O CEO da Claro Brasil abre o verbo

Para José Félix, presidente da Claro Brasil, que reúne Claro, Net e Embratel, 2018 tende a ser melhor que o ano anterior, mas o clima eleitoral traz um cenário de polarização que o preocupa. Mesmo assim, vê alguns sinais melhoria dos indicadores econômicos. Nesta entrevista ao Tele.Síntese, ele diz que é preciso buscar um novo modelo de negócios para expandir a rede de TV paga para cidade menores, avalia que a concentração do mercado na telefonia móvel seria salutar e comenta sobre as preferências do cliente.

Jose-Felix

O presidente da Claro Brasil, José Félix, diz que a expansão da rede da Net para cidades menores vai depender de se encontrar um modelo de negócios que viabilize o negócio. O modelo atual não se paga. Depende de um número grande de assinantes, e a renda média do brasileira baixa para o serviço de vídeo. Por isso mesmo, defende uma concentração dos prestadores de serviço.

Nesta entrevista ao Tele.Síntese, Félix conta ainda que gostaria de comprar, se lhe fosse oferecido, a base de clientes celulares da Oi; diz que seu grupo, que incluiu a Claro (celular), a Net ((TV paga e banda larga) e a Embratel (corporativo), não assinou nenhum Termo de Ajuste de Conduta em troca de multas, apenas avalia a possibilidade; critica o fato de o TAC da Telefônica incluir cidades onde atuam competidoras; e observa que o PLC 79, que transforma as concessões da telefonia fixa em autorizações em troca de investimentos e, banda larga pode ser um bom instrumento para destravar investimentos.

Embora temeroso em relação ao país e ao ano eleitoral frente ao clima de polarização, Félix se declara um eterno otimista quanto aos negócios. Entusiasmado com a evolução da rede e a campanha lançada pela Claro “4,5G, chegou a nova era da velocidade”, ele se diz pronto a enfrentar o que vem pela frente.

A seguir, trechos da entrevista:

Tele.Síntese – A Net não expandiu sua rede para uma nova cidade no ano passado. E 2018?
Felix – A gente está muito cauteloso na expansão de cidades. Já temos a maior parte da população coberta com banda larga. Para entrar em outras cidades, nós estamos estudando um modo diferente, com outro modelo de negócio, porque esse modelo de negócio não se sustenta em cidades pequenas, com poucas casas.

Tele.Síntese – Qual é esse modelo de negócio?
Felix – Estamos testando alguns pilotos, algumas alternativas para ver se a gente consegue baratear a entrada, baratear esse rede, porque o problema é que hoje ela não se paga, precisa de muito volume de gente. Eu sou um defensor de que é necessário uma fusão maior. Eu acho que precisa uma consolidação do mercado. Não tem espaço para tanto competidor.

Tele.Síntese – Você fala fusão das operadoras de celular?
Felix – De qualquer coisa.

Tele.Síntese – Por que?
Felix – É muito simples. O baixo retorno que o negócio está trazendo é de domínio público. Ninguém está muito a fim de arriscar porque não tem um prêmio para esse risco. É o  problema do Brasil. Há uma desigualdade muito grande, o poder aquisitivo do brasileiro é muito baixo. Você vê o americano e compara com o nosso, é chocante.  A gente recebe em real, pode cobrar pouco, pois o brasileiro já paga com grande esforço e a gente tem que  fazer toda a infraestrutura, que demanda uma modernização constante, que é toda em dólar. E ainda paga impostos tanto na importação como na operação. É um problema. As empresas precisam de mais volume. Hoje tem uma empresa com 18% de participação no mercado, a outra 25%, outra 30%, outra 50%. A que tem 50%  não consegue respirar.

Tele.Síntese – Vocês já fecharam o TAC?
Félix – Nós não temos TAC.

Tele.Síntese – Vocês têm algo entre R$ 300 milhões a R$ 500 milhões em multas. Vão preferir pagá-las?
Félix – O negócio do TAC é muito complexo.  Temos interesse, entretanto é preciso analisar com cautela as condições. Não temos TAC nenhum.

Tele.Síntese – Eu pensei que estivessem negociando.
Félix – Não, existe um TAC modelo, o feito para a Telefônica é um. Eu não sei de onde o pessoal do jurídico regulatório tira as regras. Deve ter  um documento escrito com as regras. Eu já ouvi umas três aulas sobre essas regras e sempre tem o lado bom e o lado ruim das coisas. Nesse caso, estou deixando as equipes montarem, desmontarem, tentarem e retentarem. Mas não tem absolutamente nada encaminhado.

Tele.Síntese – Mas não tem um prazo? Não tem problema de que as multas podem começar a  expirar?
Félix – É melhor perder um bom negócio do que fazer um mau negócio.

Tele.Síntese – Você, como competidor do mercado, acha que a solução da Oi está resolvida?
Felix – Na verdade, não entendi a pergunta.

Tele.Síntese – Ao resolver a dívida da Oi, você fica mais tranquilo em relação ao setor de telecom brasileiro?
Felix – Mas resolver a dívida, eles não resolveram. Só tem uma aprovação lá de uma assembleia. A situação da empresa, não adianta só resolver a dívida, tem que resolver um monte de outras coisas, tem que capitalizar a empresa. Eu sinceramente estou no mesmo ponto que estava há meses. Estou esperando para  ver.

Tele.Síntese – Você tem algum receio de que a rede [da Oi] se deteriore a ponto de prejudicar vocês?
Felix – Não. Começa que a gente não depende muito deles. Já fizemos esse levantamento e não existe uma dependência muito séria. O que existe são grandes iniciativas de colaboração. Eu mesmo fiquei surpreso como nessa coisa de infraestrutura, as empresas são um tanto quanto democráticas e isentas. Elas até se cobram e brigam entre si, mas ninguém fica segurando uma fibra que tem, que poderia dar de backup para um cara em Manaus, para “ralar” o cara você não dá. Realmente existe muito compartilhamento. Eu fiquei até surpreso na medida em que comecei a ver por aí. Tirando os grandes centros, são redes muito complementares. A Oi tem muita milha, muita casa conectada e nós não temos isso.

Tele.Síntese – Esse é o ativo mais importante dela?
Felix – Eu acho que o ativo mais importante da Oi é a rede móvel.

Tele.Síntese – A melhor coisa da Oi é a frequência que está desocupada.
Felix – Nem pensando na frequência, mas no cliente móvel.

Tele.Síntese – Em relação ao PLC 79, você acha que ele foi enterrado? Ainda tem algum sentido mudar a lei, mudar a concessão? Isso está na pauta de vocês?
Felix – Eu até achei que a gente tinha que trabalhar contra e fui convencido pelo pessoal do ministério e das secretarias que era um negócio bacana. Aqui, internamente, também se achou que tem alguns benefícios. Um benefício bacana é essa coisa de separar as empresas. Hoje, você depende de várias empresas e fica com uma parafernália. Dizem que com essa PL, esse arranjo passa a ser uma autorização, então você separa e perde sentido essa coisa da concessão. Tudo é feito hoje, toda essa parafernália, para isolar a concessão. Hoje, eu já trabalho a favor, tanto é que quando o [ministro] Kassab cogitou fazer a reunião com o [senador] Eunício, me pediram para convidar alguns empresários e eu levei vários. Mas serviu para ver como a política brasileira funciona, ou seja, como não funciona.

Tele.Síntese – Como você analisa as diferentes estratégias das empresas de telecom para entrar na área de conteúdo, como o movimento da AT&T de comprar Time Warner?
Felix – Toda vez que [as teles] se meteram a comprar broadcast, a entrar no mundo do conteúdo, de fato, perderam valor na bolsa e as que investiram na sua infraestrutura, no seu negócio, ganharam valor na bolsa. Quem se meteu no conteúdo está apanhando em um mundo extremamente competitivo. Eu acho complexo, acho que tem que estudar bem, não dá para se aventurar. Acho que a América Móvil, com a Claro vídeo está de bom tamanho, estou falando em nível de Brasil. Nós estamos muito bem com a Claro vídeo e já viramos líderes mundiais da América Movil em volume do Claro música.

Hoje, quando você compra um pós da Claro, ele já vem com o Claro Música, já vem com um monte de coisas no plano, o próprio Claro Vídeo. Você sabe que o Brasil é uma beleza. É inacreditável como o brasileiro consegue fazer o que faz. O Brasil tem muita gente e muita necessidade. No Brasil, se você não atrapalhar, ele vai. As pessoas demandam serviços e coisas. Somos os primeiros no mundo da América Movil por isso. Nós somos muito grandes.

Tele.Síntese – Sei, mas se juntar todos [os países] da América Latina dá o Brasil. E mesmo assim vocês já são líderes.
Felix – Tem o México também. Lá eles são líderes absolutos.

Tele.Síntese – Mas estão concorrendo com AT&T.
Felix – Estão, mas o pior já passou, já reestruturaram margem. A briga foi muito acirrada.

Tele.Síntese – Até porque teve muita intervenção regulatória, não é?
Felix – Muita. Um negócio meio maluco.

Tele. Síntese – Este ano a Claro mantém os investimentos? Porque, no ano passado, a Claro reduziu, não foi?.
Felix – Na verdade, no Brasil aumentei R$ 1,3 bilhão. Mas nos faltou capacidade de lançar produtos que tínhamos disponíveis. Mão de obra, material, essas coisas normais de logística. Porque você não consegue fazer um up da noite para o dia.

Tele.Síntese – Vocês são o único grupo que não vendeu a infraestrutura de antenas. Por que? Isso vai ser mantido?
Felix – Eu me preocupei com isso. Achava que podia ganhar alguns pontos de margem se eu vendesse. Peguei o financeiro, as atuais donas de infraestrutura de torres, prováveis interessados e estudei bastante o assunto. Teve uma hora em que eu estava convencido de que tínhamos que vender tudo. E não é um ponto tão pacífico.

Tele.Síntese – Qual a desvantagem? Tem um Opex muito alto?
Felix – Não. Você passa a aumentar o teu Opex, então a tendência é diminuir o teu Ebitda. Hoje você tem um negócio, gasta com manutenção, mas não paga aluguel, então vai passar a pagar aluguel e aí começam as teorias, como fulano fez e melhorou? O nosso financeiro estudou todas as hipóteses, mas não teve nenhum tipo de entusiasmo da minha parte. O entusiasmo foi só teórico por desconhecimento. É complexo. Hoje, a gente já usa bastante. Eu, por exemplo, já meio que proibi internamente da gente construir torres. E também não tenho nenhum dogma. Cada caso é um caso.

Tele.Síntese – Você vê alguma chance de o grupo comprar alguma ativo este ano? Nesse mercado tem Nextel, só?
Felix – Tem quem? Nextel? Acho que a Nextel não vai mais ser vendida. A Nextel já esteve oficialmente à venda e nós nos interessamos. Na época, o interesse do acionista era muito fora daquilo que a gente achava que valia. Depois disso, eu também abandonei. Nem sei como eles andam. Então não há mais interesse na Nextel.

Tele.Síntese – E não tem mais nada no mercado há não ser a Oi.
Felix – Tem a Oi.

Tele.Síntese – Você fala de celular?
Felix – De qualquer coisa.

Tele.Síntese – Você acha que essas grandes ou médias que estão chegando poderão afetar outros ramos de negócios de vocês? Ouvi falar que a Globo está montando um modelo de streaming?
Felix – Eles já anunciaram.

Tele.Síntese – Isso é ruim para vocês? Porque vocês sempre foram parceiros.
Felix – Eu acho que a Globo tem muito a perder nessa história.

Tele.Síntese – Você entendeu esse modelo? Eu acho que é um modelo HBO. Não é um modelo Netflix.
Felix – Eu não sei. Eu entendi, em algum momento, que seria uma oferta com vários canais, por exemplo, uma oferta com Globosat, Globo, Viva, Rádios. Me incomoda se for isso.

Tele.Síntese – Competidor direto?
Felix – Diretíssimo. Me incomoda. Eu verbalizei esse incômodo e disseram que o modelo é outro. Porque o cara vai lá, cobra pouco lá, então o que vai acontecer? O assinante vai embora e eu pago um montão. De sucesso mesmo até agora não teve ninguém.

Tele.Síntese – O Netflix já está dando uma receita importante.
Felix – Eu conheço a margem do Netflix. É muito pequena. E tem a vantagem de ser mundial, tem a escala mundial, porque o que o Netflix tem é muita gente.

Tele.Síntese – Mas por outro lado, o 99Taxi vai ser vendido por R$ 1 bilhão. Um app de celular.
Felix – Sei lá se é um preço justo ou se faz sentido. O cara que comprou tem que fazer esse 1 bilhão ser pago. A Netflix tem um orçamento bilionário e aumentou mais ainda para conteúdo, não exatamente porque ela queira. É porque ela precisa. Então justificou para o mercado e o mercado está apostando.

Tele.Síntese – A América Movil anunciou, no ano passado, a compra de vários direitos das Olimpíadas lá fora. Aqui no Brasil vocês não se mexeram. Por que?
Felix – Primeiro, nem passa na minha cabeça. Eu acho que com essa lei que existe, me mandaram tirar do ar o canalzinho de uns coitados de uns estudantes, o Net Cidade. Tinha mais de 500 voluntários no Brasil.

Tele.Síntese – Por que tiraram?
Felix – Por causa da nova lei.

Tele.Síntese – Por que acharam que era você que estava vendendo conteúdo, é isso?
Felix – Isso! Eu ainda tive que agradecer por não ser trucidado.

Tele.Síntese – Vocês não compraram aqui por causa da lei, mas podiam ter ido pela internet, porque a internet não é TV, não tem nada a ver com a lei.
Felix – Na internet nós temos. Temos o Claro Vídeo. Mas nem passou na minha cabeça. Imagina, eu com 36 canais da Globosat, Olimpíadas 24 horas, eu ia fazer o que com internet? Só ia gastar dinheiro e ninguém ia assistir.

Tele.Síntese – E para a Copa do Mundo vocês também não compraram streaming?
Felix – Nada. Estamos absolutamente aderentes às parcerias que a gente tem desse negócio de conteúdo e à legislação, que dividiu bem essa coisa. Os nossos planos não passam disso.

Tele.Síntese – Então, você esta animado este ano?
Felix – Estou sempre animado. Minha visão das coisas sempre é muito pra frente, pelo menos nesse mundo de negócios. Visão de Brasil, eu estou cada vez mais preocupado. Sinceramente essa questão das eleições deixa a gente um pouco receoso. A gente conhece o Brasil mas as opiniões são muito divergente, porque no fundo eu acho que ninguém pode assegurar nada. Mas do ponto de vista de negócios, minha expectativa mais psicológica, a gente está motivado, a gente acha que 2018 será um ano melhor do que 2017, que foi muito difícil.

Tele.Síntese –Você percebe a recuperação da economia?
Felix – Eu acho que dá para notar isso na móvel. A móvel aparentemente nesses grandes eventos, Natal, dia das mães, black friday, se nota claramente que 2017 já foi muito melhor que 2016 e tudo leva a crer que 2018 será melhor que 2017. Então, eu pessoalmente enxergo a recuperação da economia por este lado. No mais, é aquilo que já falamos, no que se refere às outras indústrias elas são unânimes em dizer que a recuperação está acontecendo. O que o setor passa, no fundo, é por uma grande transformação e com uma mudança de hábito muito importante. Aquele nosso negócio tradicional está mudando e a gente tem que achar maneiras de substituir essas receitas tradicionais por novas receitas, mas tem que ter habilidade para fazer isso. Nesse sentido, estamos bem posicionadas, temos boas perspectivas e estamos conseguindo. O que eu falo sobre receita tradicional? Voz fixa, longa distância, que é uma coisa super importante para nós e continua sendo importante.

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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