fibra é future proof, mas a gente tem que entender, principalmente nesse momento econômico, o que é viável”, afirmou. A Nokia também produz rádios.

Investimento tem que ser assegurado

Além do cenário de incerteza econômica, Tonisi ressalta que a agência deve tomar uma decisão que estimule os aportes na melhoria da rede. “Tem que garantir que sejam feitos investimentos. E investimentos que maximizem o serviço para a sociedade e o retorno para os operadoras”, acrescentou.

O diretor de políticas públicas da Intel Brasil, Emílio Loures, afirmou que o leilão prevê muitos ônus para as participantes. “Além das obrigações que estão lá, não podemos ter fora de perspectiva que o ônus em si do 3,5 GHz é pesado, tem que lidar com a interferência em TVRO”, ressaltou.

E lembrou que, embora a minuta preveja obrigações, os cálculos ainda não podem ser feitos justamente por conta das indefinições acerca dessa questão. “Não dá para dizer que [a obrigação em fibra] inviabiliza [investimentos] se ainda não temos noção dos números. Ideal é que a obrigação esteja na ponta, com o usuário. Quem é que oferece o serviço a um número maior por um preço mais acessível”, resumiu.

Pode ser backhaul, mas não 5G

Na Cisco, no entanto, acredita-se que a menção à fibra é importante. Giuseppe Marrara, diretor de políticas públicas da empresa no país, disse que não dá para se pensar em 5G dependendo de uma infraestrutura que não poderia entregar os altos requisitos de latência e capacidade do padrão.

“Existem requisitos mínimos de comunicação para que faça sentido ter o 5G. Se for ter gargalos grandes, sem a latência, sem a previsão de resistência a intempéries, não é possível. Não estou dizendo para não ter satélites na infraestrutura, mas tem requisitos que se deve levar muito a sério”, afirmou, após perguntado se o pleito das empresas do setor satelital, por uma tecnologia neutra no backhaul, pode ser atendido pela Anatel.

“Fora do ambiente fibra, latência e altíssima capacidade são coisas difíceis de se atingir, é o que tem que se levar em consideração”, finalizou.

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Rafael Bucco

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